terça-feira

Vital Moreira pôs em prática a sua "resistência passiva"

A melhor forma de avaliarmos o outro é colocarmo-nos no seu lugar, enquadrado pelas mesmas circunstâncias, pelo mesmo ambiente. Foi isso que fiz ao ver e rever o vídeo no post infra, em que Vital Moreira é cuspido, pontapeado, esmurrado e outras coisas que os ângulos mortos das câmaras de tv não conseguiram captar no calor dos movimentos apressados. Confesso que temi o pior, dadas as circunstâncias daquela multidão em fúria que podem ser tão admiradoras como violentas e, no limite, assassinas. Mas Vital, que já tem traquejo político e aguenta bem o jogo de cintura, aguentou bem a parada. Levou com perdigotos de pessoas sem nível, foi empurrado por alcoólicos, etc. Reagiu como eu não seria capaz de reagir: com um estoicismo assinalável, quase predisposto a ser espancado para continuar naquele trajecto, uma vez que o tomou como destino. Marcelo de Sousa ao dizer o que disse, criticando a forma como Vital se comparou a Mário Soares na Marinha Grande, onde este também foi agredido, foi injusto e maldoso, porque as circunstâncias não eram para "vaidades", eram de defesa física ante uma multidão em fúria quase disposta a muito mais. Provavelmente, o douto Marcelo - como sabe karaté, comparar-se-ía a Chuck Norris ou mesmo a Bruce Lee e começava para alí a distribuir golpes revelando todo o esplendor da suas artes marciais, que aqui temos por hábito cunhar de prestidigitação - vertidas nas suas homilias em que já muito pouca gente crê. Ou então improvisaria alí uma piscina e daria um mergulho como forma de se eclipsar. Bem sei que Vital Moreira integrou o PCP e demorou muito a perceber o partido fascista em militara (o PCP), mas mais vale tarde do que nunca, e aproveitou a onda democrática da queda do muro de Berlim desencadeada com a glasnost e a perestroika de Gorby para se pirar daquele vespeiro anti-democrático. Fez bem. Aquilo que os comunas designam de traição a Vital, cunhamos nós aqui de libertação. Portanto, Vital Moreira libertou-se daquela canga a partir do momento em que se livrou daquele esquema de pensamento doentio, hermético, falseador da história e manipulador dos homens - nutrindo-se do ódio, da falsa consciência, da mentira e da vingança. Voilá, os ingredientes do PCP. Vital lá marchou contra contra aquela chusma, arriscando ser sovado e literalmente espancado, bastaria que o rastilho da psicologia das multidões em fúria se incendiasse um pouco mais. Nem Vitor Ramalho escaparia. Ainda que aquelas reclamações tenham algum fundamento, porque muitos trabalhadores vivem em condições precárias em Portugal, nada justificaria escolherem um candidato independente apoiado pelo PS para bode expiatório das suas próprias raivas e vendettas. Vital, no fundo, serviu de "saco de box" para a contestação anti-governamental, mas aguentou bem a parada. Soube tirar a razão à multidão através duma receita simples: não revelou medo, seguiu em frente, mostrando-se decidido a poder ser eventualmente espancado - mas era esse o custo pessoal de ter de chegar ao destino. Diria, para concluir, que este pequeno caso de campanha, lamentável por si só, e agravado pela forma (canalha) como reagiram os dirigentes do PCP, é digno de atenção de um Gustav Le Bon - que compreendeu como ninguém quão manipuladores, violentas, irracionais e velhacas podem ser as multidões em fúria. No passado, no presente e no futuro. Demonstrando que a condição humana, no fundo, é capaz das coisas mais sublimes como das coisas mais miseráveis, e foi neste registo que Jerónimo de sousa e suas hostes se comportaram neste episódio de campanha. Vital Moreira foi o único que esteve bem naquela fotografia. Revelando uma coragem pessoal e política que, sinceramente, não lhe conhecia. Ao constitucionalista excepcional emergiu um homem de coragem. Os deputados da AR deveriam meditar nisto e tirar algumas ilações. Pela minha parte, confesso, Vital Moreira ainda subiu mais na minha consideração.