quarta-feira

As notícias do mundo continuam a não prestar

O mundo é esta roda dentada de mais-do-mesmo, até já chateia viver nesta falta de novidade geral continuada.
Cavaco recebe o presidente do Supremo Tribunal de Justiça em plena crise das “escutas” no âmbito do processo “Face Oculta”, este, Noronha do Nascimento, está, ainda que aos “bochechos”, em rota de colisão com Pinto Monteiro, PGR, outro elemento previsível deste mundinho desinteressante. Os credores do BPN continuam a arder porque não conseguem recuperar os seus créditos, o PM tenta convencer o país de que o aumento do desemprego se deve à crise internacional, Cavaco passou a ser mais reservado nas suas comunicações públicas, não vá o caso BPN – e as acções que ele vendeu a bom preço a latere dos mecanismos do mercado oficial das cotações em bolsa – o esmaguem.
As audições no caso Face Oculta apresenta a nova face das vedetas do momento. Acusados de alegados actos de corrupção, os advogados dos alegados corruptos assumem a função de guarda-costas. De resto, o país vegeta na questão da saúde pública e no acerto da contabilidade das vítimas futuras esmagadas pelo h1n1, dos resultados futeboleiros, na ideia de que o nosso ministro das Finanças – sendo o melhor cá dentro foi considerado o pior ministro congénere no espaço da EU (só pode maldade, certamente, e injustiça galopante do défice). Tudo, portanto, prefigura banalidades que até é bom não evocar sob pena de deprimir ainda mais a nação.
As notícias de que dispomos no nosso rectângulo são, pois, uma sucessão de desgraças, de coisas comezinhas, uma composição e recomposição de interesses lamentáveis, noutros casos execráveis, relevantes para o mundo da economia e dos negócios, da banca e desta nas suas relações de promiscuidade com o aparelho de Estado. Sempre, naturalmente, com as devidas cumplicidades partidárias. À esquerda e à direita - cheira sempre mal, ao cabo de algum tempo de exercício do poder, é uma lei sociológica inevitável.
Daqui se confirma que os acontecimentos que constituem as notícias do presente, como no passado, são aquilo que esperamos, são os acidentes e os incidentes que o público espera, porque já as ingeriu através de outras narrativas.
É pena que no meio desta espuma dos factóides não haja ninguém que anuncie urbi et orbi que o cancro da mama foi debelado, a sida também, o h1n1 é já uma ficção, o desemprego massivo na Europa decresceu e atinge-se a situação miraculosa do Pleno emprego teorizada por Keynes, os aviões deixaram de cair, a taxa de natalidade aumenta, os crimes ecológicos desapareceram da face do planeta e o mais.
Enquanto nada disto ocorrer na estrutura da agenda-setting das notícias o mundo continua a ser aquilo que tem sido: uma coisa medíocre, comezinha e medonha.
Como a natureza das notícias e do objecto delas ao assaltarem este mundo previsível, até nas desgraças.