"Eu não tenho nada para vos dizer"... Cavaco dixit
No dia em que se concluem três anos dos quatro do mandato do PR, Cavaco faz um novo roteiro pela Inclusão, agora dedicado aos desempregados e novos riscos de pobreza. A ronda abrange os concelhos de Barcelos, Braga e Porto, uma zona fustigada pelo desemprego.
Uma crise que se agrava por força da crise financeira e falta de confiança dos agentes económicos para investir. Situação que dificulta ainda mais o regresso do investimento e da criação de riqueza nesta pescadinha de rabo na boca em que mergulhámos.
O problema é que agora se somam as situações de pobreza extrema, que decorrem de carências alimentares, não assunção de responsabilidades, como o pagamento das despesas da água, luz, etc...
Neste quadro negro que o país atravessa é saudável que o PR vá ao encontro das populações, fale com elas a coberto dos jornalistas, segure nas suas mãos, confraternize mas não deveria dizer uma frase que já vem fazendo carreira no seu mandato e no seu léxico político: Eu não tenho nada para Vos dizer. A coisa veio assim (avariada) da Alemanha, à propos da Qimonda, e encontra prolongamentos nas terras de Portugal.
Esta frase, só por si, é verdadeiramente autodestruidora, tanto mais vinda de quem vem, o mais alto dignitário do Estado. Creio que Cavaco terá de mudar a cassete, não apenas por uma questão de imagem ou marketing, mas porque as palavras nesta fase são de grande importância, induzindo energia ou, à contrário, polarizando ainda mais pessimismo. O Eu não tenho nada para Vos dizer, cai nesta 2ª categoria.
Pergunto-me se em Belém haverá algum assessor que saiba o que anda a fazer, ou se segura só nos papéis e na pasta do PR e mostra o corpo presente numa esterelidade de pensamento que deve ser corrigida.
Creio que esses roteiros presidenciais, que levam Cavaco a sair da toca de Belém, só fariam pleno sentido quando houvesse algo mais estruturado e preparado em concertação com o Governo para apresentar ao País. Doutro modo, é, como se vê pelas imagens, mais um beberete, mais uma excursão de pacóvios a Fátima mostrando uma fé débil e com uma imensa entourage que nenhuma mais-valia tem na comitiva.
E depois, como não há novidades, lá vem aquela frase à Américo de Tomás dita por Cavaco: Eu não tenho nada para Vos dizer... Confesso, que isto é deprimente. Cavaco já poderia ter aprendido algo com Sócrates, ou até mesmo com Barack Obama, porque as comunicações públicas em momentos de grande turbulência devem ser momentos de alavancagem de mudanças e facilitadoras de novos empreendimentos. Mas isso requer uma preparação de dossiers que estes roteiros manifestamente não têm.
Na prática, Cavaco apenas leva o seu porte e as suas modestas palavrinhas para esses roteiros. Nada mais. Além duma imensa comitiva que faz imensa despesa ao Estado e só agrava o défice.
Sem negligenciar as iniciativas das presidencias abertas de Belém, ou os roteiros como ora se diz, creio que Cavaco só deveria fazer essas visitas ao Portugal profundo quando iniciativas de empreendedorismo tivessem na calha, coisas concretas pudessem ser anunciadas. Como nada disto é feito, cai-se no inevitável improviso, nas palavrinhas mansas, na lágrima de crocodilo, na compaixão para com os desempregados que estão nesses locais de intersecção do roteiro com bandeiras para chamar a atenção, e as pessoas saem de lá ainda mais deprimidas do que quando partiram para tais iniciativas de Belém.
Bem sei que Cavaco deseja uma sociedade mais justa, mais igual, mais solidária e mais coesa, como todos nós, mas a coisa não vai lá com aquelas declarações: Eu não tenho nada para Vos dizer... Isto é um "tesourinho deprimente" que se deve evitar.
Creio que neste quadro, e até porque Cavaco gozou duma experiência acumulada de 10 anos de PM, algo terá de mudar no planeamento político feito em Belém. Porque o que existe não serve o Governo, e, mais importante, não serve os portugueses nem o Portugal do séc. do séc. XXI
. Só espero que Cavaco à frase do Eu não tenho nada para Vos dizer, não alinhe outra do género: Esta a 1ª vez desde a última que eu cá estive, na sequência dos vários roteiros que já fez, e dos quais não há balanço feito, mas convinha que houvesse para se perceber o que mudou desde a sua deslocação às localidades. O meu grande receio é que Cavaco, depois de ter sido um bom PM - até porque gozou de milhões de euros da Europa diáriamente para fazer estradas, escolas e alavancar uma classe média, é que passe, doravante, como titular de Belém, numa espécie de Américo de Tomás do III milénio. Veremos se no ano que falta para a conclusão do seu mandato o PR consegue ter um salto de criatividade e fazer a diferença.
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