terça-feira

A petró-soberania das arábias e a luta pela sobrevivência de Sócrates

Sócrates poderá ter muita formação política e partidária, e tem, até começou a sua carreira na JSD, mas tem escassa formação politológica e sociológica, e como é engenheiro de formação, dizem, e não tem muito tempo para ler, só deve conhecer o que sobre esse tema central da CP Jean Bodin escreveu no séc. XVI, nada mais. Isto faz com que todas as suas referências e correlações intelectuais sejam histórica e conceptualmente pobres.
Mas centremo-nos, primeiro, na questão semântica: é óbvio que o PM não se confessa em matéria de verdade política para não enfraquecer ainda mais a posição do Estado português em matéria de equilíbrio de finanças públicas, por isso desmente, ou relativisa a questão da venda da dívida pública (que está no mercado, diz ele, e está, mas mais cara!!) e centra-se nas demais questões, renovavéis e assuntos conexos.
Aqui ainda cabem alguns "actos falhados" do MNE, o ingénuo e monocórdico Luís Amado - que, apesar de já ter feito mais do que Freitas do Amaral, jamais terá o seu estatuto - dentro e fora do Governo. Portanto, Sócas foi aos "orientes" reclamar por IDE, e se conseguir vender dívida soberana, tanto melhor. Não sei onde reside o segredo ou o mistério do ponto e por que razão alguns jornalistas de boa formação socioeconómica, como José Gomes Ferreira da Sic, se mostram surpresos com este esconder com rabo de fora. É tão óbvio que nem valia a pena perguntar.
Isto até me evoca aquela estória da freira que às 3 da madrugada é chamada ao gabinete do bispo para esclarecer uma questão de gestão interna e de interpretação doutrinária. Ao que uma irmão lhe terá dito: "vai lavadinha, não vá o bispo querer algo mais..."
Portanto, em matéria de gestão dos assuntos de Estado, Sócrates fez bem em manter a questão em regime secreto: se for bem sucedido, poderá anunciar urbi et orbi esse activo; se, ao invés, for mal sucedido, e a questão, entretanto, se tenha tornado pública, será esmagado pelo coro de críticas por parte dos partidos da oposição, especialmente em contexto eleitoral, e pela generalidade da sociedade civil, que já nem o pode ver pelo uso e abuso da carga fiscal com que cruxificou os portugueses.
É por isso que Sócas quer sigilo absoluto nestas negociações com os árabes. Porventura, o psd de Passos Coelho se fosse poder faria exactamente o mesmo em semelhantes circunstâncias, daí não entender o coro de protestos e de incompreensões em relação a esta matéria sensível. Apenas ignorância e falta de cultura histórica por parte dos jornalistas, e de alguns salta-pocinhas que pululam nas redes sociais, alguns até com falsas identidades, pode estar na origem desta aparente surpresa.
Em matéria de soberania, convém esclarecer que ela hoje já assumiu outras dimensões além do núcleo que lhe deu origem, teorizada por Bodin no séc. XVI. Ela comporta uma dimensão de legalidade internacional, de soberania de Westphalia, de soberania interna e de interdependência - esta última componente tem sido intensificada com a nossa integração nos chamados grandes espaços, de que a adesão à então CEE (em 1986) foi um marco histórico.
Já se percebeu, há muito, que Sócrates está a tentar sobreviver neste mar revolto, em que o casco do barco já começou a meter água, os ventos são nocivos e os tripulantes, por vezes, falam de mais, como Luís Amado. Mas nesta aproximação aos árabes, donos de petróleo e de gas natural, quero crer que Sócas, estará a exercitar duas daquelas 4 componentes da soberania: a soberania doméstica e a interdependência.
Ou seja, os resultados das políticas públicas internas em Portugal serão aquilo que Sócas conseguir angariar em matéria de Investimentos Estrangeiro Directo para Portugal. Se for bem sucedido nessa captação de IDE, ele estará em melhores condições de passar a regular os fluxos de informação política, económica e financeira dentro e fora de Portugal, especialmente ao nível europeu, ficando, assim, também menos dependente da Alemanha de Merkel ou da França de Sarkosy, bem como dos ameaços da entrada do FMI no burgo e da activação do FE da UE, e é na libertação desse "sequestro" temporário da velhina soberania de Bodin (por referência à claudicante economia nacional) - que o PM estará a dar tudo por tudo, seja por Portugal, seja pela manutenção do seu próprio futuro político que está, obviamente, ameaçado.
Não deixa de ser curioso, que sejam os chineses e, doravante, os árabes, aqueles que virão em socorro duma das mais velhas potências do Velho Continente, e uma das primeiras nações a zarpar para África, e aí fazer colónias, e o último império a cair marcando, com isso, também o fim do chamado Euromundo e da Era gâmica que teve início com a gesta dos Descobrimentos.

Etiquetas: