Comunicação política: one-step flow para o two-step flow
GOVERNAR É FAZER-SE ACREDITAR
Quando vemos o PM dizer que a responsabilidade do aumento do nível de desemprego em Portugal é da crise internacional ou acreditamos ou não acreditamos, sendo certo que o objectivo dele é diminuir os estragos políticos e o desgaste que essa situação nociva acarreta para o governo que lidera e, bem entendido, para o próprio país constituído por todos nós.
Quando vemos Francisco Van Zeller dizer que o patronato se opõe ao aumento do salário mínimo reclamado pelos sindicatos está, de forma convergente à do PM, a tentar dizer que o país não comporta essa subida de salários porque ela seria nociva para a saúde das nossas exportações, machucaria a nossa competitividade e até penalizaria a solidez das empresas existentes.
Quando vemos Carvalho da Silva da CGTP (ece “dinossauro papa-sindicatos”, ainda tem a lata em falar em renovação de quadros e de elites…) reclamar leis sociais mais benévolas para os trabalhadores, melhores salários e melhores condições de vida em geral, também está a reforçar a posição não só daqueles que pretende representar, mas a sua própria posição na hierarquia da estrutura de poder que comanda.
Todos, portanto, têm em comum um objectivo: fazerem-se acreditar junto das populações. Um político, um líder patronal e um sindicalista todos, paradoxalmente, têm em vista fazer-se acreditar junto dos seus eleitorados, pois só assim reforçam as respectivas posições no âmbito das estruturas que lideram. Sócrates reforça-se no governo, Van Zeller prestigia-se na classe patronal que representa e Carvalho da Silva consolida o seu poder na CGTP-IN. Todos, portanto, querem mais e melhor poder. Mesmo que isso, no tabuleiro desses três exemplos distintos, pouco tenha a ver com os verdadeiros interesses dos destinatários daquelas três mensagens.
Mas o lado mais curioso desta cadeia de influência e de poder consiste em compreender como é que tudo isto funciona por dentro, ou seja, no interior dos processos e dos circuitos do poder. Se atentarmos nos media, por exemplo, eles não influenciam directamente o público – one-step flow - fazem-no através de grupos ou líderes que retomam ou não a mensagem dos media.
Existe um fluxo de influências dos media sobre os líderes e destes sobre a opinião. Eis o que se verifica naqueles três casos que acima explicitámos envolvendo o poder político, o poder do patronato e o poder do sindicalismo.
Significa isto que o poder não está só no emissor e nos líderes que veiculam essas ideias, propostas e projectos. Nós, enquanto destinatários dessas mensagens, acabamos por desenvolver análises cada vez mais finas de sociopsicologia que nos obriga a interpelar mais o destinatário do que o emissor ou o mensageiro.
De modo que, da lógica de one-step flow passa-se para a lógica do two-step flow da comunicação, já que o importante aqui sublinhar é que o processo de comunicação, mormente no domínio político – aqui visto à lupa funcionalista, informativo, representativo da sociologia norte-americana, implica que nestes modelos de comunicação há estímulos e efeitos. E mesmo quando se verifica que a mensagem daqueles actores políticos visa fazer-se acreditar – a fim de cada um deles manter o poder e, se possível o reforçarem – podemos, no final, concluir que a mensagem não é objectiva nem rigorosa, logo não-verdadeira.
De tudo resulta que só uma coisa é verdade: a própria representação das coisas e as expressões utilizadas para as tentar demonstrar. Seria como se as palavras do sindicalista, do patronato e do PM fossem pequenas máscaras para se fazerem passar por verdades, embora verdadeira seja apenas a representação que delas guardamos neste jogo simbólico que nos é dado viver.
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