terça-feira

A ilusão é o sal da vida

Não são só os partidos políticos, os autarcas e, em geral, a classe política de que Cavaco Silva é parte integrante, apesar de sempre ter cultivado uma imagem supra-política (para inglês ver!!), talvez para se eximir aos defeitos que neles projecta, que dinamiza o mecanismo da Ilusão em política, muito presente nas estratégias políticas, sobretudo porque a política vive, em boa medida, da representação. E isso, por vezes, implica subordinar o real à ilusão. Nem sempre para capturar o poder ou fazer um bom negócio. Por natura, a ilusão é inerente à condição humana, seja quando Cavaco vai dizer aquelas coisas acerca da facilidade da adesão à Túrquia ou quando um homem está apaixonado pela mulher errada, ou vice-versa. A ilusão é uma miragem de que todos nos alimentamos, directa ou indirectamente, e por uma razão biológica e genética: fomos concebidos para crer, e foi assim durante milhares de anos, portanto não é agora com uma simples viagem à Túrquia e uma visitinha aquela perna asiática e à Capadócia que a condição humana muda a sua natureza. Mas quando a ilusão é orquestrada, aí o caso muda de figura e caímos naquilo que Cavaco tem criticado aos partidos polítidos em contexto eleitoral, ao prometerem ao eleitorado aquilo que sabem jamais poder cumprir. É nestas condições que os dispositivos normais de regulação política são substituídos pela manipulação das emoções, ou seja, as emoções tomam conta das racionalizações, que foi precisamente o que Cavaco fez naquele discurso na Universidade do Bósforo, deixando a ideia àquela plateia, e aos turcos em geral, que a Túrquia entrará na UE a breve ou médio prazo. E aqui abre-se uma bifurcação que só os assessores geniais de Belém poderão descodificar:

  • ou o PR acreditou genuinamente nas palavras que proferiu (tese em que não acredito, apenas quis ganhar as simpatias locais para abrir mercados de exportação à economia portuguesa);
  • ou fez aquilo que costuma criticar aos partidos: subordinar o real à ilusão, prometendo aquilo que sabia antecipadamente não poder cumprir.
    Bem prega Frei Tomás, again...