terça-feira

Segurança: Autarca transmite preocupações a governadora civil

Sérgio Lemos
Costa critica as opções de ministro António Costa cumpriu com o prometido e em vez de solicitar uma reunião com o ministro da Administração Interna (MAI), Rui Pereira, optou por encontrar-se com a governadora civil de Lisboa, Dalila Araújo, a quem transmitiu as suas preocupações em relação à segurança na cidade. A prioridade do presidente da Câmara de Lisboa são os lisboetas. "Incomode a quem incomodar", frisou. No encontro, que ontem teve lugar, António Costa criticou a forma como tem sido gerida a rede de esquadras e a estratégia de policiamento de proximidade em Lisboa. "Os problemas não podem ser colocados em função das condições de salubridade das esquadras, têm que envolver um planeamento", disse Costa no final da reunião, em referência ao encerramento das esquadras do Rego e da avenida João Crisóstomo. "Sempre entendi que o policiamento de proximidade não é uma esquadra em cada esquina, mas mais polícia na rua. Tem que haver uma estratégia global de segurança", continuou o autarca, exigindo esclarecimentos do Estado a este nível. Esclarecimentos esses que não foram solicitados directamente ao MAI porque "o governo civil é o canal normal entre o Estado e os municípios".
Obs: Infelizmente, o edil da capital tem razão. Vê-se poucos agentes policiais nas ruas, e quando aparecem já as pessoas foram assaltadas e/ou violentadas. Os indicadores de criminalidade em Portugal em 2008 não são famosos e a forma de gestão e planeamento das esquadras com base na degração dos edifícios da PSP - parece também não ser o melhor elemento para assegurar um planeamento eficaz dos agentes policiais na capital. Além de se esquecer o essencial: prevenção da criminalidade.
Acresce o facto excepcional de Lisboa, especialmente na zona frente ao Cais das Colunas, ter iniciado obras para instalar os esgotos e servir uma população de 120 mil lisboetas, evitando que o lançamento desses resíduos ao Tejo sem qualquer tratamento. Obras essas que já deveriam ter sido realizadas há décadas. Mas a cidade de Lisboa sofreu, durante os últimos 20 anos, um período de acentuada estagnação no âmbito dos seus sistemas e equipamentos urbanos e a ausência de um projecto coerente para o desenvolvimento da cidade. Pode-se dizer que, na década de 80, Lisboa atravessou uma fase acentuadamente recessiva do seu ciclo de vida económico, urbanístico e funcional.
Hoje, curiosamente, António Costa e a sua equipa - procura fazer em um ano e meio, no quadro destas eleições intercalares, o que não foi feito em décadas, ainda por cima com uma autarquia no limiar da bancarrota e com o Tribunal de Contas a chumbar os seus pedidos de empréstimo e, pior dos anacronismos, com uma Assembleia Municipal com uma legitimidade tosca que entrava mais do que acelera as necessárias reformas que a cidade de Lisboa carece.
Isto para explicar que tais obras implicam grandes condicionamentos no trânsito em Lisboa, o que justificaria, a fim de dar cumprimento a uma Resolução do Conselho de Ministros, que estipula a passagem das competências em matéria de gestão do trânsito para a Polícia Municipal de Lisboa - por estritas razões de operacionalidade e eficácia, facilitando a vida a milhares de condutores diariamente na capital.
O MAI, no seu já habitual centralismo burocrático, parece não perceber que dessa forma só penaliza em vez de ajudar a vidinha aos lisboetas. Os portugueses, e os liboetas em particular, esperariam mais do MAI. Quando se exige cooperação interinstitucional estranha-se quando apenas existe incompreensão.
Esperemos que os titulares de altos públicos não mudem de ideias apenas quando constatam que as suas casas também são (ou podem ser) assaltadas...