sábado

Coabitação decadente dos figurantes do sistema político nacional: Cavaco e Alegre

Abaixo explicitámos as razões que nos assistem em rejeitar a proto-candidatura do poeta Alegre para Belém e a de Cavaco, actual locatário do palácio Rosa, para nosso infortúnio. Nada temos contra estas duas estimáveis personalidades que, como vimos, até convergem mais do que divergem, ante o deserto de ideias e planos que têm para Portugal contextualizado no isomorfismo em que as analisámos.
Esta situação-limite em que o poeta-Alegre inscreveu o PS, dividindo-o mais do que suscitando consensos, pode traduzir-se noutra grelha analítica mais elaborada e que consiste numa coabitação de protagonismos que, nas respectivas funções institucionais, desempenham papéis que, na realidade, não correspondem às suas efectivas posições políticas procurando, desse modo, transferir a responsabilidade da crise a que chegámos de um para o outro, é, doravante, o que sucederá: veremos o poeta a imputar responsabilidades a Cavaco pela conflitualidade criada com o Governo, mormente por causa da questão das falsas escutas, e, por seu turno, veremos Cavaco, a contra-atacar dizendo que o poeta nunca apresentou uma proposta de Lei interessante no Parlamento onde teve residência fixa anos a fio trabalhando para a sua reforma dourada, que contrasta com a da generalidade dos portugueses.
Portanto, aquilo que aguarda os portugueses no próximo debate presidencial, que Alegre antecipou escandalosamente prejudicando, assim, os interesses do país em nome da sua vaidade pessoal e gula de poder, será um debate tão oco quanto romântico e quixotesco, cuja inutilidade será simétrica à recandidatura de Cavaco. Pois ambos já demonstraram à saciedade que bloqueiam mais o regime do que o renovam, que distorcem mais o funcionamento da democracia e do efectivo desenvolvimento da sociedade do que o promovem, e, nem por isso, hesitam em querer assumir altos postos de comando no vértice do Estado para os quais não têm perfil, aptidão ou capacidade.
Na prática, nenhum daqueles dois "figurantes" da democracia portuguesa, e Cavaco foi, de facto, importante ao tempo em que foi PM durante uma década e soube aplicar os milhões de euros que chegavam a Portugal diariamente via Fundos Estruturais/Comunitários, por isso se construíram estradas, hospitais e escolas, são, doravante, os rostos do futuro. E neste contexto de compita eleitoral é óbvio que o cv de Alegre não chega para ombrear com o de Cavaco que, apesar de tudo, ainda fez obra por Portugal, modernizando a sociedade e desenvolvendo a economia. Alegre, neste particular, só terá duas coisas para apresentar aos portugueses: o seu passado anti-fascista, que pouco diz às novas gerações que nem sequer sabem onde ficou o Império ou identificam Salazar, e ser autor de uns livros de poemas.
Nesse sentido, nenhum dos figurantes desta peça à portuguesa está a construir o futuro, cada um usará o seu passado para justificar o que existe no presente. Ora, o que se pode encontrar neste contexto de sobreposição assente numa compita presidencial Cavaco-Alegre, não será a discussão do futuro de Portugal, mas a fuga ao lugar das responsabilidades que cada um teve, no quadro da sua esfera de competências, a fim de se eximir ao lugar da vítima expiatória.
Naturalmente, a sociedade portuguesa, os portugueses em geral, esperam algo mais do que este sub-produto da estória que um e outro terão para oferecer ao País.
Ou seja, aquilo que cada um dos candidatos pode prometer ao país no exercício das suas funções institucionais, não é mais do que procurar colocar o outro na posição simbólica do responsável pela crise e pela linha de descontinuidade cujo resultado está à vista nos indicadores socioeconómicos de desenvolvimento.
É por isso que advogamos aqui a emergência de caras novas que se possam perfilar na corrida a Belém para dar um novo alento a Portugal e aos portugueses.