quinta-feira

Teoria Política da Mentira. Poetas andaluces (1975)

Imagem Jumento
O ano de 2009 será um ano simultaneamente de realismo e circo, magia e dor, angústias e optimismo, um tempo de balanços, de permanências e fugas, um espaço povoado por simulacros em que cada player - na vida pública ou na esfera privada - será artista à sua maneira e andará nos fios da navalha à espera que chegue o Verão, e com ele uma nova perspectiva, uma nova esperança e um novo rumo - que pode ser antecipado ou adiado - pela madrasta da economia mundial que tarda em dar sinais de crescimento sustentado para benefício das empresas, das famílias e das pessoas de todo o mundo.
Este será o caldo de cultura que animará as hostes, com mais ou menos diferenças no espaço intra-europeu. Mas todos verão confirmadas a famosa teoria da tanga de Durão Barroso, retratado na imagem supra que captou bem o momento da fuga política do rectângulo para Bruxelas.
Um momento que, à falta de melhor conceito, se integra naquilo que aqui designamos de Teoria Política da Mentira (vulgo teoria da tanga, segundo a gramática rasca de Barroso, que nunca conseguiu apagar os seus tiques maoistas, antes os aproveitou com sucesso, como se viu).
Uma teoria em que Durão foi mestre e o principal executor no Portugal contemporâneo.
E porquê: Durão, à época, era PM de um país (Portugal), fingira que apoiava o então mais prestigiado Comissário Europeu (por acaso um português, António Vitorino), mentiu a todos os ministros do seu elenco governativo (a Manela deixou de lhe falar), seduziu Belém/Sampaio a apoiá-lo à presidência da CE, transmitiu "monárquicamente" o Poder interno a Santana Lopes (que sem legitimidade e competência lá usurpou o título a toque-de-caixa de Lexotans), congregou - na Cimeira dos Azores - os apoios duma troika de defundos políticos (W., a arrastadeira Blair e Asnar) - e, no final, consagrou-se Presidente da Comissão Europeia, onde está hoje e promete fazer um 2º mandato.
Que seja, antes lá do que desconhecer onde arrumar o homem no burgo, na certeza de que também não aceitaria presidir à Sta Casa da Misericórdia. Belém e S. Bento estão ocupados...
A evocação deste pedaço de história tem uma finalidade: ilustrar os contornos da Mentira Política (e da forma como por vezes ela é institucionalizada), dado que vamos entrar no período eleitoral, o que convida a todas as espécies de mentiras por parte de todos os actores do palco político em Portugal.
Destacaremos aqui três dessas espécies de mentiras: a mentira por calúnia, a mentira por inflação e a mentira por transladação.
A mentira por inflação - consiste em atribuir uma desmesurada importância ou reputação a quem, de facto, não a tem. Dizer, por exemplo, que o PR pode captar Investimento Directo Estrangeiro para Portugal (aproveitando a sua carteira de contactos de 10 anos em S. Bento) é, à luz do que conhecemos de cavaco, uma usurpação da realidade, depositando poderes e capacidades que, manifestamente, Belém não tem demonstrado ter. Neste domínio, já frustrou imensas expectativas. Ele e a sua equipa.
A mentira por transladação - visa transferir o mérito de uma boa acção de um homem público (dela merecedor) para outro - que dela se conseguiu apropriar. Imagine-se que no termo da legislatura Sócrates (lá) consegue manter ou até aumentar a taxa de empregabilidade no País, aumentar as reformas, descer os impostos em sede de IRS - e alguém - autorizado atribui esse mérito conjuntamente ao Jerónimo, ao Louçã e ao Portas. Não batendo "a bota com a pedigota" - o zé povinho rapidamente percebe tratar-se de um embuste e não alinha nesse transfer, ou nessa transladação - e Sócrates lá arrecada os créditos. Embora seja que tem fama de pinóquio...
A mentira por calúnia - ou difamatória ocorre pelo recurso à maledicência, à detracção e à calúnia sobre uma determinada pessoa com vista a arrancar-lhe um título ou um mérito - temendo que ele se sirva desse mérito para um fim de bem público. Imagine-se que alguém deseja desenvolver e modernizar o País mediante o apoio a um pacote de investimentos públicos selectivos - e aparece uma "chefe de divisão" com o dedo em riste e diz que o promotor não passa dum "coveiro". Aqui a metáfora não cola ao visado, e não colando perde eficácia a sua demonstrabilidade, saíndo mal da fotografia o autor/a da fórmula - "coveiro".
Esta troika de mentiras irá proliferar no espaço público em Portugal em 2009: no Governo, na oposição, na sociedade. De forma aberta ou mitigada, e o povo terá de estar atento para filtrar a realidade que lhe chega via media.
Costuma-se dizer que esta abundância de mentira decorre dum sinal de liberdade, que serve ministros, mas também faz os desejos à oposição - que irão entrar num frenesim de construção e desconstrução dem legos-políticos com vista a industriar a sociedade que, afinal, a sua mentira é melhor do que a mentira do Governo.
Na dúvida, o conselho que aqui deixamos é evocar sempre a estória de hiper-representação política da peça representada pelo "actor-encenador e dramaturgo" Durão Barroso - a caminho de Bruxelas (como a mala às costas, para evocar uma imagem crsitalizada de Sta Apolónia de outros tempos), e perceber como essa trajectória (ao lusco-fusco) foi cirúrgicamente planeada e executada (ante a ignorância do elenco governamental, de alguma Europa e de alguns comissários).
Mais digna duma peça de teatro do que um fragmento espontâneo da realidade.
Também aqui o espaço para a fantasia é tremendamente limitado.
Aguaviva - Poetas andaluces (1975)