domingo

Evocação de Woody Allen. "Sobre o amor". Dido

É melhor ser amante ou o amado? Nenhuma das coisas, se o colesterol passar dos seicentos. Quando me refiro ao amor refiro-me, evidentemente, ao amor romântico - ao amor entre homem e mulher, e não entre mãe e filho, ou entre um rapazinho e o seu cão, ou entre dois criados de mesa.
O que é maravilhoso é que quando se está apaixonado se sente um impulso para cantar. Deve-se resistir a isso com todas as forças, e deve-se também ter o cuidado de evitar que o macho ardente "recite" as letras das canções. Ser-se amado é, evidentemente, diferente de se ser admirado, pois pode-se ser admirado à distância, mas para amar alguém verdadeiramente é preciso estar no mesmo quarto que a outra pessoa, agachado atrás das cortinas.
Para se ser um amante verdadeiramente bom tem de se ser simultaneamente terno e forte. Forte até que ponto? Suponho que chega a ser-se capaz de levantar cerca de vinte quilos. É preciso não esquecer também que para o amante a amada é sempre a coisa mais bela que se pode imaginar, mesmo que um estranho a não possa distinguir de uma qualquer variedade de salmonídeos. A beleza está nos olhos do espectador. Se o espectador tiver falta de vista, pode perguntar à pessoa que estiver mais perto quais as raparigas mais giras. (Na verdade, as mais giras são na maior parte das vezes as mais chatas, e é por isso que algumas pessoas acham que Deus não existe.)
"As alegrias do amor são breves", cantou o trovador, "mas as penas do amor são eternas." Isto quase chegou a ser uma canção de êxito popular, mas a melodia era demasiado parecida com I' m a Yankee Doodle Dandy.
in Woody Allen, Prosa Completa.
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Dido - Don't Believe In Love [2008]