quinta-feira

Notas e Pensamentos fala-nos de "orçamentos" (empresas e Estado)

O filhão costuma dizer que os telejornais só dão más notícias, e mesmo assim muito raramente o canal visto é a TVI. Pelo meu lado acho muitas vezes que as notícias se repetem no conteúdo, apenas com uma forma diferente. Ver um grupo de Palestinianos à frente de Israelitas é em tudo similar a deputados de uma qualquer oposição à frente de deputados do governo ..... quando faltam as armas, tudo serve de arma de arremesso, sejam pedras ou estatísticas. Para os menos conhecedores de matemática, convém explicar que a estatística é uma ciência exacta na directa proporção do universo de dados que se escolhe para analisar.
Neste momento insiste-se na necessidade de ter ou não um orçamento rectificativo, não pela situação macro-económica de Portugal, mas apenas para apregoar a falha do governo em matéria orçamental. No dia que isso acontecer, é o chamado banquete político da oposição.
Como dizia um amigo meu, “um orçamento é um acto de contrição de fé”. A minha experiência em todas as empresas em que passei, tanto como consultor, como quadro, é que se orçamenta mal, muito por culpa do processo em si. Como resultado disso, o último trimestre é muitas vezes um verdadeiro sufoco pelo facto da realização orçamental estar positiva ou negativa. A diferença de sinal é normalmente designada de stress dos seus responsáveis.
O orçamento deveria ser uma materialização da estratégia da empresa ou governo, na expressão a um período de tempo definido, regra geral um exercício fiscal. Isto muitas vezes não acontece. Na parte das receitas aumenta-se sempre pois raramente a estratégia é de redução. Na parte dos custos, um peso significativo são os projectos, porém, estes são muitas vezes apenas previstos e pensados em cima da construção do orçamento ou então vêm do passado, sendo que geralmente reflectem mais as necessidades operacionais correntes e menos a estratégia.
A doutrina é aumentar as receitas na estrita expectativa do EBITA esperado e depois logo se vê ..... o que dá sentido à expressão “contrição de fé”.
Um orçamento é a previsão das receitas e das despesas, o que no final dará um resultado que acima de tudo se destina a remunerar o accionista. É para isso que as empresas existem. Em alguns casos, como é o caso dos governos em áreas como a educação, o resultado financeiro deverá ser nulo e os resultados medidos de uma forma não financeira, ou seja, qualitativa. Mas tem de haver resultados. O princípio deverá sempre ser uma relação directa, ou seja, custos transformam-se em resultados.
No capítulo das despesas orçamenta-se o conhecido, com um grau de certeza directamente relacionado com a maturidade orçamental da empresa, porém, estou para conhecer a empresa que coloque uma rubrica de “Despesas desconhecidas” que seria calculada com base nos valores que todos os anos se incorrem e que não estavam ou podiam ser orçamentados. A verdade é que eles existem. O problema é que isso acaba por se reflectir no EBITA e como tal é mais fácil passar o ano a esconder ou justificar desvios estranhos, algo que se aprende na escola da vida na cadeira de contabilidade criativa. Como no estado não se pode canalizar verbas de umas rubricas para as outras, temos os problemas que temos.
Este fim-de-semana falava com uma pessoa que já fez todas as formações possíveis, algumas delas repetidas, pois no fim do ano as verbas de formação tinham de ser gastas. Este é o grande pecado do nosso Orçamento de Estado que nunca ninguém quis corrigir, seja por falta de visão, interesses diversos, falta de engenho e arte ou por uma das piores razões que existe ..... sempre foi assim.
Principalmente no Estado mas também nas empresas privadas, se não se gasta tudo o que foi previsto, no ano seguinte a diferença é retirada ao orçamento. Não interessa se foi bem ou mal gasto, apenas se foi ou não gasto. Para os idealistas que por esta altura estão a pensar que isso vai contra a ética de bom profissional, não lhes digo que estão errados, pois não o estão, apenas que não vivem na realidade.
Se houvesse uma análise séria a esses desvios e o orçamento apenas reduzido no que efectivamente está a mais, não se incorriam em custos desnecessários, muitas vezes com impacto directo na produtividade. Faz-se muita coisa para cumprir os objectivos ou verbas definidos à mais de 400 dias atrás. O resultado operacional das empresas e organismos estatais sairia beneficiado, sendo provavelmente superior ao esperado, o que é sempre do agrado dos analistas e principalmente dos accionistas.
Mantendo-se a actual conjuntura macro-económica vamos acabar por ter de rever o Orçamento de Estado por via das receitas, ou neste caso a falta delas, mas iremos continuar a gastar mal verbas muito significativas até final do ano. É uma das perversões históricas do O.E. que ninguém tem coragem política de resolver ou minorar.
Na prática apetece dizer aquela célebre frase do conto de Hans Christian Andersen (“But he has nothing on at all,”), conhecido entre nós como “Olhem! ..... o Rei vai nú!”
Obs: Este texto articulado e com consistência revela-nos, creio, algumas (in)certezas típicas dos tempos contingentes que vivemos:
  • 1. Gerir a incerteza das receitas e das despesas tornou-se um autentico exercício de adivinhação incompatível com a própria planificação política e económica duma empresa, quanto mais dum Estado, em que as variáveis micro e macro-económicas são mais incertas e mudam à velocidade do vento, que sopra em diferentes sentidos.
  • 2. Gerir processos e dinâmicas políticas em contextos de globalização competitiva é estruturalmente diferente do que gerir e planificar em contexto de economia regulada pelo Estado num contexto pré-globalização - em que o Estado tinha na sua posse os instrumentos politico-administrativos e de políticas económicas e fiscais capazes de condicionar aquela planificação que interferia directamente com os resultados desejados. Hoje, com a fronteira e os mercados abertos, vale só uma regra: a da competitividade das economias, pois são essas que definem os preços, a qualidade dos bens e serviços oferecidos no mercado e, por extensão, a influência económica que um País consegue obter no complexo jogo económico internacional e global em que opera. Ou seja, no xadrez da globalaização competitiva, tantas vezes um quadro de decisão mais oculto do explícito, embora as decisões não possam ser adiadas. O TGV e o aeroporto internacional de Lisboa são dois exemplos em relação aos quais a comunidade dos economistas e experts em geral. Mas os mais curioso é que já o Governo Durão barroso (em 2004) pretendia realizar o TGV, mas por falta de arcaboiço político meteu o projecto na gaveta. Agora Sócrates está a abrir a gaveta. Acho que faz bem, pois os efeitos indutores de crescimento são maiores do que a inércia de não os realizar. Os estudos técnicos explicitam essa relação custo/benefício, e parece que tais estudos estão no ministério das Obras Públicas.

  • 3. Em matéria de TVI podemos presumir que existem programas do Peres Metello, da Constança Cunha que são credíveis, agora aquele circo das 6ªfeiras é um espectáculo tão deprimente que nem num bar mal afamado de Bragança teria lugar. O casal Moniz nutriu um ódio de estimação ao PM por razões e motivações essencialmente de ordem (pessoal) e política. Mas é bom lembrar que a dona Manuela - cuja formação técnica, científica e jornalística é muito baixa, já teve problemas noutras estações de tv por onde passou, precisamente por ser demasiado agressiva com os entrevistadores, formular mal as questões, extrair conclusões abusivas, no fundo fazer um péssimo jornalismo e até conhecer mal a língua portuguesa, o que leva às tais más interpretações - que um jornalista qualificado deve poder saber fazer. Comigo nem à 2ª Chamada a Setembro iria. Era chumbo definitivo. Recordo, adicionalmente, que em tempos entrevistaram um conjunto de jornalistas colegas da senhora a quem convidaram dar uma opinião sobre ela, apesar de ser a mulher do Director da Estação, e algumas colegas de serviço se lhe referiram como sendo uma pessoa "muito instável". Eu diria, estruturalmente incompetente, e se calhar era isso que aquelas inquiridas pretendiam dizer, mas não o puderam fazer, pois tratava-se da mulher do "boss" da estação, por isso foram diplomatas. Mas a senhora sabe tanto de jornalismo como eu de lagares de azeite ou o amigo António Guerra de física quântica. Já não vou dizer de medicina, porque disso também sabe e até partilha com os amigos...
  • 4 Por outro lado, à cadência a que as variáveis macro no plano mundial e europeu se alteram, provocam a necessidade de ajustamentos e de correcções ais frequentes nos orçamentos. Teremos, pois, de fazer orçamentos plurianuais. E quando se descobrir que com eleições semestrais haverá mais obras a inaugurar, o ciclo político também se encurtará... Ou então fazemos como o Manoel Barbosa do Bocage: se puxamos a manta para tapar a cabeça, despatamos os pés, se tapamos os pés ficamos de cabeça destapada. Como saídos deste dilema?! Só com mais crescimento, produtividade, competitividade e, logo, mais impostos e mais receitas do Estado. Sem isso não há recursos para gerar emprego, não há investimento, não haverá consumo e tudo paralisa a ponto da crise evoluir para a recessão - com crescimento zero. Os tempos do FMI na 1ª crise do petróleo (em 1977) e na 2ª crise (em 1983, mais grave), resolveram o problema, nós apertamos o cinto e voltamos a crescer e demos cabo do défice através do regime de austeridade das contas públicas imposto pelo FMI. Mas hoje este tipo de problemas económicos já não se resolve pelo recurso ao FMI, que é receita uma do passado.

  • 5. Com bons ou maus orçamentos, com boas ou más execuções, com ou sem derrapagens orçamentais, o que sei de Estatísticas - que é muito pouco - é que elas não choram, e o que elas dizem para Portugal é ainda menos mau do que os organismos congéneres dizem para Espanha e outros países da Europa que estão também em recessão (e com mais desemprego), na sequência do sub-prime cuja crise gerou outra de natureza económica e provocou o desastre social que conhecemos.

Portanto, temos uma crise múltipla, com a agravante de ser continuada no tempo e só ser aplacada mediante políticas coordenadas da UE, daí a importância de ir votar nestas eleições para o Parlamento Europpeu, e uma leitura mais depurada dos vários programas e quadros gerais de promessas não é difícil concluir que o conjunto de ideias autónomas de Vital Moreira, cabeça de lista pelo PS, que estão expressas num conjunto de artigos escritos nos media que foram corporizadas em livro, Nós Europeus - afigura-se a melhor opotunidade para reflectir e agir em conformidade, se é que queremos que o rei (deixe) de ir nú...

  • Nua só uma rainha, mas nós já não temos tradição monárquica, e as nossas rainhas, à altura, também não eram lá grandes peças estéticas que se valorizassem quando descascadas, por isso o melhor mesmo é continuarem vestidas e apostarmos na República que temos.

Grave é já as receitas do Estado estarem a diminuir, porque menos impostos traduz menos dinheiro nos cofres do Estado para pagar pensões de reforma, subsídios de desemprego e outros tantos apoios sociais de cariz solidário nesta conjuntura recessiva.

Esta realidade empurra-nos, inevitavelmente, para a boca do inferno. Um inferno que nos evoca J. M. Keynes que dizia que só havia duas certezas na vida: é que temos de continuar a pagar impostos e que, a longo prazo, estamos todos mortos.