O Turismo no Alentejo. Um breve subsídio
Quando se fala em Turismo aquilo que mais vulgarmente nos vem à mente é, se tivermos um perfil de consumidor tradicional formatado nas décadas de 80 e 90 do séc. XX, sol, praia e vida nocturna - tendo o Algarve como destino. Foi assim, salvo raras excepções, com as pessoas da minha geração que hoje contam entre as 35 e as 45 primaveras, muitas delas bem aproveitadas e muito internacionalizadas.
As pessoas formatadas nesse tempo cresceram com esses gostos, salvo raras excepções, cujos segmentos da população dispunham de grandes recursos financeiros que as habilitava a viajar pelo estrangeiro e a seguir outros destinos turísticos para dar uma ocupação mais diversificada ao seu tempo de férias e de lazer.
Entretanto, o mundo mudou consideravelmente, as mentalidades evoluíram, o poder de comprar disparou exponencialmente e fez-se acompanhar duma emergente classe média com algum poder aquisitivo, e aquela que não o tinha facilmente o arranjou por recurso ao crédito bancário, que também acabou por fazer grandes negócios à custa de algum irracionalismo e loucura das famílias portuguesas. Ou seja, o turismo assumiu uma nova face, e o tempo que antes compartimentava as estações do ano esbateu-se com aquele emergente poder de compra e com as mudanças climáticas que hoje ameaçam o planeta que é de todos nós.
Mudando o mundo mudou inevitavelmente o turismo entre nós, que passou a ter de fazer uma redefinição do seu modelo organizativo e ao nível dos produtos turísticos que tem para oferecer a quem nos procura, o que exigiu dos decisores e dos planeadores do sector uma capacidade de formulação de cenários em que as entidades públicas e privadas são chamadas a participar a fim de definir novas áreas de negócio e lazer que possam responder, por um lado, à crise generalizada do sector, por outro, ajude o país como um todo a responder mais sustentadamente ao ambiente de crise e de retracção do consumo (doméstico e internacional) que temos vivido.
Daí a necessidade em reestruturar o modelo organizativo do turismo regional, que reclama hoje uma actuação mais intersectorial e mais estratégica. De resto, esta simples constatação de crise corrobora-se num modelo tradicional de organização de turismo irrealista e demodé que também reclama uma nova atitude, novos valores (sociais, ambientais e humanos) envolvendo o património local nessa nova equação de oferta turística nas várias regiões de Portugal.
Naturalmente, sem ovos não se fazem omeletes, razão por que urge identificar novas parcerias e investidores que defendam e desenvolvam um turismo ambiental – sustentável – que possa atrair as pessoas (nacionais e estrangeiras) e as faça identificar com o território que visitam reforçando os tais valores identitários.
Ou seja, a redefinição estratégica do cluster turismo em Portugal é um assunto demasiado importante para estar a cargo das agências de viagens que, sendo parceiros importantes e necessários à viabilização dos negócios e do lazer, não representam o “olho da águia” que deve orientar estrategicamente o futuro do sector, tão importante para a sustentabilidade da economia nacional, sempre muito dependente do turismo por razões de ordem natural.
Em pista paralela, e em face destes constrangimentos, como em muitos outros sectores e sub-sectores da economia nacional, os decisores devem apostar em potenciar a notoriedade das suas regiões, por exe., o Alentejo pode – e deve – ser projectado nos circuitos internacionais, e não apenas a capital ou o Algarve têm essa missão. Até porque uma das imagens de marca do Alentejo é a sua cultura e património, a sua gastronomia e a sua natureza, quase virgem, factores que hoje facilmente se globalizam trazendo valor acrescentado ao país.
Aqui chegados, facilmente se compreende que uma região, seja o Alentejo, o Algarve ou mesmo Lisboa – é tanto mais desenvolvida quanto melhor conseguir conciliar aquilo que são os global commons (ambiente, património, normas de boa governabilidade que faz dos países pólos de soberania estáveis e apetecíveis) com os valores endógenos da região, e aqui radica a simpatia e hospitalidade do nosso povo, a gastronomia rica e variada, o carácter genuíno dos esforços, a natureza que convida ora à reflexão e à contemplação ora à aventura.
No fundo, qual é a ideia acerca deste estruturante sector para a economia nacional?
Converter um destino de baixa intensidade e competitividade num destino de elevada competitividade, que seja atraente, sedutor e competitivo que possa levar as pessoas a regressar e, ao mesmo tempo, valorize os recursos e os produtos locais na lógica da tal marca identitária que se quer afirmar em cada uma das regiões do país no âmbito do seu tecido conjuntivo.
Se olharmos para o Alentejo, por ex., constatamos que é uma região diferenciada entre si, pois há vários “alentejos”: o que tem sol e praia (Alentejo litoral) e que também explora o chamado touring cultural e paisagístico; o que tem bons vinhos e excelente gastronomia (Alto e Baixo Alentejo); e depois também encontramos o Alentejo que tem turismo residencial, turismo náutico entre outras actividades na sua carta de oferta turística (no Litoral e Alentejo central).
Portanto, o Alentejo, tomado aqui como mero exemplo enquadrador das várias regiões do país, não é todo igual, apresenta especificidades e, nesse campo, terá que se conceber a oferta de cada produto turístico ao território e às especificidades regionais em causa.
Logo, para cada situação o turismo náutico, o golfe, a gastronomia e vinhos, o sol e praia, o turismo de negócios, o turismo cinegético, o turismo mineiro entre outras ofertas turísticas – reclama das entidades públicas, como a Entidade Regional de Turismo presidida por Ceia da Silva, em parceria com investidores e operadores privados, terão de conceber estratégias e medidas adequadas para cada uma daquelas situações específicas sem, contudo, perder de vista o tecido conjuntivo de toda uma região do país.
Significa isto que num certo momento é necessário ver a árvore, no momento seguinte urge ver toda a floresta.
E todo este esforço em nome de quê?!
Em nome da valorização das nossas regiões – onde as vantagens do poder central chegam tarde e a más horas; em nome do reforço da nossa corporate image e identity – intra e extra-muros, coadjuvando a nossa competitividade nacional e global; e também em nome duma forma de trabalhar e dum modelo organizativo que concebe o trabalho em rede como uma mais valia quer para as regiões quer para o país.
Tudo isto sem esquecer que, tal como os melões e os chapéus, também o turista assume tantos perfis consoante o seu status, perfil e motivação. Logo, há que perceber que o turista que, num dado momento, deseja sol e praia não é o mesmo turista que deseja turismo residencial ou cultural, e o turista que busca no golfe e nos negócios o seu espaço de lazer está pouco interessado em ouvir passarinhos a cantar ou em fazer pesca desportiva. Mas todos estes gostos, perfis e motivações não são compartimentos estanques, pelo que poderá haver perfis compósitos de turistas que busquem tudo isso em tempos sucessivos. Será também essa complexidade que confere ao Alentejo, como um todo, um manancial por explorar.
E o mais curioso, embora pareça um paradoxo, é que o ano de 2009 foi o melhor ano turístico para o Alentejo, mau grado a crise, tese suportada por números do INE que ainda poderão ser valorizados quando, um dia, o observatório regional do Alentejo puder fazer esse quantum.
Mostrando, afinal, que apesar da crise o dinamismo no sector do turismo no Alentejo, a que certamente não foi alheio a acção da E.R.T. e do seu presidente, são uma mola de dinamismo e de esperança para os demais sectores da actividade económica em Portugal.
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