quinta-feira

O mau governo dos media

O mau governo dos Media
Se olharmos hoje para os media em Portugal, em particular para a imprensa facilmente constatamos que reina a crise económica, em resultado das quebras de receitas da Pub., desemprego e precariedade entre a classe jornalística e, nuns casos relações privilegiadas com o poder, noutros relações tensas e conflituais. A televisão, hoje menos, nunca deixou de ser umas vezes cúmplice, outras vezes silenciosa, e outras vezes crítica, embora haja um esforço para que alguns canais de tv, curiosamente os do Estado, RTP 1 e Canal 2, produzam informação de qualidade, rigorosa e até imparcial na sua agenda-setting.
Hoje, uma das questões cruciais para os media em Portugal é, creio, saber como articular inteligentemente a independência informativa com a lógica empresarial das estações sem, contudo, esquecer as exigências culturais nem cair nas armadilhas corporativas que sempre espreitam. Nuns casos por interesses económicos e financeiros, noutros por motivações de natureza política, e Portugal tem, curiosamente, os principais media nas mãos de empresários com ligações fortes ao maior partido da oposição, que hoje tenta "arrumar a casa" e escolher um líder. O Público, a SIC, a Tvi, o CM são alguns desses meios que têm desgastado o poder esquecendo-se, por vezes, que não são partidos políticos, nem tribunais. E é aqui que reside grande parte do mal-estar que origina depois conflitos.
Hoje, alguns media estão a enlouquecer a sociedade portuguesa, nuns casos por puro alarmismo social e venda de papel e truncagem de informação, noutros porque vestem o papel dos tribunais e dos juízes para tentar fazer justiça (incriminando pessoas na praça pública) por via editorial.
Com o Estado a perder o papel de árbitro do acto público, perante a incompetência e o laxismo do aparelho judicial em Portugal. São estas disfunções e perversidades das instituições democráticas que revelam a dimensão da crise que hoje vivemos. Com alguns media a violar decisões emanadas da justiça, e apostados nessa senda, pois sabem que o valor das multas a pagar compensa bem a quantidade de papel que vendem no mercado, o que agrava ainda mais o desequilíbrio social e institucional que se instalou em Portugal, ante a total descrença na função e capacidade dos tribunais e nos seus agentes.
Custa-me a crer que juízes e tribunais estejam sendo “comprados” pelo PM a fim de produzirem decisões que lhe sejam favoráveis, e que poderiam ser escrutinadas pela corporação.
A crise reside, pois, nesta aptidão natural para violar o direito, rasgar os códigos deontológicos da profissão de jornalista, pela apetência pelo mexerico e pela manipulação de informação junto da opinião pública com o fito de criar ondas de choque desfavoráveis ao poder, ao conjunto do governo ou apenas visando A, B ou C.
Uma sociedade equilibrada é aquela em que o Estado regula, legisla e arbitra, nunca manipula nem intervém na produção da linha editorial dos media. Os media informam e ajudam a formar a opinião pública, e os tribunais avaliam conflitos de interesses e decidem segundo o direito. Infelizmente, hoje nenhum daqueles actores cumpre com rigor e isenção os respectivos papéis, por isso avançamos às arrecuas e por pequenas revoluções, e a falta de reflexão mediática séria em Portugal faz com que alguns semanários façam dos fins de semana o caldo de cultura do Indy nas décadas de 80 e 90 do séc. XX – quando Portas era o director-mor do principal ataque ao cavaquismo, até que o fez cair.
Se batemos no fundo é, tão só, por causa desta inversão de papéis, em que alguns políticos deveriam tolerar mais e melhor a crítica, alguns jornalistas se compenetrassem que não podem ter projectos de poder, já que o seu papel é informar e, por último, os tribunais compreendessem que o seu papel não é ser passador de informações a certas redações de jornais para que estes publiquem informação truncada violando o segredo de justiça no maior dos paradoxos do nosso tempo, em que o guardião da lei acaba por ser, afinal, aquele que primeiro a viola.
Se o controlo dos media pelo poder político é inadmissível, à esquerda e à direita, o controlo e o sufoco da sociedade pela "república mediática" que está nas bancas é um câncer que hoje todos devemos saber corrigir. Desde logo, por saber escolher os canais a ver e determinar que jornais ler…