segunda-feira

Nação Arco-Íris teme um novo conflito racial

Nação Arco-Íris teme um novo conflito racial - dn, por PATRÍCIA VIEGAS
Morte de líder da extrema-direita inflama tensões entre brancos e negros.
As autoridades sul-africanas temem que o país esteja à beira de um novo conflito racial, a pouco mais de dois meses do início do Mundial de Futebol.
O clima de tensão agudizou-se no país depois de o controverso líder de um partido extremista branco ter sido assassinado à machadada por dois empregados negros. A versão oficial refere que Eugene Terre'Blanche foi morto no sábado na sua fazenda de Ventersdorp após disputas salariais com os funcionários. A do Movimento de Resistência Africânder (AWB) diz que a acção foi motivada pelo slogan "morte ao boer", que consta de uma música zulu ultimamente promovida por Julius Malema, o líder da juventude do Congresso Nacional Africano (ANC).
"É uma declaração de guerra. Vamos avisar essas nações [presentes no Mundial 2010] que estão a mandar as suas selecções para uma terra de assassínios. Não o façam se não tiverem protecção suficiente para elas. Decidiremos que acções tomar para vingar a morte de Terre'Blanche", declarou o secretário-geral da AWB, André Visagie, citado pelas agências. Aos 69 anos, Terre'Blanche continuava a defender o regime racista do apartheid, que acabou na década de 90. Esteve preso por tentar matar um guarda negro e há pouco tempo indicou que tencionava ir propor à ONU a criação de um Estado africânder. "Morte a Malema!", gritava ontem um dos muitos apoiantes brancos que foram expressar o seu pesar e a sua revolta em frente à fazenda do homem que escolheu para bandeira do partido uma cruz semelhante à suástica nazi.
O Presidente da África do Sul e líder do ANC, partido no poder e histórico da luta anti-apartheid, lamentou a morte e apelou "a todos os sul-africanos que não permitam aos agentes provocadores aproveitarem-se da situação para incitar ao ódio racial". Jacob Zuma pediu respeito pela lei e avisou que "ninguém pode fazer justiça pelas suas próprias mãos", segundo o jornal Mail & Guardian. As autoridades sul-africanas detiveram entretanto dois suspeitos: um com 21 anos e outro de apenas 15.
Também a presidente da província do Cabo Ocidental e líder do maior partido da oposição no país, Aliança Democrática, sublinhou que o assassínio de Terre'Blanche veio inflamar a tensão racial na África do Sul. Helen Zille, citada pelas agências, lembrou que "agora, mais do que nunca, devemos resistir à polarização racial e continuar a construir um espaço intermédio não racial de pessoas que querem um futuro pacífico e próspero para todos".
A Nação Arco-Íris, um país onde brancos e negros poderiam conviver em paz e sem rancor, idealizado por Nelson Mandela, parece ter entrado nos últimos anos em estado de regressão, até muito por causa das lutas fratricidas dentro do próprio ANC. Aquilo que o líder histórico da luta anti-apartheid e primeiro presidente negro da África do Sul tanto tempo lutou por conseguir, está agora a ser de certa forma ignorado por novas gerações. E Malema é o rosto que sempre aparece a pôr em causa tudo o que Mandela preconizou e conquistou.
O líder da juventude do ANC, com apenas 29 anos, tem promovidos nos últimos meses a canção Ayesaba Amagwala, que em zulu significa "Os Cobardes têm Medo". Nessa canção há uma parte que diz "morte ao boer". O Supremo Tribunal de Pretória considerou que o hino da altura do apartheid é "um discurso de ódio" e proibiu Malema de o entoar em público. Este resolveu desafiar a ordem judicial, cantando "morte ao boer", no sábado, no Zimbabwe. Aí foi recebido por dirigentes do partido de Robert Mugabe, que também cantaram o tema em sua honra.
Obs: A África do Sul é um país rico, mas regrediu de novo ao tempo das lutas raciais que, com esta morte em vésperas do Mundial, vem instabilizar o Continente, a organização do Mundial e chamar a atenção dos media globais para a relação entre brancos e negros no país mais desenvolvido do continente africano, que mostra aqui que nenhuma lição aprendeu com as décadas de prisão de Mandela nem, depois, com o seu exercício (integracionista) do poder. Eis o regresso aos métodos e técnicas do colonialismo mais bárbaro, seja de brancos contra nergros, seja o inverso. A consequência imediata deste assassínio a Terre Blanche será, seguramente, o cancelamento do Mundial de Futebol.

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