sexta-feira

Struggle for Power nos partidos em Portugal

Nós, no Ocidente, somos educados para querermos ser os primeiros. Criámos o Euromundo, fizemos impérios, gerimos colónias, explorámos territórios, pessoas e recursos que não nos pertenciam. Fizé-mo-lo ao abrigo do tal direito histórico, quem chegasse primeiro ganhava, assentava arraiais e explorava tudo e todos. Esse tempo já lá vai, as lutas pelas independências levaram à queda dos impérios e as velhas metrópoles, antes capitais de grandes impérios, como foi Lisboa, regressaram às velhas fronteiras naturais, mas ficou-nos o modelo político de actuação, assente em ser o primeiro, em termos grandeza, poder, influência, dinheiro e até autoridade. É lógico que essas características foram alimentar ódios, invejas e ressentimentos por parte daqueles que nos serviram.
Se transpusermos esta lógica para a luta de poder no seio dos partidos, verificamos que os mecanismos de condicionamento do poder não são muito diversos. Há alguém que lidera, e há aqueles que seguem o líder, há, pois, leadership e followers, mas ocorre um momento em que essa confiança se quebra e a liderança é contestada, porque os que estão de fora entendem que o líder já não é líder, já não lidera, só empata e prejudica. Esse é o momento de afirmação feito de lutas internas, de lutas fratricidas, de que o PSD é, historicamente, um prodígio. O PS, por razões históricas, ideológicas e até geracionais, menos. Embora hoje possa estar mais exposto a essas ironias da história.
Ora, Portugal está hoje encalacrado em todos os aspectos. Seja pela conjuntura internacional, seja por erros crassos de políticas públicas. Com a agravante de que a Europa que integramos de pouco nos vale, temos de recorrer à China, a Timor (meu Deus!!), a África – através daquelas exportações maradas que a nossa diplomacia faz para o Magreb e também para a Venezuela, com sacrifícios da nossa civilização de valores e de princípios. Na prática, a nossa diplomacia económica é um anão. Isto causa vertigens na liderança e nos dirigentes partidários que não se revêem no líder. É assim que começa a contestação interna na vida dos partidos. É a época em que abre a caça...
Tó Zé Seguro perfila-se como potencial líder no PS, mas, de facto, as suas características pessoais dificilmente o impõem ao partido; César dos Açores será tanto aceite como líder como se um dia Alberto da Madeira tentasse ser líder nacional do PSD no “Contenente”. Estes dois comezinhos exemplos revelam a tremenda falta de líderes no PS que possam suceder a Sócrates. Temos, naturalmente, a reserva d’ ouro, António Costa, mas esse está afecto à capital, e se ele for de palavra terá de cumprir o seu mandato até ao seu termo. Apesar de sabemos o que tem sucedido com Sampaio, que jurou cumprir o mandato até ao fim, e depois arranjou uma justificação sobrenatural que foi ao encontro das suas ambições pessoais e políticas. Outros farão exactamente o mesmo, by the book.
Quer isto dizer que somos e fomos treinados para ganhar, para atingir a excelência num dado empreendimento, e isso implica vencer todos aqueles que – dentro e fora do partido – se opõem ao novo candidato a líder. Sendo que o prémio reside naquele que se destaca da multidão e recebe o prémio da vitória.
Esta tem sido a leitura ocidental dominante da ideia de captura do poder, até mesmo antes do momento em que Júlio César proferiu a sua famosa frase – Veni, vidi, vici (Cheguei, vi e venci).
Hoje, sejamos sérios, não existe ninguém com estaleca dentro do PS, livre de compromissos eleitorais, que consiga preencher esse modelo de vitória competitiva tão predominante na vida contemporânea. No PSD a escolha de PPCoelho foi um mal menor, pois ideias e projectos alternativos para o país – o actual psd também nada de novo apresenta, a não ser pequenas adaptações, mais privatizações e, claro, menos Estado – esquecendo-se que foi com Cavaco que o monstro do Estado e do défice começou a inchar desalmadamente. As clientelas políticas massificaram-se entre 1985/95, e os governos que se sucederam agravaram esse monstro que ajuda a ganhar eleições.
Queremos ser líderes, queremos ser os melhores, queremos dominar, reclamamos a excelência, mas quando se afere os projectos que subjazem a esses desejos e ambições sente-se um amargo de boca e só apetece fugir. O problema é que não sabemos para onde.
O melhor mesmo, se calhar, é arranjar um "BMW sem pneu sobressalente" e ser feliz à moda do chico esperto lusitano que, em tempos, conseguiu enganar uns papalvos. Ainda por cima, sem qualquer legitimidade popular para o exercício do cargo que manchou num semestre, e depois foi corrido por Belém.