A mentira em política. Regresso a Jean Paul Sartre
A mentira em política é um mecanismo essencial de captura, manutenção e, se possível, reforço do poder. Maquiavel, Hobbes e mais alguns filósofos da política e teorizadores do poder explicaram isso com grande lucidez e mestria. As sociedades modernas, por maioria de razão, pressionam a que a mentira se reforce, se institucionalize, ou seja, ganhe foros de cidade e passe a um capítulo autónomo do estudo da ciência (e praxis) do poder. Naturalmente, isto aplica-se a todos os partidos, à generalidade dos actores políticos, mas mais a uns, como em tudo na vida, do que a outros. Ou seja, os efeitos da mentira política atingem mais aqueles actores políticos sem credibilidade, sem identidade, sem carisma, sem projecto porque, assim, procuram compensar a falta de ideias para imputar a falta de seriedade aos outros (que estão no poder). Na prática, é isso que a actual directora do psd, Ferreira leite, tem tentado fazer relativamente a Sócrates. Subliminarmente, aproveita a onda do Freeport para o incriminar na praça pública, fazendo o jogo da corporação da repúblicazinha dos juízes e de alguma comunicação social, à falta de melhores ideias para a governação. Leite especializou-se na chicana política, e todas as suas derivas, opiniões, formulações, farpas não revelam senão a mais pura canalhice na política à portuguesa. É neste registo de "seriedade" que ela se sente como "peixe na água". É esta a sua contabilidade de ajuste de contas de ódios por saldar, e que remetem ao tempo em que o seu nome foi vetado por Sócrates para a presidência da Caixa Geral de Depósitos. Como isto falhou, teve d' ir para a direcção do partido da Lapa. Por outro lado, constata-se que Ferreira leite não tem ideias consistentes em nenhuma das políticas sectoriais: investimentos públicos, segurança/criminalidade, ambiente/novas energias, educação, segurança social... Nenhuma destas políticas públicas beneficia de uma única mais-valia por parte do actual psd. Desse vazio de ideias e projectos, desse buraco nasce uma necessidade congénita de recorrer à falácia, ao sofisma e até mesmo à mentira para realizar um projecto que, na verdade, não existe. O psd é, hoje, o autor desse vazio, desse nada na sociedade portuguesa, apenas lhe resta dizer que o PM não é sério, que tirou o canudo na UnI, que foi um mau engenheiro, etc... Na notícia imediatamente abaixo verificamos aquilo que os observadores mais atentos do fenómeno político já sabem. A prática pura e dura da corrupção para financiar campanhas partidárias, numa promiscuidade entre interesses privados e projectos políticos. António preto foi o rosto dessa podridão partidária dentro do psd, sobretudo ao tempo em que presidiu à Distrital do psd em Lisboa. Foi a partir dessa altura que o psd começou a perder prestígio, quadros de valor, ideias, ideais, no fundo, o psd degradou-se e desagregou-se. No plano nacional e também no plano local/autárquico, em que as interferências na CML eram diárias, razão por que a gestão de Lisboa ao tempo de Santana e de Carmona Rodrigues foi das mais negras na história democrática em Portugal. Isto explica a razão pela qual toda a gente com valor no psd virou costas a Ferreira leite quando esta foi empossada no congresso de Guimarães. Quadros qualificados da área do psd concordaram em ajudar Leite com a condição que os seus nomes não aparecessem nos jornais. Seria, assim, uma espécie de ajuda oficiosa, informal, oculta com a novel líder. Em parte, porque nunca ninguém com cabeça acreditou na valia política de Ferreira leite. Notícias como estas (ver post abaixo) são a prova provada de que a mentira começa na cabeça dos homens, desenvolve-se no interior dos partidos e revigora-se através de alguns dirigentes (conjunturais), e é através desse dispositivo tão nuclear quanto primário que se vai fazendo política no seio de alguns partidos em Portugal. Ao ler a notícia abaixo, que não é novidade para ninguém e já tem "barbas", o actual psd coloca-se numa posição delicada em matéria de seriedade, de credibilidade e de transparência política perante a sociedade portuguesa. No fundo, alguém treinado para mentir recolheu dinheiro de proveniência privada para liquidar uma campanha política, mas o mais sintomático nessa relação entre "treinadora e treinado", entre "madrinha e afilhado" - na arte da mentira na política - é que a mentira teve lugar no interior do partido, proveniente do seu dirigente e toda a narrativa política se desenvolve, paradoxalmente, em nome da liberdade e do bem comum. É preciso ter lata... No fundo, o que a notícia abaixo traduz, por isso ela é tão grave, é a fórmula que diz - "se eu minto - faço-o em nome da liberdade". E se os militantes e simpatizantes desejam atingir esse grau de "liberdade" devem querer continuar a ser enganados se for necessário. Esta foi, afinal, uma das grandes lições que o filósofo existencialista, Jean Paul Sartre nos legou, e que hoje espelha bem o pólo gerador da mentira política (partidária) em Portugal como justificação de um projecto no vazio: o projecto deste psd. E o mais curioso é que são as pessos que mais falam em seriedade, em credibilidade, em rigor e transparência que depois mais mentem - denunciando a psicopatologia e a sociopatologia de alguns dirigentes conjunturais na política à portuguesa. Porque é nessa pessoas que se centra a maior distância entre as suas proclamações e aquilo que eles realizam. A história é um jogo de espelhos partidos cujos reflexos e ressonâncias negativas convergem todos para a Lapa. E é pena, porque o PS merecia uma oposição à altura das circunstâncias e dos desafios que atravessam hoje a política e a economia nacionais.
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