sexta-feira

Tango vs pensamento "californiano" de Michel Foucault. O paraíso e a desgraça

The Argentine Tango

shall we dance - jennifer lopez - gotan project

Cada dia da semana tem, ou pode ter, uma simbologia, e a 6ª Feira pode traduzir Tango, o Sábado desporto, o Domingo chuva e os restantes dias da semana sub-produtos do tempo porque obrigam o homem a trabalhar e ele não nasceu para trabalhar, mas para criar, como diria o amigo Agostinho da Silva. Assim sendo coloco aqui dois termos em equação: o pensamento californiano de Michel Foucault e as mulheres argentinas (por relação ao Tango), por serem as melhores e as mais belas do mundo. Do efeito de contraste nasce a verdade, uma verdade.
Dizia Foucault numa entrevista longíqua, que a amizade, desde a antiguidade foi, durante séculos, um modo de relação social muito importante, no seio do qual os homens dispunham de uma certa liberdade, de uma espécie de opção e que era ao mesmo tempo uma relação intensamente afectiva. Depois adiante que no séc. XVI e XVII que se vê desaparecer esse género de amizades, pelo menos na sociedade masculina (...). E depois afunda-se deste modo: "Uma das minhas hipóteses é que a homosexualidade, o sexo entre homens, se tenha tornado um problema no séc. XVIII. Vemo-la entrar em conflitos com a polícia, com o sistema judicial, etc. A razão pela qual ela constituiu socialmente um problema, está em que a amizade desapareceu. Enquanto a amizade era uma coisa importante e socialmente aceite, ninguém se dava conta de que os homens faziam amor juntos. Que eles fizessem amor ou não, não tinha de resto importância. Mas uma vez desaparecida a amizade enquanto relação culturalmente aceite, colocou-se o problema: O que é que os homens fazem juntos?
Estou certo, ao contrário de Foucault, que o "desaparecimento da amizade" como relação social e a declaração da homosexualidade como um "problema socio-político-médico" - nenhuma relação tem com a correlação abusiva estabelecida pelo filósofo. É óbvio que Michel Foucault nunca dançou um Tango, ou sequer teve disponibilidade mental para o apreciar, mas se tivesse ter-se-ía poupado a muita conjectura estéril, a muita hipótese académica parcial e emotiva, demasiado subjectivisada temperada com alguns disparates, porque uma coisa é ciência, outra são as nossas emoções a tomar conta dela. E se Foucault foi extraordináriamente produtivo e até original em inúmeros campos do saber, não julgo que a sua mais íntima felicidade "californiana" tenha dado um grande impulso à ciência ou aos territórios do saber em que foi mestre.
Faltou, talvez, a Foucault muito Tango ou algum tango - para ele perceber uma nova filosofia, não indo a tempo nem revelando essa abertura de esprit lá somou as duas bujardas e defendeu que a amizade entre dois homens terá de descambar forçosamente na mais pura homosexualidade. É um pensamento miserável - que até é capaz de envergonhar a grande obra do autor, mas o azar do autor foi tanto que - feliz e reconciliado consigo mesmo, com o seu trabalho e os prazeres do corpo, quando o filósofo resolve rumar em direcção aos EUA - para deixar uma França que já o sufocara, é o preciso momento (anos 80) em que a nova peste começava a propagar as suas odiosas devastações. Infelizmente, Foucault também foi vítima dela, mas ficou um grande pensamento - ainda que privado de Tango e da simbologia das 6ª feiras.
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