domingo

A sociopatologia da política à portuguesa: o psd é um caso grave

  • No campo da patologia há duas áreas que não devem ser confundidas, ainda que se cruzem no mesmo tempo e espaço políticos: a psicopatologia - relacionada com os problemas internos, em que o ser humano se sente vítima de si mesmo e diz que os outros não o ouvem nem lhe ligam nenhuma. Já se está mesmo a ver quem é...
    E a sociopatologia - que trata das dificuldades sociais em que o ser humano se sente vítima da sociedade.
    Em ambos os casos estes desvios psicopolíticos afectam hoje sobremaneira o PSD na sua vida pública em Portugal. A falta de liderança e de credibilidade poderiam explicar o assunto de forma definitiva, mas talvez seja útil pormenorizar a explicação, até para benefício dos próprios, ou seja, para utilidade dos players do psd que hoje revelam uma aparelhagem psíquica no terreno político inteiramente desarranjada, o que redunda na esterilidade das suas propostas, na criancice dos seus comportamentos e em toda uma construção da organização social errônea dissociada dos verdadeiros interesses da sociedade.
    Vejamos alguns exemplos que ilustram esta sociopatologia política que tem deixado o psd pregado ao chão:
    1. Aguiar-Branco, vice-presidente do psd, que talvez desejasse ser cabeça de lista pelo partido às europeias, vai para a TSF fazer queixinhas ao PR, e pede a Cavaco para interferir e pôr ordem no Ministériop Público, dar uns assoites no rabo de Alberto Costa, ministro da Justiça (um mau ministro, por sinal - até quando tutelou o MAI - nunca percebi, aliás, porque razão Alberto foi e é ministro...) - pensando Aguiar Branco que Cavaco encarna um daqueles presidentes com iniciativa governamental. No fundo, Aguiar-Branc não passa dum queixinhas na tsf, e como vice do psd nenhuma ideia teve ou a capacidade de a apresentar. É mais um político cinzento escolhido pela srª Frreira. Esperemos seja melhor advogado do que é político;
    2. O PR, Cavaco e Silva (como diz o zé povinho) regressou à "lama" do Estatuto dos Açores, após ter feito política baixa através dos telejornais, o que contrasta com a sua maneira de ser, Cavaco deveria ter enviado o diploma para o Tribunal Constitucional para aí serem expurgadas as normas consideradas inconstitucionais. Não o fez, entendeu que o circo mediático era o seu terreno e o grupo parlamentar do PS deu-lhe uma sova política humilhando-o públicamente. Por isso, é natural que Cavaco se queira vingar voltando à carga do Estatuto dos Açores, só que agora a coisa tem outra finalidade: ajudar a sua ex-pupila, hoje em grandes dificuldades, a manter-se à tona e conseguir uns 22% no seu psd - com que depois apoiará Cavaco a Belém num 2º mandato. Daí a preocupação de Cavaco com os Açores. Ainda cheguei a pensar que era por causa das assimetrias regionais que ainda separam as regiões insulares das restantes regiões do continente, mas não: trata-se apenas de ajudar a Manela. That´s for friends are for...
    3. O eminente constitucionalista (eminente é exagero!!!), o constitucionalista, ou melhor - alguém que fala com eles, Rui Manchete - o "papa" vitalício da FLAD - Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento - foi depor à Comissão de Assuntos parlamentares que tem por missão inquirir as contabilidades criativas ao BPN, e o país real ficou a saber que as actas das respectivas reuniões do banco de Oliveira e Costa eram refundidas na Lapa, i.é, na FLAD - sita mesmo em frente ao palacete do falecido António de Sommer Champalimaud. Sugeria, doravante, que a FLAD mudasse de nomenklatura e se passasse a designar FLAD-RM - Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento - de Rui Machete.
    4. A Manela, coitada, vem berrar ao país para dizer que ninguém a ouve... Pois eu acho que a situação é bem mais grave. Os portugueses já nem a querem ver... As suas contradições políticas, a leviandade das suas formulações públicas, as suas opiniõesinhas, a valia das suas propostas - tudo aquilo é duma evanescência e duma esterilidade que faria chumbar qualquer aluno no 1º ano de faculdade. Em matéria de investimentos públicos, reforma da segurança social (onde nenhuma ideia tem ou teve, apenas importou as de Marques Mendes, que também não foram famosas - e se levadas à prática hoje a 3ª Idade andaria a pedir no Metro para comprar pão), nada na srª Ferreira se aproveita. Talvez Marcelo veja nela uma bela assistente na Faculdade de Direito, o que seria a melhor maneira de perder os alunos por mudança de curso em menos de 24h. No fundo, o país perdeu uma grande contabilista numa PME - "Piquena" e Média Empresa - como diz;
    5. A novela sul-americana do Freeport continua (e é já um capítulo da "mentira política" - estudado na Ciência Política), agora com novos capítulos: o dvd montado, o artigo de Marinho e Pinto, BA, um magistrado que sofre pressões ao pequeno-almoço e quer logo falar com o PR e um PGR, Pinto Monteiro, que governa a casa por recurso ao comunicado, e até se dá ao luxo de pedir ao chefe das secretas que o ajude a identificar a origem das fugas de informação violadoras do segredo de justiça. Demarcando-se de Souto Moura - que fazia comunicados em andamento, eram os comunicados peripatéticos. Ante isto, dá vontade de perguntar a Cunha Rodrigues se não pode regressar ao Príncipe Real - e fazer mais uma comissão de serviço extraordinária em nome da salvação da pátria da incompetência congénita e da vendetta crónica desta "republicajinha" de juízes em guerra civil e contra Sócrates, que também lhe tirou algumas mordomias medievais.
    6. O que salvou a semana política em Portugal foram as cimeiras do G20 e da NATO (em transformação) - onde Obama se estreou e ficou a promessa de mais injecção de capital nos mercados, mais regulação nas offshores, limitação dos salários e bónus escandalosos dos operadores financeiros e uma repartição mais justa do chamado fardo da segurança global, porque os EUA já não querem (nem devem) ser os polícias do mundo arcando com a factura paga exclusivamente pelos contribuintes norte-americanos.
    Esta insanidade política sem delíriro do psd, como vimos, terá de mudar de rumo, sob pena de o psd descer aos níveis do score eleitoral do pcp ou do BE e, desse modo, ter dificuldades acrescidas em meter de novo Cavaco em Belém.
    Ou melhor, Cavaco até pode ser eleito para um 2º mandato em Belém, mas com o voto útil de todos os partidos anti-sistema em Portugal, reflexo da extrema atomização socioeleitoral em que Portugal e os portugueses caíram.
    O que prova que há mais psicopatologia e sociopatologia para além de Ferreira Leite e do psd...
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    Cavaco dedica à sua ex-pupila esta bela música (via Estatuto dos Açores) e em nome das assimetrias regionais (do PSD)
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Ryuichi Sakamoto - Love and Hate (Live 1994)