terça-feira

PSD desafiado a avançar com moção de censura

PSD desafiado a avançar com moção de censura por EVA CABRAL
Aliança de esquerda salvará Sócrates mesmo com o endividamento que bloqueia Portugal, avisam especialistas convidados pelos sociais-democratas para analisar o País.
O alto nível de endividamento foi diagnosticado como o principal constrangimento ao Portugal de 2010 pelo painel de economistas e sociólogos que foram ontem oradores convidados nas jornadas parlamentares do PSD.
É neste cenário que globalmente admitem a necessidade de se cortar nos salários e pensões para que o País possa retomar competitividade. Mas, por muito que a economia condicione a evolução política e o descontentamento dos portugueses há quem avise que, no Parlamento, existe "uma frente de esquerda em torno da candidatura de Alegre que salvaria o PS numa eventualidade de moção de censura".
O PSD ouviu ontem durante mais de quatro horas um sociólogo e três economistas que avaliaram a situação política e económica num momento que todos assumem ser de particular dificuldade. Manuel Villaverde Cabral, docente universitário, assumiu a grande provocação da sessão ao advogar que PSD deveria apresentar uma moção de censura ao Governo de Sócrates, para assim denunciar a "frente popular" que existe em torno das presidenciais por parte do PS, PCP e BE. Muito crítico para Cavaco Silva, o sociólogo considerou que o actual Presidente tem "apoiado demasiado o Governo" e assumiu que a corrida a Belém está longe de estar decidida.
Villaverde Cabral chamou a atenção para o problema de sustentabilidade das reformas. Defendeu mesmo um limite às pensões retrospectivamente (ou seja, retroactivamente) e lembrou que, em Espanha, este limite é de 3000 euros brutos.
Ernâni Lopes e Campos e Cunha traçaram um retrato muito negativo de Portugal. A primeira década do século XXI foi "perdida e esvaziada" considerou mesmo Ernâni Lopes. Já Campos e Cunha afastou um cenário de saída do euro e disse esperar que um relativo crescimento económico se concretize para que o País possa começar a sair da crise. Deixou sérios alertas sobre a banca e mostrou-se preocupado com o efeito de rumores como os que nos últimos dias afectaram o BCP.
Seria, no entanto, na defesa de um novo sistema político que o ex-ministro de Sócrates mais espantou os deputados laranja. Campos e Cunha defendeu a possibilidade de a direcção dos partidos designarem alguns - "um ou dois" - que assim deixariam de ser eleitos na sua totalidade e poderiam variar quando os partidos mudam de liderança. Defendeu a "representação ao voto em branco" na Assembleia que passaria a ter um número variável consoante a proporção desses votos.
Quanto à remuneração da função política, Campos e Cunha também tem ideias claras: cada político receberia mais 25% da média ponderada dos seus três últimos IRS. Na frente da economia alertou a que a simultaneidade da consolidação orçamental em vários países pode agravar a crise.
O último orador Vítor Bento disse não partilhar da opinião de que os diagnósticos estão feitos. Defendeu que um dos problemas graves foi a desvalorização da balança de pagamentos.
Obs: Voilá, o ensaio geral para a preparação teórica da moção de censura ao governo. Veremos se PPCoelho tem paciência para esperar até às presidenciais, ou se ataca uns meses depois desse acto político.

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