sábado

O fingimento e a mentira em política no congresso do psd

Há quem tenha sido educado a dizer a verdade desde sempre. Tenho para mim que honesty is the best policy. Hoje ao visionar algumas das intervenções dos candidatos à liderança do psd vi toneladas de mentira disfarçadas de falsos elogios. Em inúmeros casos foi lamentável, só para não dizer que me causou alguns vómitos. Dou alguns exemplos, ainda que sabendo que a política é (também) feita dessa massa e atravessa todos os partidos: ver Passos Coelho elogiar Ferreira Leite foi tão comovente quanto surreal; ver Pedro Santana Lopes subscrever cavaco para Belém, depois de o desancar sobre o artigo do Expresso, foi também uma coisa do outro mundo; ver todos procurarem dar-se bem com Al berto joão jardim, embora não seja fácil negociar com o maior chantagista da república, foi um acto miserável que mitiga medo e cobardia política. Todos procuram o aval de Al berto da Madeira para beneficiar dos votos que ele sindicaliza e telecomanda. É a política no seu pior. De resto, lembremo-nos do que Jaime gama em tempos chamou ao dito Al berto e depois confira-se os elogios que lhe proferiu...
Marques Mendes fez um discurso mais sério, ainda que com o peso de várias derrotas e humilhações que sofreu de Sócrates no hemiciclo por perder todos os debates parlamentares. As derrotas políticas deixam sempre mossas. Marcelo, procurou assassinar politicamente Sócrates e os seus colaboradores mais próximos, basta ver a formulação do seu enunciado.
É lamentável constatar que a política se faça de doses tonelares de mentira, dissimulação e fingimento. É um péssimo exemplo para as futuras gerações. Mas lá estavam os jotinhas sabujos a aprender a mentir com os mais velhos, para depois replicarem esses mesmos mecanismos reprodutores da mentira, e serão eles os governantes de amanhã. Os mesmos que aprenderam na escola do Passos coelho, do Rangel, do Marcelo e por aí fora. Tudo por causa dos votos, primeiro para ganhar o partido, depois para ganhar o país, mesmo que isso não se traduza em mais e melhor desenvolvimento.
Aliás, a ciência da mais ampla usança em política é a arte do fingimento. Mas quando se começa a luta pelo poder interno a mentir, elogiando Manuela Ferreira leite a torto e a direito, que foi a pior líder do psd destes trinta e tal anos de democracia, é um mau augúrio. Não se compreende por que razão Pedro Passos Coelho, por exemplo, que fez um eficiente take-of no seu discurso, depois recorreu à mentira e ao fingimento. Elogiando quem detestava. Será só por causa dos votos?! Para ser cavalheiro?! Infelizmente, a arte da mentira é atemporal e universal, e cada tempo, cada época conhece sempre os seus intrujões.
Estes salamaleques impedem os líderes de ver a verdade e de corrigir os erros que perpetuam esses desvios, mas como Passos Coelho elogiou em público quem passou a vida a criticar nestes últimos dois anos, e compreende-se, importa dizer que a arte da mentira política é, de facto, a arte de fazer crer ao povo falsidades salutares, com determinado bom fim.
Ao ouvir parte daqueles falsos elogios, que são da praxe, mas que poderiam ser limitados no caso de Ferreira leite - que foi a verdadeira coveira deste psd, pensei que o povo não tem direito nenhum à verdade política. Assim como o zé povinho não deve possuir bens, valores, terras, acções ou castelos, ficámos hoje todos a saber que o povo do psd, segundo os oradores candidatos à liderança do partido e ao lugar de PM, também não têm direito à verdade.
E isso é assim por uma razão simples: essa verdade, como tudo na vida, é sempre propriedade privada, só certas pessoas, por umas certas qualidades, a podem dizer, e são essas mesmas pessoas que também a devem calar ou mascará-la.
Para aqueles oradores o povo é gelo ante as verdades, e fogo diante das mentiras. Confesso que tive pena que hoje, todos e cada um daqueles geniais oradores, incluindo Marcelo de sousa, não aproveitasse a oportunidade para dizer o que a srª Ferreira leite fez ao partido nestes últimos dois anos, desde a sua entronização no Congresso de Guimarães. Isso, sim, seria um acto de honestidade, uma busca da verdade. Mas todos foram cobardes e calaram aquilo que as bases estão carecas de saber relativamente à direcção do economato do actual psd.
Fazendo isso, seria um bom começo para começar a falar verdade ao partido e ao país. Por isso, não me pareceram felizes muitas daquelas intervenções nem alguns daqueles falsos elogios a Ferreira Leite, e depois acusar Sócrates de mentiroso é a suprema das hipocrisias. A mentira tem a perna curta, e apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo... Assim, como poderão fazer-se acreditar pelo povo aqueles que nomeiam Sócrates de mentiroso?! O povo dirá: mentem todos, são todos mentirosos.
É isso que gera a crise de legitimidade nos partidos, nos políticos e nos órgãos de poder em geral. Em vez de se gerar a sociedade da confiança, multiplicam-se os sinais geradores da sociedade do risco e da desconfiança.
Hoje, em Mafra, aqueles elogios numa só tarde a Ferreira leite traduziram mais mentira, dissimulação e fingimento do que as mentiras que são imputadas a Sócrates nos últimos anos.
Ao ver o que aqueles notáveis disseram da actual coveira do psd fica-se a saber que a mentira é hoje o produto duma organização racional e duma rigorosa divisão do trabalho. E o douto Marcelo foi um mestre nessa arte de cerimónia disciplinando a sua mensagem por forma a que ela tivesse uma dupla finalidade: chamar corruptos aos que ocupam o poder e salvar a alma da verdadeira coveira do seu psd. A política é feita destas ambiguidades que convocam o vómito.
Ainda que muitos desses actores políticos mintam, ou escondem a verdade ao povo, com vista à sua salvação. Talvez por isso, Passos Coelho, Rangel, Aguiar-Branco, Marcelo e tutti quanti tenham dito o que disseram de Ferreira Leite, na esperança de a salvar do funeral a que ela submeteu o psd nestes últimos dois anos.

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