sexta-feira

Escrutínios - por António Vitorino -

Escrutínios, dn
Confesso que gosto de futebol. Provavelmente não tanto quanto a média nacional, mas sempre que uma transmissão televisiva coincide com os meus tempos livres marco presença. Este ano não posso queixar- -me, até porque o clube da minha preferência pôs termo a um longo período de seca!
Mas reconheço que, durante o Mundial de Futebol na África do Sul, fiz os possíveis (e, às vezes, até os impossíveis!) para ver o maior número de jogos. E não dou por mal empregue o tempo que lhes dediquei.
Claro que permanece ainda o amargo de boca da eliminação de Portugal, a que assisti… no aeroporto de Madrid, no único plasma sintonizado no jogo, rodeado, está bem de ver, por uma pequena multidão de viajantes adeptos da equipa vencedora.
Mas no seu cômputo global este Mundial foi um momento alto sob vários pontos de vista.
Não me assiste qualquer autoridade para o comentar do ponto de vista técnico, mas assumindo a pele do espectador interessado vi jogos agradáveis, técnicas e tácticas muito diferenciadas e um escol de jogadores que, na diversidade das suas características pessoais, me impressionaram. E isto tanto nas equipas ganhadoras como nas perdedoras nas várias fases, provando que o talento se reparte pelos vários continentes, por diferentes cores de pele e por muito distintos estilos de jogo. Foi a vitória da diversidade e da criatividade humana acima de tudo.
O vencedor pareceu-me justo. Perdoada a eliminação de Portugal, a Espanha mereceu ganhar este campeonato! Um torneio que reservou os três primeiros lugares para equipas europeias, parecendo assim, nos tempos que correm, onde a Europa surge no plano inclinado nos principais indicadores de futuro, que o futebol ainda é um dos sectores em que os europeus dão cartas! Mesmo que, nalguns casos, com a ajuda de pessoas oriundas de outras proveniências que adoptaram a nacionalidade que hoje representam! A ligação entre imigração e futebol é, pois, das mais íntimas e virtuosas.
A final teve momentos extremos de emoção mas também de divertimento. O golo da vitória foi marcado por um típico herói improvável, que provou que para se ser bom jogador não é preciso dar-se ares de vedeta. Uma lição de humildade que a muitos outros ficaria bem!
Divertido mesmo foi ver na televisão, por diversas vezes, a palidez da rainha de Espanha e do príncipe herdeiro da Holanda, ladeando o Presidente Zuma da África do Sul, um e outro tentando manter a cordialidade recíproca e uma certa imagem de serenidade aristocrática no meio da peleja sem quartel que se desenrolava nas quatro linhas. No ano em que, entre nós, comemoramos o centésimo aniversário da República, resta, ao menos, aos nossos monárquicos a consolação de que as equipas finalistas eram oriundas de duas monarquias! Deve ser por isso que se chama ao futebol desporto-rei e não propriamente desporto-presidente!
O país organizador pode orgulhar-se deste Mundial, o primeiro realizado em África. Após um começo conturbado, muito condicionado pela imagem de violência e criminalidade que muitas vezes nos é dada da África do Sul (incluindo um roubo de que foram vítimas jornalistas portugueses), a verdade é que ele se desenrolou na maior das normalidades e com grande proficiência organizativa e que os sul-africanos provaram estar à altura do desafio, dando assim uma perspectiva da África do Sul como um país moderno e eficaz. Em tempos de mudança do eixo de gravidade dos vários poderes mundiais haverá que contar com ela cada vez mais.
Mas o meu fascínio por este Mundial ficou sobretudo a dever- -se à própria cobertura televisiva. Magistral! Confesso que não me lembro de ter visto desafios de futebol tão bem filmados, cada lance analisado de vários ângulos, com a preocupação de permitir ao espectador conciliar a beleza do espectáculo com o escrutínio do esforço e da habilidade dos jogadores e… o bem fundado das decisões dos árbitros! Só uma tal cobertura teria permitido obrigar o guarda-redes alemão a confessar que tinha mesmo consciência de ter tirado a bola para além da linha de golo e rapidamente para disfarçar… Enganou o árbitro, mas não nos enganou a nós graças às imagens televisivas!
Obs: Foi pena que o poder dessas imagens não tenha servido para convencer o árbitro no jogo Portugal-Espanha em que D. Villa, creio, estava numa posição fora-de-jogo quando marcou o único golo da partida, ainda assim este Mundial serviu de lição para muita gente no meio do futebol, incluindo jogadores, técnicos e dirigentes. Oxalá cada um saiba extrair as devidas ilações.
___________________________________________________________ in Naturalmente:

Começou esta semana o roadshow das 21 candidaturas que se encontram a votação para a eleição das “7 Maravilhas Naturais de Portugal”. Todos os locais vão ter cobertura televisiva através da RTP1, a televisão oficial desta iniciativa, que vai estar em directo dos vários locais e mostrar as suas maravilhosas paisagens. Aqui fica o calendário para poderem acompanhar: 12 Julho - Paisagem Vulcânica do Pico 13 Julho- PN Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina 14 Julho - Vale Glaciar do Zêzere 15 Julho - Pontal da Carrapateira 16 Julho - PN Peneda Gerês 19 Julho - Lagoa do Fogo 21 Julho - Lagoa das Sete Cidades 22 Julho - Vale do Douro 23 Julho - Mata do Buçaco 26 Julho - Porto Santo 28 Julho - Berlengas 30 Julho - PN Arrábida 16 Agosto - Furna do Enxofre 18 Agosto - Grutas de Mira D’Aire 20 Agosto - Portas do Ródão 23 Agosto - Floresta Laurissilva - Património da Humanidade 24 Agosto - Paisagem Cultural de Sintra - Património da Humanidade 25 Agosto - Ria Formosa 30 Agosto - Algar do Carvão 01 Setembro - Portinho da Arrábida 03 Setembro - Ponta de Sagres Tags: maravilhas, roadshow

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