segunda-feira

Promiscuidade - p´lo Jumento -

O país já não estranha nada, ninguém questiona a ida de José Manuela Fernandes para o gabinete de Durão Barroso onde será muito bem remunerado pelos impostos dos europeus, como compensação pelos serviços prestados ao PSD enquanto director do jornal Público.
Curiosamente, na semana passada Belmiro de Azevedo, o dono da SONAE, disse dois disparates que mal foram ouvidos, que quem quisesse usar o Público que metesse o dinheiro e incentivou os seus jornalistas a não recearem governantes.
Pois, mas é o orçamento europeu e não a SONAE que vai pagar a reforma a José Manuel Fernandes pelos apoio dado ao PSD, certamente a mando de quem lá meteu o dinheiro. E, pelo que se vê, José Manuel Fernandes não receia os governantes, ataca os de cá e refugia-se junto do outro que está lá fora.
E ninguém critica a promiscuidade entre jornalismo e o poder, ninguém estranha encontros às escondidas com conspiradores de Belém, dezenas de editoriais com o único objectivo de derrubar o governo só porque Sócrates não mandou construir o aeroporto onde poderia servir o investimento da SONAE em Tróia ou porque não ajudou Belmiro de Azevedo a comprar a PT ao preço da uva mijona.
O raciocínio de Belmiro de Azevedo diz tudo sobre o papel do Público em todas as campanhas negras a que assistimos nos últimos três anos, campanhas em que o Público teve um papel activo, chegando mesmo a promover algumas. É para isso que ele meteu o dinheiro no jornal, para que este faça o que o dono manda e quem melhor do que um director para interpretar a voz do dono?
Não admira que o jornal Público se tenha envolvido com assessores de Belém na montagem de uma conspiração contra o primeiro-ministro dando notícias falsas sobre eventuais escutas na Presidência da República ou sobre o envolvimento dos serviços de informações em toda esta aldrabice. O objectivo de derrubar Sócrates a qualquer custo foi evidente, como se tornou evidente que quando Belmiro mete dinheiro no jornal é para que este faça o que ele manda.
Compreende-se que José Manuel Fernandes vá trabalhar com Durão Barroso, isso corresponde a uma partilha da despesa entre o PSD e Belmiro de Azevedo, ambos têm uma dívida em relação ao director do Público. Belmiro paga-lhe a indemnização choruda e o PSD garante-lhe uma reforma dourada à custa do dinheiro dos contribuintes, enfim, cada um usa o dinheiro que tem. O primeiro paga com os lucros que obteve com o investimento na manipulação jornalística, o PSD, como é costume, paga os favores com o dinheiro dos contribuintes.

Obs: Há 5 anos que andamos a dizer que o Jumento anda a fazer serviço público, pelos enormes contributos que tem dado à democracia, ao pluralismo de informação e de análise, à construção de narrativas inteligentes e, naturalmente, à eficiente desmontagem de ciladas que les uns et les autres tentam fazer para iludir o zé povinho e, assim, compreender melhor como funciona quem está na oposição ao pretender substituir quem está no Poder.

Vale tudo para Cavaco, o soit-disant Presidente de todos os portugueses. "Todos" significa aqui os amigos de Ferreira Leite, naturalmente.

No caso vertente, Cavaco Silva envolveu-se até ao pescoço na tentativa de assassinato político do PM, José Sócrates, através desta estória pacóvia, típica dum Allgarve doente, quezilento e paroquial à moda da Guerra Fria e do velho conflito Leste-Oeste descrito nos livros de espionagem. Cavaco, pela sua conduta, estagnou no tempo e cristalizou-se na década de 80 do séc. XX. Hoje, já não se faz política assim.

Cavaco e seus assessores - com as pontes que estabeleceu junto de alguns jornalistas sem escrúpulos do Públicu, tenta criar um clima propício à vitória de Ferreira Leite nestas legislativas.

Fez mal, muito mal porque subverteu as regras da democracia pluralista. Hoje, estou plenamente convencido, que nem 1/3 das pessoas que o apoiaram votaram nele. Quanto a Manuela Ferreira Leite só os amigos Pacheco, Fernandes, Belmiro e o António Preto é que ainda seriam capazes de subscrever os pontos de vista do elemento que em Portugal mais tem contribuído para elevar os índices de sinistralidade política temperado com a intrigalhada de Belém.
Hoje, quando se olha para alí (zona de Belém), apenas se reconhece dois sentimentos contrapostos: os pastéis de Belém, que são uma coisa boa; e o Palácio Rosa cujo locatário em vez de ser um traço de união entre os portugueses converteu-se no chefe de fila da oposição e co-autor de narrativas pseudo-políticas de índole securitária com o fito de eliminar políticamente o PM.
Cavaco nunca desistiu de governamentalizar S. Bento a partir de Belém. É, aliás, para isso que serve Ferreira Leite.
Resultado: Cavaco entrou entrou em processo acelerado de auto-decomposição.
Cavaco já não existe políticamente, ele apenas cumpre calendário. É um resíduo formal. E nisso é igual a Ferreira Leite. Que, por sua vez, tem o mesmo valor facial de Pedro santana Lopes: uma troika de más-moedas na república à portuguesa.
No fundo, Cavaco tinha razão quando cunhava Santana Lopes de má-moeda, o tempo passa e isso revela que agora é o próprio tempo que se encarrega de lhe pagar com a mesma moeda.
PS: Esperemos, doravante, que Cavaco não tenha a má ideia de se lembrar em homenagear o Jumento atribuindo-lhe a medalha de mérito no Dia de Camões. Pois apesar de revelar o cinismo com que o PR costuma homenagear uns e preterindo outros, o putativo homenageado também não aceitaria coisa tão grotesca.
Medalha por medalha, sempre seria preferível manjar os tais "carapaus alimados" que ainda não consegui encontrar.
ESTA IMAGEM DO JUMENTO É DUM HIPER-REALISMO ATROZ, RAZÃO POR QUE MERECE DEVIDA MEDITAÇÃO, ESPELHA BEM A DECADÊNCIA DO REGIME PARA QUE CAVACO TEM LAMENTAVELMENTE CONTRIBUÍDO. POR ACÇÃO E POR OMISSÃO. E É PENA, PORQUE NO PASSADO MUITA GENTE AINDA O JULGOU UM POLÍTICO SÉRIO. HOJE A REALIDADE DESNUDOU-SE, O VERNIZ ESTALOU E O PODER DE BELÉM CAÍU À RUA...