Macro de grande, skopein de observar: observar o infinitamente grande e complexo. Tentar perceber por que razão a ave vive fascinada pela serpente que a paralisa e, afinal, faz dela a sua presa.
terça-feira
Cavaco Silva e o "homem-arbusto". Tributo a Balzac
Muitos de nós, ou melhor, alguns de nós, sabem que o actual locatário de Belém rege a sua vida pública por obediência estrita às sondagens e não ao interesse público e ao bem comum. Quando Cavaco faz um roteiro da juventude, dos enchidos, das tecnologias ou dos computadores que voam e das aves de sete asas não o faz porque daí decorre um ganho social líquido para a sociedade, mas porque pretende aumentar a sua cota de notoriedade na sociedade e valorizar-se no mercado político. Sobretudo agora que caíu nas intenções de voto com a cilada que armou ao Governo com a indignidade das escutas e com o apoio descarado que deu a Ferreira Leite no quadro das últimas eleições legislativas, em vão...Cavaco ao longo da sua vida pública sempre procurou dar de si uma imagem de estadista, de grande político, de doutrinador - agora até confunde funções fazendo comparações obtusas com o Governo de Guterres a partir do farol presidencial. Cavaco, pela baixa cultura política e democrática que revela denota que confunde planos e não sabe distinguir uma simples comparação (confrontando dois termos semelhantes) duma analogia, como fez esta semana a "comparar-se" com o Governo Sócrates, e não, como devia comparar-se com os seus semelhantes ou equivalentes funcionais (Parsons): Eanes, Soares ou Sampaio. Enfim, mais um acto falhado de Cavaco, está como PR mas julga-se PM, ou pensa que pode presidencializar a função governamental, no fundo o seu objectivo ao tentar meter em S. Bento Ferreira Leite, sua amiga e governar a partir de Belém. Em vão. Mas Cavaco tem-se revelado um mau PR, porque um mau estadista, um mau político e um mau doutrinador: é parcial, tomando partido das oposições contra o Governo, não tem ideias para o país, por isso o seu papel de doutrinador deixa muito a desejar. Mas uma coisa Cavaco faz bem: procura a todo o transe não cair no desagrado das massas, e quando possível, procura seduzi-las e conquistar a sua simpatia, como fez a semana passada ao dizer-se defensor dos produtos dos portugueses pobresinhos que não aparecem nas estações de tv ditas normais. Puro populismo. Os "homens-carvalhos", de que falava Balzac, tendem a desaparecer, substituídos por "homens-arbustos", que se vergam ao sopro das massas, ou por "homens-servis" - que subordinam a sua personalidade à pressão do número. E se as massas espreitam todas as oportunidades para medirem forças com os poderes públicos a fim de os desprestigiar, Cavaco nada mais tem feito em Belém senão tentar desprestigiar S. Bento: minando, vetando, urdindo ciladas espúrias ao Governo e a Sócrates em particular. Tudo para obrigar o Governo em funções a recuar em inúmeras políticas públicas e a sentir-se dentro do actual colete-de-forças que hoje vigora no Parlamento. Em rigor, toda a cultura política de cavaco, a sua crença predominante, a forma como exercita os seus poderes presidenciais, a natureza do seu vocabulário e das narrativas que usa, a sua circunstância, a "categoria" dos seus assessores, as suas atitudes (benévolas) relativamente às oposições, mormente ao psd da sua ex-discípula Ferreira leite, tudo isso conjugado revela um padrão que diz que Cavaco é, de facto, o homem-arbusto: alguém que só reage aos apelos das massas, à lei do número subordinando os interesses nacionais às suas ambições e projectos políticos pessoais. É isto que é censurável em cavaco, andar a fazer campanha para o seu 2º mandato desde que quando foi eleito para o primeiro. Sendo que nesse trajecto nem uma só ideia facultou ao Governo a fim de ajudar o povo português a ser melhor governado. De Cavaco o mesmo povo português ficou a saber que o PR tentou assassinar políticamente o PM através duma estória macabra saída dum bunker da Guerra Fria e que tinha como objectivo tático meter a sua amiga Ferreira leite em S. Bento e ele - a partir do farol de Belém - a mandar integralmente no país. No fundo Cavaco até está a ser coerente consigo próprio: deseja um PR, um PM e uma AR da mesma cor política, como Sá Carneiro. Só que a comparação também é forçada...
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