segunda-feira

O bom jornalismo vs mau jornalismo

A recente polémica entre o péssimo jornalismo vs bom jornalismo - que também se vai praticando pelo país, obriga-nos a equacionar alguns valores, princípios e regras que devem presidir a essa nobre tarefa que é informar, de preferência com rigor, objectividade e imparcialidade. Isto pressupõe que uma estação de tv, a sua direcção, todos e cada um dos jornalistas têm (e devem) saber utilizar o "Ferrari" que têm nas mãos, ou seja, a sua função crítico-verificadora a fim de descodificar e redescobrir a realidade para a servir à opinião pública (já) liberta dos vícios, das deturpações e das inquinações que tem no seu estado bruto.
Na prática, é necessário verificar a informação sob pena de se estar a comprar gato por lebre, umas vezes de forma inconsciente e ignorante, outras, como certos jornais de vésperas de fim de semana, de forma ignorante e dolosa, apenas com o intuíto de penalizar terceiros afectando a sua imagem junto da opinião pública e publicada. E nisso, como em tudo na vida, há sempre meia dúzia de vendilhões do templo predispostos a tudo, motivados por razões políticas, pessoais, culturais e outras que tais. Motivações essas que, de facto, não abonam nem ajudam a credibilizar o jornalismo em Portugal.
Por conseguinte, a verificação é uma das funções primordiais da documentação que serve de base à produção de notícias em todos os graus e escalões da actividade informativa, culminando na verificação da verdade - que é sempre uma construção sociológica - e tem um valor semântico que importa precisar a fim de evitar equívocos sempre latentes na produção e divulgação da informação. Seja ela local, nacional, internacional ou de cariz planetário.
No fundo, da aldeia - à aldeia global de que falava o sociólogo canadiano Marshall MACHULAN, a informação merece ser tratada com pinças, e pelo que vejo muitos blogues - sem evocar os melhores, produzem e divulgam melhor análise e informação do que certas estações de tv manhosas, animadas pelo tal dolo, nutridas pelo ódio a A, B e C, e é nesse instante que se percebe que a estação de tv assume o papel de partido radical anti-sistema, como se fosse o BE ou mesmo o PCP. O revela a vontade obsessiva-compulsiva de alguns pseudo-jornalistas enveredarem pela actividade política, e alguns, curiosamente, até já foram deputados, com resultados verdadeiramente insignificantes.
Dito doutro modo: a função de verificação implica aferir da factualidade e da exactidão dos factos, dos nomes, das datas, das citações, dos enquadramentos; da sua função crítica - que não consiste em assassínios de carácter mas em indagar se as citações feitas pelas personalidades públicas batem certo com as fontes ou se são falsas; e ainda evitar erros ocasionais ou intencionais que aparecem mais ou menos ocultos no processo complexo de produção de informação e comunicação.
Portanto, a função verificadora da informação é de extrema importância e coadjuva no processo de comunicação global duma dada estação de tv, rádio ou jornal. Ainda que por vezes certas estações de tv não passem de tascas-informativas ao nível de bairro que não conseguem ter uma relação séria e transparente com o tratamento da informação, e quando vêm moinhos de vento dizem logo que se trata dum exército que urge combater. São também as mesmas estações de tv que quando se deparam com umas meretrizes nas esquinas das ruas de má fama dizem tratar-se de senhoras finas da alta sociedade, sérias e impolutas, mas só de dia...
É esta "estética do abismo" e do botox - que tudo relativisa, que urge erradicar do jornalismo em Portugal, tratam-se de ervas daninhas que só dão mau nome à classe (dos bons jornalistas), além de escavacarem diáriamente os factos que têm de tatar e divulgar. Os mesmos que depois servem à opinião pública como se dum prato de lentilhas se tratasse. E algumas pessoas, sem filtros, lá vão comendo aquelas mestelas travestidas de informação séria e rigorosa.
A Time deu-nos bons exemplos ao dotar-se de funções e de departamentos de documentação, formando a função dos chekers, os tais verificadores. No Der Spiegel também há o cuidado na exaustividade e verificação da exactidão e correcção da informação, incluindo a linguística.
Daqui decorre, à partida, uma conclusão óbvia: a informação jonalística é um saber, uma missão de serviço público, um factor de libertação e de liberdade e não de assassínios de carácter, violando o princípio da presunção da inocência que qualquer jurista conhece bem. Por isso, é pena que o Miguel Sousa tavares (também jurista), tenha desaparecido do mapa da actual discussão em Portugal em torno da qualidade da informação (ou da falta dela!!!), porque ele, até como repórter e homem de cultura e de causas e um cosmopolita, teria muito para ensinar à estação onde presta serviço e a algumas amigas em particular que ainda não entenderam bem o que é e para que serve o jornalismo.
É pena este silêncio ensurdecedor do Miguel Sousa tavares. Pergunto-me se continuará rouco ou foi para o deserto em busca d' água e petróleo...
Ou seja, o bom jornalismo, cumpridas aquelas regras, deve ter um método e uma criteriologia que possa purificar as fontes de informação, separando o trigo do joio; deve diferenciar os casos, porque uma bela cadela de raça vista por tráz pode transformar-se numa elegante senhora loira pela frente, por isso o Kant nos dizia que o tempo e o espaço nos enganam; não deve haver preconceitos ideológicos, rácicos ou outros olhando de forma lúcida para os factos objecto de tratamento; evitar maniqueísmos, do género A é por mim, B é contra mim; evitar a desinformação e a intoxicação da opinião pública - coisa que alguns jornalistas poucos sérios fazem amiúde; evitar explicações editoriais em que o marido, o tio, o padrinho venha em defesa da sobrinha, da mulher ou da afilhada - num exercício de menoridade intelectual verdadeiramente vergonhoso e ridículo, etc...
Seria útil que algumas actrizes do espaço mediático do burgo lessem algumas coisas sobre a profissão que exercem, mas, lá está, não é pelo facto de alguém trabalhar num media que se pode intitular jornalista. Não é por uma pessoa entrar num hospital ou numa universidade ou até numa autarquia que se pode intitular médico, académico ou mesmo autarca.
Portugal, e é triste reconhecê-lo, é um belo rectângulo à beira-mar plantado, mas está repleto de "sapateiros da informação" (sem ofensa a essa arte já em vias de extinção), e a pior coisa que pode haver num media é pedir a um sapateiro que trate e divulgue informação. Pela mesma razão que também não é lícito pedir a um jornalista que meta umas meias solas nos saltos altos de alguma pessoa recalcada e frustrada que julga poder escoar tais frustrações fazendo o tal péssimo jornalismo.
Neste caso, não só envergonha o/a visada/o como o país onde esse servicinhos vão sendo fornecidos ad hoc e ad hominem...