Passos Coelho defende TGV 'made in' Portugal
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FRANCISCO ALMEIDA LEITE
Perante uma plateia de empresários e de decisores, que na sua maioria pagaram cerca de 1700 euros para assistir à conferência, Passos desenvolveu a ideia, dizendo que ela iria permitir "transferir tecnologia para o nosso país, gerando emprego". Segundo o conselheiro nacional do PSD, "esta deve ser uma condição a impor na escolha do fabricante de equipamento para o projecto, permitindo simultaneamente manter os nossos compromissos internacionais, minimizar o impacto negativo da alta velocidade na balança externa e criando mais emprego e competências num sector relevante (a alta velocidade ferroviária).
Apenas alguns dias depois da entrevista de Manuela Ferreira Leite à RTP1, onde a líder do PSD disse que preferia acabar com o investimento no TGV a favor de uma redução de impostos para dar mais liquidez às empresas e às famílias, agora Passos Coelho vem insistir que "o TGV é um projecto estratégico que envolve compromissos assumidos por vários Governos". Uma ideia que já tinha defendido na entrevista ao DN e à TSF no domingo passado e que agora desenvolveu para o público restrito da conferência da Economist.
No discurso, ao qual o DN teve acesso, Passos Coelho disse que "nestes projectos de investimento elevado e dada a actual situação de crise económica e financeira, temos de questionar se faz sentido que o Estado crie incentivos para as instituições financeiras canalizarem as suas opções para esses investimentos em detrimento das PME". No entanto, Passos nunca pôs o TGV em causa, como fez Manuela Ferreira Leite.
De resto, o conselheiro nacional do PSD disse que "as pessoas vão cada vez mais verificando que a intensidade ou o grau de dramatização com que se pede uma maioria absoluta não corresponde depois ao grau de concretização das políticas". Com a de ontem, Passos Coelho fez duas conferências em dois dias.
Obs: A ideia de que o TGV é mau investimento para Portugal porque não integra nem tecnologia nem mão-de-obra nacionais - começa a ser desmistificada. Esta ideia de Ângelo Correia, perdão, Pedro Passos Coelho, faz sentido e deve-se valorizar. Portugal, embora não tendo tradição nessa tecnologia por razões óbvias, poderia ver aí uma oportunidade para qualificar umas centenas de quadros e começar a produzir em território nacional componentes para o TGV, à semelhança de outros países em fase de maturação do seu processo de desenvolvimento post-industrial nesta viragem do milénio. Com a deslocalização das empresas, da economia e do capital-conhecimento esse trade-of é hoje significativamente mais facilitado do que há uma década. Espanta-me é ver, semanalmente, o desejo de Pedro Passos Coelho, que faz lembrar aquelas esperanças a quem os treinadores convocam para ficarem a jogar no banco dos suplentes, a pôr-se em bicos de pés para querer fazer a diferença e, assim, estabelecer um efeito de contraste demolidor para Ferreira leite. Que além de não conseguir ter uma única ideia, também não tem um Angelo Correia a soprar-lhe novidades ao ouvido. E mesmo quando isso ocorre via banalidades de autoria de Pacheco Pereira - Leite ainda tem mais um outro problema: não consegue comunicar uma ideia.
Digamos que o problema da srª Ferreira não está no TGV nem em Pedro Passos Coelho - que é o jovem mais velho da república portuguesa, mas nela própria.
Ou melhor, entre ela e a política a relação nem sequer é íntima nem estranha, simplesmente não existe. E é este bloqueio que hoje está a impedir que o PSD consiga arrumar a casa, ter um projecto, refazer a sua identidade e constituir-se como alternativa política em Portugal.
Até lá, todos poderemos dizer que Ferreira leite continua a ser o "homem" ideal para viabilizar a 2ª maioria absoluta ao PS.
Aposte-se em Ferreira leite.
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