quinta-feira

Paulo Pedroso feliz por não ser deputado com este PEC

Num texto que escreveu anteontem no seu blogue (bancocorrido.blogspot.com) intitulado "Eu até queria simpatizar com o PEC [Programa de Estabilidade e Crescimento]", Paulo Pedroso afirma taxativamente: "Hoje sinto-me verdadeiramente feliz por não ter sido candidato a deputado nesta legislatura". É desta forma, aliás, que termina o texto no qual se insurge contra a decisão do Governo do PS de introduzir um tecto de despesa nas prestações sociais não contributivas.Público
"Eu queria simpatizar com o PEC, mas não consigo depois de me confrontar com a frieza do quadro da página 6 onde são apresentadas as facturas que ele implica para 2011, 2012 e 2013". Afirmando que não tem nenhum "problema ideológico" com as privatizações, o ex-ministro socialista diz que "tem muitas reservas no lote das empresas a privatizar de serviços cuja privatização já deu desastres noutros países, como os correios na Alemanha ou os transportes ferroviários no Reino Unido". Apesar disso, sublinha que "concederia neste ponto sem esforço excessivo".
Em total sintonia com Pedro Adão e Silva, outro militante conotado com a ala esquerda do PS, que, num texto que escreveu no seu blogue (lexico-familiar.blogspot.com), considera "chocante o plafonamento da despesa com o rendimento mínimo previsto no PEC", Paulo Pedroso explica que o tecto de despesa nas prestações sociais não contributivas que o Governo quer introduzir significa que, "quando ele estiver esgotado, quem quer receber, por exemplo, o subsídio social de desemprego ou o complemento solidário para idosos, apesar de ter direito à prestação, não o receberá". Pedroso detém-se depois na questão das despesas com os mais pobres, que, revela, vão diminuir em 200 milhões de euros entre 2011 e 2013, dos quais 30 milhões serão no RSI. Sobre os outros 170 milhões, questiona por que não se evidencia onde estão.
"Estigma é estigma e quem escolheu este símbolo no PEC fez uma escolha clara sobre como quer tratá-lo", refere ainda Paulo Pedroso, que não se conforma com o facto de a "factura dos pobres ser tão pesada" em plena crise económica e em situação de risco de crise social. "Não consigo aceitar, nem por nada". E parte para um ataque final: "Repare-se que, em 2011, o Estado vai buscar mais aos pobres do que ao adiamento das infra-estruturas, e que vai, afinal, e para minha surpresa, buscar a estas prestações mais do que à famosa nova taxa de IRS de 45 por cento".
Obs: O PS privatiza, vende anéis e dedos, rebenta com as deduções sociais às famílias portuguesas mais carenciadas, faz um brilherete em Bruxelas, Teixeira dos Santos recebe elogios envolto em abraços, e, no final, Sócrates perde as eleições. Eis o desfecho deste PEC. Até já João Cravinho diz que Portas dá lições de esquerda à actual liderança do PS. De facto, vivemos num país estranho feito de estranhas coisas.