quinta-feira

Um projecto editorial...pelo jornalismo de investigação.

Portugal precisa hoje de bons jornalistas... Temos aqui defendido que um exemplo de mau jornalismo é representado no "veterano" Mário Crespo (o que é um paradoxo), e tal não decorre da sua campanha negra ao freeport (que foi miserável), mas da forma como fala o português, como se expressa e entrevista os seus convidados (como se estivesse na sua casa a ver um jogo de futebol), organiza as ideias e tira as conclusões e, mais grave, como viola todas as regras clássicas do bom jornalismo: rigor, isenção, objectividade e mais uma catrafada de regras que Crespo ou desconhece ou não consegue levar à prática, ainda que se esforce. Pois nem tudo é mau nele, o esforço deveria ser recompensado. Mas não no pleno exercício do jornalismo. Nuns casos, como aqui, chega até a embaraçar os entrevistados, bajulando-os de forma verdadeiramente inacreditável em pleno estúdio. Isto não é jornalismo, é algo diferente que a minha educação aqui me impede de escrever, mas não será difícil imaginar...
Esta introdução serve apenas para entrar no essencial, que aquele, e muitos outros jornalistas em Portugal, desconhecem. E desconhecem porquê? O mundo entretanto mudou, formiga de ideias que nascem, agitam-se e desaparecem ou reaparecem, e que sacodem as pessoas e as coisas. Ora, interpretar essas dinâmicas não se fazem com o jornalismo pacóvio e absurdo representado no Mário crespo, mas com jornalismo de investigação, mais sólido, mais rigoroso, mais reflexivo.
Naturalmente, essa expertise não se aprende apenas na tarimba da experiência, exige estudo que a generalidade dos jornalistas formatados na década de 70 manifestamente não tiveram, nem compensaram isso depois com estudos alternativos. O resultado, o sub-produto desse amadorismo improvisado tem nome: um jornalismo tendencioso, parcial que Mário Crespo hoje pratica. Um fio de novela sul-americana, uma multidão de paixões em stúdio, um gagarejar em composições de comboio, uma verdadeira conversa de chacha para a qual não há pachorra. Se, porventura, aquele jornalista tem o azar de apanhar um entrevistado que pense e fale como ele esse diálogo rápidamente degenera numa conversa de alcoólicos à saída duma cervejaria às 4 da madrugada. Ninguém se entende...
Ora, isso é o contrário do jornalismo - que implica rigor, método, imparcialidade, objectividade, reflexividade, cautela, manuseamento sóbrio das fontes e alguma racionalidade.
Hoje existem mais ideias na terra do que os intelectuais ou os jornalistas supõem. Tais ideias são mais activas, mais fortes, mais resistentes, mais apaixonadas do que pensam até os próprios políticos. Daí a necessidade de assistir ao nascimento dessas ideias e à sua explosão. Nao nos livros que as sistematizam, mas nos acontecimentos em que a sua força se manifesta, nas lutas que se travam ao redor das ideias, a favor ou contra elas. Não são, pois, as ideias que governam o mundo, mas é porque o mundo tem ideias - e porque as produz continuamente - que ele não é conduzido passivamente seja por políticos, seja por banqueiros, seja até por jornalistas na fabricagem das suas agendazinhas.
Não é aqui que temos de buscar a fonte daquilo que devemos ou não pensar na interpretação do nosso quotidiano. Tratando-se de jornalismo paroquial, doméstico e internacional. Isto habilita-nos a afirmar que hoje em Portugal o jornalismo político é como é, ou seja, medíocre (há excepções), porque carecemos de um jornalismo de investigação no País. Nuns casos, porque as universidades não têm conseguido fazer esse turn over no plano do ensino e na transmissão de conhecimentos, noutros casos porque uma classe de "jornalistas-manga-de-alpaca" (i.é, sem formação académica, beneficiando apenas da tarimba dos anos de prática enquistada na mediacracia) também tem resistido à renovação interna nas redacções dos jornais que dirigem. Por uma questão de poder oferecem toda a resistência possível para se manterem funcionais, o que agrava ainda mais, em certos casos, o clima de mediocridade latente na classe.
Há excepções, naturalmente...
Se mérito houve no freeport foi pôr a nú um jornalismo-parasita, lambisgóia, insustentável, caduco, estéril que não inspira nem estimula qualquer estagiário que ainda pense prosseguir os estudos nessa área.
A foto supra com M. Foucault (ladeado por Sartre que o Passos Coelho julga ser autor duma tal "Fenomenologia do Ser" que só existe na Lapa da sua mente) justifica a sua razão de ser neste contexto porque ele (Foucault), juntamente com outros filósofos e pensadores da altura, como André Glucksman, Alain Finkielkraut e outros, defenderam um verdadeiro jornalismo de investigação em França.
No fundo aquilo que hoje faz falta em Portugal. E é este o ponto desta reflexão.
Vistas as coisas neste plano, é por isso que defendemos que certos jornalistas em Portugal são tão maus. E isso não é bom para o jornalismo nem para a qualidade da democracia em Portugal.