terça-feira

Recuperar Miguel de Cervantes e Oliveira Martins. O mundo está perigoso

O que talvez mais impressiona o observador da realidade nacional é a vulnerabilidade e dependência crescentes da nossa economia, das nossas finanças públicas, da nossa classe média, no nosso tecido produtivo (industrial e, mormente, o agrícola, já para não falar da nossa marinha mercante), enfim, da reconhecida incapacidade em o nosso escol dirigente encontrar propostas e soluções que nos permitam sair rapidamente desta situação de dependência e de empobrecimento galopante relativamente aos nossos parceiros europeus.
Se olharmos para dentro de nós, e com excepções raras do nosso meio empresarial, das Letras e da nossa C&T - facilmente concluímos, na linha de Miguel de Cervantes, que pertencemos a esta nação mais infeliz que prudente, e sobre a qual caiu, nestes últimos tempos, uma chuva de infortúnios. No tempo de Oliveira Martins, e do seu Portugal Contemporâneo, a Inglaterra ainda nos aguentava, protegendo-nos duma Espanha em desordem, expansionista e gulosa.
Hoje, ao invés, ninguém nos defende. Nem a Europa que integramos.
Internamente, estamos cercados de incompetência, erros e omissões, além do esbanjamento dum Estado gordo e adiposo que dificilmente se mexe; de fora conhecemos as opções do FMI, o que torna o enxovalho ainda maior ao orgulho nacional, além das privações serem mais humilhantes e já sem as promessas de eficácia de 1983, v.q., o Estado já não pode manipular os instrumentos de política cambial e desvalorização de moeda a fim de coadjuvar a economia nacional. A globalização comeu todos esses expedientes político-administrativos que outrora faziam do Estado um estratego.
Hoje, esse mesmo Estado não tem alma, não tem força, não tem influência até para mandar calar um Comissário ignorante que nem o inglês básico consegue falar e pronunciar, por isso fala aos zigues-zagues...
Isto empurra-nos para um outro drama: o do sentido da nossa História. Somos uma nação quase milenar, temos uma língua que ligou continentes, povos e mercadorias nessa 1ª leva de globalização feita da Gesta das Navegações, mas nem por isso escapamos aos ditames bruxelenses. Tudo por causa da desordem das nossas finanças públicas, razão que também levou António de Oliveira Salazar, o velho "Botas", a pegar no país em 1926 para o largar 40 anos depois.
É triste compreender isto: é lastimável perceber que já fomos grandes, hoje apenas uma sombra do que fomos. A conclusão a que posso chegar é que somos hoje uma nação doente, sem ideias, sem projectos, sem elites, com alguns mitos, mas com escassos objectivos que nos revelem o paraíso. Tornámo-nos, portanto, numa sociedade acéfala, com uma classe política venal, com elites anquilosadas e burocratizadas. Razões de sobra que nos tornam presa fácil de especuladores, agências de rating, do FMI e o mais.
Somos hoje uma presa fácil do sistema internacional, qualquer perturbação doméstica justifica a presença e o controleirismo da OIs. E assim quem quererá pegar nesta nave de loucos que oscila num mar de tempestade!?
Eis a imagem que me assaltou o espírito quando vi os líderes dos dois principais sindicatos nacionais, a CGTP (carvalho da Silva) e a UGT (João Proença) a mendigar uma reunião na Praça de Londres.
Porra, há limites para tudo!!!
Tive ainda a sensação que a "carpideira de serviço", seguramente conhecida dos últimos andares do edifício mandado construir por Gonçalves Proença, esteve à beira de esbofetear os dois sindicalistas.
Dantes, ao tempo de Oliveira Martins, e do seu Portugal Contemporâneo (1895), que será um livro a reler, ainda se podia dizer que a nossa independência ou salvação repousava na existência das colónias ultramarinas e no seu valor económico para a metrópole, a fim de melhorar as condições nacionais, ainda que à custa das populações indígenas, que escassa consciência tinham do seu valor social. Nem a civilização estava ainda preparada para as libertar das grilhetas em que viviam.
Hoje temos a Europa do Comissário Olli Rehn a soletrar aquele inglês trauliteiro e de doca e o "cherne" Barroso, que foi um dos piores primeiro-ministros de Portugal, depois de santana Lopes, a dizer à nação portuguesa o que ela deve fazer e que ele, barroso, foi incapaz de cumprir. Não tem, por isso, moral para abrir a bocarra, além de conduzir a Europa para o declínio, o que dá ainda pior fama a Portugal na Europa.
O mundo está, de facto, perigoso!!
____________________________________________________
Dire Straits - Money For Nothing (Live) Feat. Sting & Co.

Kate Bush & David Gilmour - Running up that Hill - Live SPB

Etiquetas: , , ,