Os "trunfos" do poeta Manuel Alegre: a sua veia à Bloco Esquerda
Sempre entendi que o ex-deputado Manuel Alegre, que sempre viveu do mecenato político, não tem perfil, experiência e estatuto para alcançar o cadeirão do Palácio Rosa. Pela sua formação, pela sua prestação nos últimos anos à República e por uma visão demasiado romântica da vida e da política. Sonho e utopia são necessárias, mas com limites, sabemos bem quais são os resultados do excesso de romantismo na vida pessoal, profissional e política.
O pior é quando as emoções tomam conta das racionalizações. Já para não falar da extrema dificuldade que Alegre tem em dissertar sobre cada uma das áreas da governação ou desafios que se colocam a Portugal neste 1º quartel do séc. XXI. Só não diz muitas asneiras seguidas quando lê um paper.
Doravante, o poeta tenta relançar a sua débil candidatura à boleia de dois sindicalistas: Carvalho da Silva da CGTP, de inspiração e controle comunista, e de João Proença, da UGT de alinhamento socialista. Ambos agendaram uma greve conjunta para este mês como forma de protestar contra este OE2011 e, assim, paralisar o país. Será uma demonstração de força à qual o poeta Alegre, à falta de melhor se irá associar, na linha, aliás, da sua veia bloquista que durante 2 anos desenvolveu de braço dado com Anacleto Louçã pelas ruelas da capital, conspirando contra o PS e o PM em funções. Os mesmos que hoje, hipócritamente, o apoiam.
Lamentavelmente, no hemiciclo da AR não se lhe conhece a iniciativa de nenhum projecto-lei que interesse a Portugal. Alegre não faz política, conspira como, de resto, muitos dos homens da sua geração fizeram, até pelo facto de terem vivido intensamente o fascismo. Muitos deles ainda falam baixinho na praça pública, esquecendo-se que o velho "Botas" já marchou!!!
Será esta a tática de Alegre para demover Cavaco de Belém!? O que, vistas bem as coisas, não poderá representar tática mais suicida. Porque será essa a imagem que ele dará ao país do que fará caso um dia, some day..., venha a ser PR, o que jamais sucederá, naturalmente!!! Mas a sê-lo, os portugueses passariam a ter um PR que, na ânsia de agradar a gregos e a troianos pactuaria com greves, com encerramentos de estradas, de linhas de caminho-de-ferro, de pontes e o mais. Tudo seria justificável, desde que servisse as técnicas de paralisia do país pelo sindicalismo mais contestatário que em períodos de crise social desponta. Teríamos aos sábados um Alegre sindicalista, aos domingos um Alegre mais institucionalista. Esta dualidade e ambivalência na sua personalidade política é-lhe fatal. Por outro, quer o desfecho conhecido das negociações do OE entre as duas delegações, quer os resultados das sondagens - que empurram os PS para os 26%, conferindo uma maioria absoluta ao PSD caso as eleições legislativas decorressem agora, são maus prenúncios para a tática de Alegre e para tudo aquilo que ele representa, que é, em rigor, duas coisas: luta contra o salazarismo, e esse é um activo histórico que lhe pertence; e ter sido membro fundador do PS, portanto um histórico de um dos dois maiores partidos políticos em Portugal, talvez por isso tenha vivido do mecenato político desde o 25 de Abril até ao presente.
Alegre tem um selo político terrível no seu ADN, que é o de ser apoiado, primeiramente, pelo BE e só depois, a contragosto, por algum PS. Esta circunstância limita substancialmente a base de apoio sociológico ao poeta, tornando-o refém do partido mais anti-sistema em Portugal.
Por estas razões, Alegre é hoje um homem sitiado, é como se ele estivesse a meio da ponte, em que numa das extremidades estaria o BE a agitar bandeiras juntamente com o sindicalismo mais activo e contestatário, na outra estaria um PS apagado que só fragmentáriamente o apoiou, sendo que milhares de socialistas irão votar Cavaco para Belém, as usual.
Tenho para mim que nem uma poesia inspirada, que é, em rigor, aquilo que Alegre sabe fazer - poemas - o salvará daquela ponte rodeada de jacarés mais abaixo, que irão apresentar a factura política ao PS por ter apoiado um dos piores candidatos disponível no mercado político na área da esquerda em Portugal.
Mas isto é só uma opinião.
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