terça-feira

Certos políticos evocam-me o "paradoxo" do Burro de Buridan

O burro de Buridan foi concebido na obra de Aristóteles e depois desenvolvido pelo filósofo Buridan (na Idade medieval) e visa explicitar a razão pela qual o burro entra num indeterminado processo de indecisão quando confrontado com um balde de água e um fardo de palha. O burro estando ao mesmo tempo com muita sede e com muita fome não sabe que decisão deve tomar em primeiro lugar, e é essa indeterminação que acaba por o matar, dado que o burro não consegue tomar uma decisão racional e/ou estabelecer uma prioridade.

Na política, na economia, na sociedade e na vida das organizações em geral há actores que revelam a mesma indeterminação, desde logo pelas palavras e formulações que encontra para apresentar as suas ideias. Cavaco, no seu discurso d' hoje, acabou por revelar o paradoxo do burro de Buridan, não foi claro, entrou em flagrante contradição, introduziu areia na engrenagem e, com isso, tornou-se no principal fautor de instabilidade política nacional. Mesmo sendo preferível adiar decisões até que se disponha de mais e melhor informação - hoje os portugueses constataram que aquele adiamento do esclarecimento do PR só redundou num conflito institucional ainda maior entre Belém e o Governo.

Cavaco, consciente ou inconscientemente, acabou por se colocar no papel do burro de Buridan ao não saber falar claro, chamar as coisas pelos nomes e, razão maior, estabilizar as relações politico-institucionais entre os órgãos de soberania.

Numa palavra: Cavaco está cada vez mais isolado e é o principal virús do sistema político, por isso pode não conseguir terminar o seu mandato.

O ressentimento acumulado do PR na sequência do diferendo acerca do Estatuto dos Açores, da derrota da sua amiga Manuela Ferreira Leite está hoje a consumir a mente envelhecida e pouco sagaz daquele que deveria ser o principal elemento estabilizador do sistema político português.