sábado

Manuela Ferreira Leite coloca "Lusa" no centro da polémica

Obs: A srª Ferreira leite até teria alguma razão se muita gente do psd também não apoiasse a realização desse projecto. De resto, aprovado por um Orçamento do Governo Durão do qual Manuela Ferreira Leite era parte, na qualidade de Ministra das Finanças e de Estado. O representante de Al berto Jardim no continente, Guilherme Silva - também apoia o projecto e muitos outros deputados e ex-ministros do psd. É óbvio que Paulo Rangel tem de apoiar Leite neste "Não" ao TGV. É o politicamente correcto da Lapa, aliado à ideia de que se se investir no TGV endividamo-nos e o desemprego aumenta. O que são argumentos capciosos e por validar técnicamente.
No mundo que contém cada vez mais diferenças de densidade e de riqueza dos homens em função das suas localizações, intervêm a intensidade e qualidade das redes que reflectem o estado das desigualdades no momento da sua implementação. Ora, a realização do TGV seria um poderoso instrumento - ainda que a médio e longo prazos - para reduzir essas assimetrias e desigualdades nas sociedades europeias, permitindo mais mobilidade, mais emprego, mais qualidade de vida no espaço europeu.
A srª leite deveria saber que assim como nem todo o mundo está ligado à Internet ou faz uso dela, também a Europa - neste canto do rectângulo beneficiaria com a rede de transportes ferroviários que permitiria valorizar as sinergias no interior do País como também potenciar a rede externa que privilegiaria as relações entre Portugal, Espanha - e a Europa.
Por outro lado, e aqui Leite revela mais uma vez tacanhez política, mesmo que o TGV arranque pela mão de um Governo socialista tal não significa que seja um Governo PSD a inaugurar a obra, dado tratar-se de um grande investimento cuja temporalidade de execução não coincide com o ciclo eleitoral. A não ser que a dona Manuela entenda que o TGV é uma manigância e uma conspiração acertada num gabinete secreto entre Durão Barroso e Sócrates só para a tramar e fazer perder as eleições.
Ela perdê-las-á na mesma, com ou sem TGV.
Mas o que é mais grave em Ferreira Leite - não decorre do facto de se tratar dum investimento avultado e hoje a prioridade centrar-se no combate ao desemprego. Aquilo que verdadeiramente preocupa Leite (denunciando a sua má fé política), é o medo que ela tem em que seja Sócrates a dar o pontapé de saída para o TGV, e não um governo PSD (que o contemplou num Orçamento do Governo Barroso).
Ora, como é sabido de todos, o PSD, os media, as sondagens, a sociedade no seu conjunto - todos convergem na ideia de que Leite não tem credibilidade política, não tem carisma, não tem um projecto para Portugal, nem as moscas mobiliza, não consegue liderar o partido - e todas essas razões fazem de Ferreira leite uma espécie de "chefe de divisão" do psd que está apenas a cumprir calendário para ser substituída já no próximo congresso.
E aqui a doutrina divide-se: aqueles que pedem já a sua cabeça, querendo convocar um novo congresso (extraordinário) antes das legislativas para enfrentar verdadeiramente Sócrates; e os mais pacientes - que acham que ela deverá abandonar o psd quando o partido bater no fundo, e ficar com 26 ou 27% nas próximas eleições legislativas.
Ferreira leite é hoje uma mulher acossada. Desconfia de tudo e de todos, por isos é natural esta reacção. Hoje implica com a Lusa, amanhã implicará com o DN, chamará nomes ao Mário Crespo, deixará de ver a Sic ou Rádio Renascença. O País já aconhece bem, e sabe do que ela é capaz: fazer "reformas em ditadura" - a sua grande (e virtual) especialidade.
Até ao momento Ferreira Leite tinha 3 adversários objectivos: o seu próprio partido (que não gosta dela), as sondagens e a sociedade - que não lhe reconhece capacidade política, técnica e cultural para liderar um partido com vocação de poder. Doravante, arranjou mais adversário: o Reino de Espanha e os media nacionais. Já para não falar na angústia de Durão barroso - que deverá estar corado e envergonhado na Europa inteira.
Mais uma vez informamos a srª Ferreira Leite que o TGV pode fazer o seu take-of com Sócrates, mas poderá ser um governo psd a inaugurá-lo. Mas até aqui Leite não sabe pensar política, a sua tacanhez apenas lhe permite ver 3m à frente da testa, e não o horizonte de modernidade e de desenvolvimento das sociedades europeias - neste caso interligadas a um macro-sistema técnico que irá eliminar as periferias da Europa - pondo em contacto pessoas, bens e mercadorias em breves horas.
Manuela Ferreira leite não quer a centralidade de Portugal. A sua má fé política impede-a de ver o horizonte e o zenite dos processos de mudança na Europa.
Eis o perigo dos "contabilistas" na política.