segunda-feira

Sondagens mudam antes das presidenciais

Partidos políticos e empresas concordam em retomar a discussão sobre sondagens eleitorais. Reconhecem a marginalização do tema após actos eleitorais, mas garantem que é preciso mudar as regras, mesmo as legislativas. E assinalam até que o melhor é mudá-las antes das eleições presidenciais de 2011. Estão em causa matérias como a amostra, a distribuição dos indecisos, o cálculo da abstenção ou os métodos das entrevistas.
"Depois do último ciclo eleitoral, onde houve diferenças significativas entre as sondagens e os resultados, não é possível continuar neste estado. São precisas alterações legislativas, entre outras, e devem acontecer no primeiro semestre de 2010, antes das eleições presidenciais", afirma o líder parlamentar do CDS, Luís Pedro Mota Soares.
O relatório Sondagens e Inquéritos de Opinião, publicado em Outubro e elaborado a pedido da ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social), é o ponto de partida para a discussão. Redefinição dos "inquéritos de opinião", critérios para divulgação através da Internet, redução da ficha técnica e a responsabilização de quem as publica estão entre as propostas para a actualização da lei de 2000.
"Concordamos com as alterações legislativas, mas mudar a lei não resolve o conjunto de problemas relativos às sondagens. A auto-regulação é um caminho e a ERC deve cumprir a sua função reguladora, o que não aconteceu nos últimos anos", alega Agostinho Branquinho, do PSD.
Trinta e oito sondagens foram analisadas e abrangem eleições legislativas, autárquicas e regionais entre 2005 e 2008 e as europeias deste ano. Na avaliação do desempenho dos partidos nas sondagens em relação aos resultados eleitorais, o relatório conclui que o CDS é subavaliado. O PS tende para sobreavaliação enquanto o PSD tende para subavaliação. O PCP é ligeiramente subavaliado e o Bloco de Esquerda ligeiramente sobreavaliado.
"No caso das europeias deste ano, eram as primeiras eleições de um ciclo e o seu resultado reflectir-se-ia nos pleitos seguintes. Projecções erradas condicionam as opções do eleitor e pesam nos cenários eleitorais", avalia Jorge Cordeiro, do secretariado do PCP.
Se, por um lado, o relatório reconhece que as sondagens são importantes para a opinião pública manter-se informada durante os processos eleitorais, por outro critica a forma de divulgação pelos órgãos de comunicação social. A transformação da observação em prognóstico e apresentação dos índices em décimas estão entre as críticas feitas. Contudo, o relatório ressalta que muitas empresas não acompanham os dados de uma "interpretação técnica. "Genericamente concordamos com as sugestões da ERC e acreditamos que devem ser aplicadas o mais rápido possível, antes das próximas eleições", observa João Semedo, do Bloco.
Mas há, também, um lado optimista. O responsável da Eurosondagem, Rui Oliveira e Costa, ressalta a qualidade internacional dos estudos portugueses. "Somos um caso de sucesso: com excepção das europeias, onde pesou muito a abstenção, os resultados das sondagens estão dentro das margens em relação aos resultados eleitorais."
Face à avalanche de críticas provocadas pelas sondagens deste ano, o director do CESOP, Pedro Magalhães, sugere a criação de um painel independente para avaliar as sondagens. "Idealmente não é necessário, mas temos pouca investigação em Portugal."
Pelo Partido Socialista, o deputado João Serrano pede um compasso de espera: "Esperamos a tomada de posição do regulador."
Obs: Pensar, como faz o representante do PCP, que o eleitorado português é induzido pelas previsões de uma eleição condicionando a sua vontade nos actos eleitorais seguintes, é supor que o eleitorado é alienado e fácilmente manipulável. Não estranho vindo do PCP, o partido cujos dirigentes mais manipularam os povos da europa do centro e leste europeu.
Em todo o caso, aquelas sobre-avaliações e sub-avaliações relativamente ao que vale sociológicamente cada partido político em Portugal deve ser corrigido, mas isso não será feito por via legislativa nem pela feitura de futuras sondagens, pois tratam-se de empresas com interesses económicos no mercado e a neutralidade absoluta, como diria Max Weber, é impossível.
O povo português é que deve estar cada vez mais consciente dos factos importantes que marcam a vida pública, deve ser mais esclarecido no plano da cultura política, logo menos influenciável, e um povo mais culto, mais racional e mais iluminado mais difícilmente é enganado ou induzido em erro.
Um povo assim, por regra, toma decisões políticas acertadas, embora haja excepções ao longo da história. Por exemplo, a eleição do actual PR, Cavaco silva, tem vindo a demonstrar que a imagem inicial de imparcialidade e de isenção que "vendeu" ao povo português - traduziu-se numa fraude política, por razões demasiado óbvias que aqui me dispenso de comentar.