segunda-feira

A nova informação pós-Congresso de Mafra

Existe hoje a tese segundo a qual a informação já não é suficientemente tratada em função da exactidão dos factos, mas em função do efeito que pode produzir junto da opinião pública que, por sua vez, se desmultiplica em inúmeros segmentos: elites, decisores, alta, média e baixa administração pública e demais sectores da sociedade civil...
Ora, o animado e mineralizado Congresso do PSD realizado em Mafra no passado fim-de-semana, composto por aqueles 3 (+ 1) candidato, não comportando uma receita verdadeiramente desenvolvimentista para o país, conseguiu, contudo, galvanizar boa parte dos militantes e simpatizantes do psd que estavam desavindos com a fraca liderança de Manuela Ferreira leite, talvez o pior acidente político que aconteceu ao partido fundado por Sá Carneiro.
Rangel mais agressivo e mais incisivo nas questões económicas e financeiras; Aguiar-Branco mais institucional e Passos Coelho tentando fazer a síntese falando já directamente para o PM em funções, pedindo-lhe até que aguente a discussão do PEC mais 15 dias de modo a que esse importante documento para as nossas finanças públicas e para a vitalidade da nossa economia possa beneficiar das "grandes" ideias de Pedro Passos Coelho, o virtual vencedor do XXXII Congresso do PSD em Mafra, mesmo sem o apoio do principal chantagista interno do partido que é Al berto joão Jardim.
Mas a tónica que queria colocar nestas notas é, precisamente, a circunstância de a informação de que dispomos ser imensa, mas é pouco precisa e rigorosa, uma confusão que se adensa mais com a mistificação que se faz entre informação e opinião.
E sem esse dever de imparcialidade, de competência e de sentido de responsabilidade dos homens da comunicação (comentadores, analistas e jornalistas) a sociedade não consegue identificar contra-poderes credíveis ao próprio Poder em funções, pois achamos logo que os jornalistas ou estão do contra ou, ao invés, são actores mediáticos “comprados” pelo poder em funções que lhes deu uma cenoura qualquer para os elogiar publicamente e que, por essa razão, a sociedade olha hoje para a sociedade e não a vê como um espaço transparente, livre e independente.
Por isso, achei que o XXXII Congresso do PSD em Mafra veio trazer ao país novos desafios: mediáticos, políticos e de natureza económica e social. De resto, qualquer pessoa que hoje pudesse suceder a presidente vigente constitui já um activo para o partido da Lapa, que tem vocação de poder, e para o conjunto da sociedade.
E se podermos eleger este congresso laranja como aquele que privilegia a qualidade da informação como um valor (mais) rigoroso e preciso a fornecer à sociedade, e não como uma mercadoria traficada para obter um ganho, isso já constitui uma vantagem inestimável para a nossa sociedade, ainda que saibamos que Portugal não sai do poço em que mergulhou por mais ou menos Estado-espectáculo, por mais ou menos congresso, por mais ou menos retórica política neste Inverno perigoso e manipulador que nos tem assolado.
Ou seja, se nenhum dado ou receita política estrondosamente objectiva saíu daquele congresso como indiciador de que Portugal irá beneficiar de um suplemento d' alma a curto prazo, pelo menos alguns portugueses ficaram com uma nova percepção acerca do maior partido da oposição em Portugal. E isso já é alguma coisa...