domingo

TGV - sim ou não...

A necessidade de aproximar Portugal da centralidade europeia, as eleições e a própria dinâmica política nacional/europeia, os fundos de Bruxelas já disponíveis para o efeito, as decisões de Estado assumidas ao tempo do Governo Barroso - serão razões mais do que suficientes para inscrever este importante dossier na agenda política nacional (ibérica e europeia).
Os nossos parcos conhecimentos nesta área apenas nos permitem uma visão superficial, daí a necessidade de se apresentarem os estudos técnicos e os relatórios para se aferir se, de facto, este projecto, que envolve mais de uma década, integra (ou não) emprego e tecnologias nacionais.
O PSD - e a oposição em geral - defendem tatar-se dum projecto megalómano, sem oportunidade e um consumidor de recursos não reprodutíveis, por isso penhora o País e as futuras gerações. Defendem o seu arquivamento; o Governo, ao invés, defende a sua realização - pelos benefícios que traz para a economia e pelos compromissos de Estado assumidos em cimeiras ibéricas no passado recente.
São, pois, duas visões da economia contrapostas que urge clarificar. Se bem que 2009 - ainda não seja o ano do TGV. Contudo, o valor económico, simbólico e cultural de Portugal aumentaria significativamente com a construção do TGV. A escala na nossa economia projectava-se à escala europeia, as nossas cidades seriam pontos na rede de cidades europeias, e o valor fundiário dos imóveis seria mais forte, à semelhança doutras cidades europeias.
Ou seja, Portugal - passaria a valer mais pelo conjunto dos seus factores internos e externos, pela qualidade e abundância da sua mão-de-obra, formação profissional, eventualmente a fiscalidade tornar-se-ía mais competitiva para as empresas, os valor fundiário dos terrenos subiria e o quadro das regulamentações também poderia ser mais amigo das pessoas e das empresas. As produções de bens e serviços, a mobilidade das pessoas tornar-se-ía mais fluida e isso convidaria a maiores fluxos de capitais, tecnologias e bens entre as cidades no espaço intra-europeu.
Se a este quadro de competitividade das produções se somasse uma preocupação com a valorização da igualdade de oportunidades com as pessoas no acesso ao emprego, à habitação, à saúde, à educação e a todo um conjunto de bens que fixam as pessoas em determinado locais - poderíamos estar diante de uma nova era de integração da Europa - em que o factor mobilidade induzido pela construção do TGV representaria - por extensão - uma ideia de Europa mais moderna, desenvolvida e justa.
Ora, na entrevista da líder do PsD, Ferreira leite, candidata a PM, aquilo que o país viu e ouviu é que com ela no Governo (credo!!) o TGV seria imediatamente "riscado". So far, so god. Mas era suposto que houvesse alguma elaboração teórica, com algum detalhe técnico que ajudasse a explicar aos portugueses a razão pela qual aquele "riscanço" faria sentido. Mas a líder da oposição, para além de ter uma grande dificuldade em articular duas ideias seguidas que façam sentido, não faz a mínima ideia do que é o TGV, a Governação - ou até para que serve uma e outra coisa.
Ela só sabe que não há problema nenhum, pois o PSD adivinhou todos os grandes males do país, e foi ela mais o dr. Paulo rangel quem inscreveram esses temas na agenda política nacional. Eis o legado político de Ferreira Leite: uma espécie de metereologia e de adivinhação das dificuldades, mas soluções alternativas para cada um dos problemas a srª Ferreira nem uma só tinha na manga. Um vazio total, como se viu. Nada se aprende com a senhora.
Resta regressar ao argumento pelo sim ao TGV pelo quadro das vantagens comparativas dos locais de que Portugal passaria a beneficiar no plano europeu. Não é por acaso, aliás, que alguns locais tornam-se cada vez mais importantes e adquirem valor porque estão fixadas aí redes, nomeadamente de transporte que tornam os chamados factores de produção mais interactivos entre si. Mas este tipo de raciocínios e de teorização - são articulações demasiado complexos para a cabecinha da srª Ferreira leite - cujo tributo à Economia, ciência em que se diz expert, deixa muito a desejar.
No fundo, a construção do TGV, até para um leigo, representará uma criação de infra-estruturas que exigem tempo e investimentos pesados, mas cujos nós farão de Portugal - e das suas cidades - espaços mais atractivos do ponto de vista económico, político e simbólico.
Roterdão, na foz do reno, é um nó que tem uma importância que Bordéus, na foz do Garonne, não tem.
E em Portugal, ainda descobrimos que certos actores políticos, alguns dos quais candidatos a PM, em vez de revelarem uma certa formação ou conhecimento integrado dos problemas e das soluções para eles, aquilo que nos demonstram é que dariam belas enfermeiras em tempos de guerra.
Hoje, já não há guerra em Portugal, já não temos o império, mas a certas pessoas até dá vontade de dizer: ó srª aliste-se e vá fazer uma campanha para África...

[Publicado por Vital Moreira] [Permanent Link]
O argumento da líder do PSD para anunciar a sua oposição à rede do TGV - ela que validou o projecto TGV quando foi ministra das Finanças, num governo que acordou as ligações com Espanha!... - revela muita ignorância e maior preconceito.
Dizer que o número de passageiros previsíveis na viagem Lisboa-Madrid, por referência ao actual tráfego aéreo, não garante a sustentabilidade financeira do investimento, esquece os seguintes dados: (i) a linha Lisboa-Madrid não servirá somente para as viagens entre as duas capitais, mas também para as viagens de Évora, de Elvas/Badajoz e mesmo de Cáceres para Lisboa, e em especial para o novo aeroporto de Lisboa; (ii) a mesma linha terá valência para transporte de mercadorias, o que constitui outra fonte de receita, ao mesmo tempo que fomenta a utilização espanhola dos portos de Lisboa, Setúbal e Sines; (iii) na equação financeira do TGV terá de entrar necessariamente a enorme vantagem ambiental, traduzida na poupança de milhões de toneladas de gases com efeito de estufa, cujo valor financeiro é cada vez mais elevado.
Aditamento
Ferreira Leite omitiu qualquer justificação para oposição à ligação Lisboa-Porto (que é obrigatória, por causa da saturação da actual linha do Norte e da deslocação do aeroporto de Lisboa para Alcochete) e à ligação Porto-Vigo (porventura a mais problemática em termos de custos e de vantagens), que também fazem parte do pacote aprovado pelo Governo Durão Barroso, de que ela fez parte.
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  • Novo aditamento para integrar a troika de notas oportunas em valorização da construção do TGV
Fica aqui uma pequena achega (pela CC):
1.º Um dos aspectos que mais concorreu para o chamado “atraso” da economia portuguesa foi o país encontrar-se longe do centro da Europa. Não deverá aproveitar-se tudo o que contribua para “encurtar” essa distância?
2.º Tem sido muito defendida, especialmente depois de o Presidente da República ter dado o mote, a questão de avaliar o custo/benefício do projecto. Alguém sabe qual é o custo/benefício da aquisição de submarinos, aprovada pelo Governo Barroso/Ferreira Leite/Portas? Se se sustenta que, nas questões militares, há um preço a pagar tendo em conta a defesa da soberania, não se deve raciocinar de igual modo tendo em conta a necessidade de uma aproximação ao centro da Europa para uma adequada estratégia de desenvolvimento (inserindo o país num projecto europeu de infra-estruturas)?
3.º Considerando as mutações em curso, designadamente em relação às fontes de energia, alguém no seu perfeito juízo é capaz de estimar o tráfego ferroviário de passageiros e mercadorias daqui a 20 ou 30 anos com um mínimo de rigor? É preferível construir o TGV e concluir, mais tarde, que a procura é insuficiente ou abandonar o projecto e vir a verificar que isso concorreu para que Portugal se transformasse num país ainda mais periférico?
in Câmara Corporativa