terça-feira

Rever o séc. XX através das poderosas lentes de Henri Cartier-Bresson

  • Um homem de excepção que faz a diferença:
Nascido em 1908, desaparecido 96 anos mais tarde, Henri Cartier-Bresson foi das poucas pessoas que puderam testemunhar a passagem de um dos séculos mais importantes da História. Mas não fosse ele um dos chamados "pais" da fotografia moderna e talvez esse facto tivesse sido pouco relevante. "Henri Cartier-Bresson: The Modern Century", a retrospectiva que o Museum of Modern Art (MoMA), de Nova Iorque, acolhe até ao próximo dia 28, omostra justamente como os dois, Cartier-Bresson e o século XX, caminharam lado a lado. (...)
Estudar o mundo
A partir de 1947, Cartier-Bresson deu sequência às suas primeiras viagens de antes da guerra, tornando-se num "funcionário artista" em permanente deslocação. A fotografia era o seu modo de viagem e a viagem era o seu modo de vida; como objecto, interessava-lhe o Homem e a sua intervenção na paisagem. Uma atitude original dentro de um mundo ainda colonial e assente em supremacias civilizacionais, caracterizada pelo estudo atempado da realidade e pelo respeito por quem é fotografado. No fundo, a aceitação precoce de um interesse na verdade multicultural da humanidade. Galassi fala desta sensibilidade específica do fotógrafo: "O mais extraordinário no trabalho de Cartier-Bresson é toda a sua amplitude geográfica e histórica. É o único fotógrafo em que isso é verdade: vemos o mundo tal como era antes da revolução industrial, e que ele adorava tanto". O comissário evoca, como exemplo, as fotografias tiradas em Portugal (na Nazaré, em 1955): "A fotografia dos pescadores portugueses com as redes de pesca poderia ter sido feita há centenas de anos atrás. Esse mundo não tinha realmente desaparecido, apesar de o trabalho dele também entrar pelo nosso mundo da tecnologia e do mercado. É essa a amplitude extraordinária do seu trabalho."
O interesse de Cartier-Bresson pelas diferentes civilizações, assim como o desejo de assimilação dos seus diferentes modos de vida, resultam num retrato honesto dos povos, despojado de dramatização ou de artifícios. Tal como os seus primeiros trabalhos, as imagens do pós-guerra são marcadas por um respeito igualitário pelos seus intervenientes. Para Cartier-Bresson, nenhum assunto e nenhuma pessoa estava abaixo do seu interesse. "Temos aqui um europeu branco de uma classe confortável que vai dar uma volta ao mundo. Podemos dizer que isso é a personificação de uma atitude colonial, mas podemos também dizer que é o desafio de ver o mundo como um conjunto de culturas muito diferentes, e de as apreciar, assimilar e respeitar", nota o comissário.
O instinto do fotógrafo levou-o ainda a estar presente em vários momentos decisivos desses outros mundos, nomeadamente no funeral de Gandhi na Índia, cujas imagens foram as únicas que o Ocidente recebeu. Nesses anos, Cartier-Bresson explorou ainda vários países da Ásia: o Paquistão, o Sri Lanka, a Indonésia, a Singapura e a China (a sua estadia de quatros meses em 1958 resultou no trabalho "The Great Leap Forward", o retrato da industrialização chinesa de Mao, presente na exposição). Tornou-se igualmente no primeiro ocidental a fazer um retrato fotográfico do povo da União Soviética após a morte de Estaline em 1953, abrindo o olhar da Europa para um mundo que chegava apenas como mito aos ouvidos do resto do continente. Um retrato que não se diferenciava, afinal, assim tanto da imagem daqueles que o viam do outro lado. Cartier-Bresson iria contrapor essas imagens com várias outras de muitas viagens aos Estados Unidos, o país estrangeiro que mais visitou, estabelecendo, assim, um verdadeiro retrato comparativo do empenho físico e laboral do mundo comunista e da ordem corporativa do Ocidente capitalista: o mundo enquanto ele acontecia.(...)
É útil visitar o MoMa

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