segunda-feira

A multidão do Marquês de Pombal e a vitória do Benfica

É curioso notar que as vitórias do Glorioso escapam para a Praça Marquês de Pombal, inaugurada em 1934, alí entre a Av. da Liberdade e o Parque Eduardo VII. A paixão dos adeptos e simpatisantes parece colher alí a experiência dum Novo Iluminismo, sendo certo que a imagem, no topo da coluna, do Marquês pousada num leão, símbolo do poder, bem poderia hoje ser substituída pela águia, esse animal que faz altos vôos e tem uma visão panorârica do que se passa. Quando o Benfica ganha, coisa rara nos últimos anos, dada a grande mobilidade vencedora dos outros clubes, com predominância para o FCP, esta máxima encontra fundamento, quando perde sobrevém o paradoxo dos tempos que é ver um grande clube a perder. Mas não deixa de impressionar que as pessoas procurem aquele lugar, tipificado por uma imagem forte de reformas políticas, educacionais e agrícolas que contribuíram fortemente para o progresso e desenvolvimento do país para expressar a sua paixão clubistica. Uma paixão que não perde energia com a crise económica e social que tolhe Portugal e a Europa, dessa forma até se pode ler aquelas manifestações colectivas, profundamente apaixonadas e emocionadas, como uma compensação pelos desaires do quotidiano, pelos queixumes da vida, pela desorientação dos indivíduos, pela ingovernabilidade dos sistemas sociais, pelas crises de sentido e de relevância para as coisas que verdadeiramente importam na vida. Confesso que ainda não percebi se estas explosões colectivas de alegria e de contentamento multitudinária e de origem clubística são provenientes duma explosão de expectativas relativamente ao futuro, que alí são anunciadas ao país, ou uma perda de rosto que as sociedades nestes momentos, e enquadradas por toneladas de emoções e de paixão, não conseguem ocultar. Por momentos pensei que a pós-modernidade nacional estava presa pelo fio de reconhecimento em torno do Marquês de Pombal, não esquecendo a forma como governou o país, ainda que possamos também ler naquelas manifestações indicações duma sociedade (benfiquista) que se representa a si própria e constrói a sua unidade à medida em que vai sendo derrotada e vai ganhando os seus troféus e animando as hostes. Se fosse possível a Sebastaião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, vivenciar o que alí se passa em dia de vitória do Glorioso acabaria por cair da estátua ou, em alternativa, reclamar que, doravante, o leãosinho fosse substituído pelos altos vôos da águia triunfante que, volvidos cinco anos de fome e de miséria, acabou por saciar as paixões dos seus adeptos e simpatisantes, agora já sem aquela piscina natural para dar uns mergulhos em dia de festa... É o progresso!!! Sendo que estas vitórias ocorrem no momento em que o Sr. ministro das finanças admitiu ontem que o Governo poderá aumentar os impostos no quadro dos esforços assumidos ao nível da União Europeia (UE) para acelerar o processo de redução do défice orçamental. É para melhorar a receita, do Estado, bem entendido... É para isso que as vitórias do Benfica (também) servem: fazer-nos esquecer do resto...

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