notas às Notas Soltas de António Vitorino na RTP
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Retenho algumas ideias da prestação d’hoje de António Vitorino na sua rúbrica Notas Soltas (na RTP) muito centradas, curiosamente, naquele que, em nosso entender é, de par com as oposições, o principal actor-instabilizador do sistema político em Portugal que aqui sumariamos:
1. Cavaco considera-se uma "válvula de segurança" do sistema político nacional, uma espécie de último recurso, só é pena que tenha sido o mesmo Cavaco silva a incumbir o seu principal assessor de comunicação, Fernando Lima, que quando era director do DN ia levando o DN à falência, a urdir uma cilada contra o PM com base numa estória macabra ao estilo da Guerra Fria, qual espião que veio do leste com o Governo a espiar Belém. Ainda se em Belém se pensasse política…;
2. O PR inaugurou um estilo constitucional novo, como ironiza AV: “promulgação com declaração”. Com isto Cavaco denuncia dois vícios: reencarnar no papel paroquial de Américo de Tomás do séc. XXI, dizendo que esta a 1ª vez desde a última que cá esteve, em matéria de inaugurações pré-eleitorais, evidentemente; e justificar o sentido da sua promulgação com uma declaração em anexo para que os portugueses mais “atrasadinhos” possam compreender o alcance dessa decisão, e, com isso, nomeia 10 milhões de tugas como burrinhos;
3. Depois, erro fatal, Cavaco estabelece um paralelo que é mais uma analogia do que propriamente uma comparação, ou seja, compara-se ao PM em funções através do farol presidencial de Belém. Erro crasso. Ou seja, a forma mentis de Cavaco é tão limitada e provinciana que não consegue compreender a cilada em caiu ao aferir a conduta de Sócrates (PM) com as lentes presidenciais, quando, em rigor, cavaco deveria era comparar-se com o que Sampaio e Soares fizeram enquanto PRs, limitando ou distendendo as relações de Belém com os respectivos governos. Este erro de percepção e de perspectiva faz de Cavaco mais um elemento perturbador do sistema político do que estabilizador. Além do facto de Cavaco nunca ter visto dirigir-se contra ele uma coligação negativa de toda a oposição (esquerda, extrema esquerda e direita) quando era locatário de S. Bento e governou Portugal com os milhões dos fundos comunitários que jorravam de Bruxelas e que muitos deles, consabidamente, encheram os bolsos a sindicalistas corruptos com base em formação profissional fantasma. Recordo do caso da UGT e do papel que nele teve Torres Couto... Este tipo de corrupção infelizmente nunca foi percepcionado por Cavaco silva, e hoje incorre no mesmo erro. Erro que nem os assessores de Belém conseguem identificar, o que é lamentável a dobrar;
4. Por outro lado, a deriva anti-governamental a partir da Assembleia da República é perniciosa para o país e pode conduzi-lo novamente a eleições, pelo que a discussão e aprovação do OGE para 2010 – principal instrumento financeiro do Governo – será o grande teste da autoridade do Governo, por um lado, e sinal (ou não) de maturidade das oposições;
5. Contudo, o que se regista com esta coligação negativa não tende para a apresentação de propostas construtivas, úteis à governação e à resolução dos problemas socioeconómicos dos portugueses, mas tão somente gerar um efeito de desgaste no governo, o que prenuncia mais instabilidade política que pode descambar em eleições antecipadas com um Cavaco surdo e mudo no Palácio de Belém preparando já a sua recandidatura. Esquecendo-se Belém – e o conjunto das oposições – que em Portugal o povo pune nas urnas quem provoca as crises.
6. De tudo procede que Cavaco é, sobretudo desde o braço-de-ferro com o Governo acerca do Estatuto dos Açores, um homem acossado, sempre disposto a minar o campo de acção a Sócrates. Nem que para isso tenha que conceber um plano maquiavélico como nunca se viu na história da democracia portuguesa: urdir a ideia de que o Governo espiava os passos de Belém. A que propósito? Com que finalidade? Afinal, Belém apenas corta-fitas e agora com uma originalidade pseudo-constitucional: "promulgação com declaração", como sistematiza, com graça fina, AV.
Em suma, Cavaco está, desde que foi eleito PR, em campanha permanente para fazer o seu segundo mandato presidencial, para prejuízo de todos os portugueses. Explicámos esse perigo numa reflexão abaixo cujo tributo prestámos a dois grandes pensadores do nosso tempo que, seguramente, cavaco nunca ouvira falar: Guy Debord e Roger Gérard-Schwartzenberg.
Por tudo isto Cavaco há muito que se converteu num efeito instabilizador na democracia portuguesa, quando o que os portugueses lhe exigiam era que fosse um elemento estabilizador. Razão por que António Vitorino pôs hoje o dedo na ferida de Belém cuja prática tem sido perniciosa para todos nós. Tudo razões objectivas que deveriam levar os portugueses a não votar no actual locatário de Belém nas próximas eleições presidenciais em 2011.
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