terça-feira

Algumas Notas Soltas de António Vitorino. Guantánamo

Esta frase encerra um campo de possibilidades que dá aos aliados tradicionais da América (como Portugal e a Europa no seu conjunto) uma especial responsabilidade política, sobretudo numa área onde os EUA precisam duma ajuda premente dos europeus, como é a questão do encerramento de Guantánamo. Onde já foram dadas instruções para alterar os procedimentos dos tribunais vigentes ao tempo de W., bem como já foi proíbida a administração de qualquer forma de tortura para obter confissões.
Resta, doravante, saber onde colocar aqueles três grupos de prisioneiros de guerra, resultantes de actos terroristas que remontam ao 11 de Setembro de 2001. Os prisioneiros mais perigosos terão de ser julgados e enviados para os EUA; os perigosos, mas sem culpa formada terão, a prazo, de ser libertados; e um 3º grupo de detidos que não têm acusação, mas que, por razões de segurança, também não podem (nem devem) ser devolvidos aos países donde são originários.
António Vitorino cedo percebeu haver aqui um domínio de cooperação especial entre Portugal e os EUA - referente aos detidos daquele 3º grupo de prisioneiros de Guantánamo, em Cuba.
Seria interessante, até porque os amigos/aliados são para as ocasiões, estreitar as relações políticas de Portugal - e a Europa - com a América de Obama por via duma ajuda resultante na absorção de parte daqueles prisioneiros. Até porque o terrorismo é, por natura, um fenómeno globalitário, suicidário, catastrófico e, por isso, não conhece fronteiras. Os ataques terroristas a Espanha (que Asnar atribuíu à Eta e o fez perder as eleições em 2004) ilustram esse facto, razão por que entendo ser ridículo e até insustentável defender que o problema dos prisioneiros de Guantánamo é um problema exclusivamente americano. Não é.
Aquilo que os EUA esperam é um sinal verde, e esse sinal deveria ser dado pela Europa, ainda que os sistemas penais sejam distintos. Mas o problema de resistir ao terrorismo é comum. Logo, a resposta também deveria ser concertada entre os 27.
E nos 27 países que hoje integram a UE - a Áustria e Bélgica entendem que este é um problema interno dos EUA, ao passo que Portugal, Finlândia, Suécia, Reino Unido, Irlanda, França e Espanha mostraram-se dispostos a receber os prisioneiros, mas com algumas condições.
Desconheço se a ideia de estreitar essa relação com a nova América de Obama foi (ou não) de António Vitorino - assumida por Luís Amado, MNE português.
Mas creio que até ficaria bem a Portugal - e à nossa tradição humanista - colaborar com a América na resolução desse problema, integrando adequadamente parte desse 3º grupo de prisioneiros. Somos especialistas em formar cidadãos de origem duvidosa em cidadãos exemplares.
A UE tem aqui o seu 1º teste no quadro das relações transatlânticas. É que a alianças devem funcionar em duas pistas. E se a Europa está sempre de mão estendida para a América, é assim desde a II GM (via Plano Marshall), seria mais do que natural que essa mesma Europa estivesse agora à altura das circunstâncias e repartisse os custos de Guantánamo com os EUA. Seria um bom começo nesse relacionamento entre os dois lados do Atlântico - que amanhã poderia ser bastante útil em termos económicos.
Até porque o terrorismo ataca onde psicológicamente gerar mais pânico. O terrorismo não tem fronteira. Razões mais do que suficientes para a Europa - também ela se deixar de criancices - e pôr-se de acordo nesta matéria.
Esteve bem António Vitorino. O nosso MNE, Luís Amado, agradece(rá).
Por contraponto, quer Belém, quer o "cherne" de Bruxelas não dão nenhuma indicação acerca do que pensam sobre este delicado (e comum) assunto. Um está mais preocupado com a entrada da Presidência da República no Youtube, o outro anda numa azáfama para reunir apoios para o 2º mandato bruxelense. O costume.
O ideal seria que amanhã Cuba acordasse sob o alvor da Democracia e da Liberdade. O país oficial realizasse os funerais que teria de realizar, enterrasse os velhos e podres charutos, e ao poder democrático emergente - os EUA (e a Europa - por tabela) pedisse à nova Havana que ajudasse a albergar alguns daqueles índios que andaram a plantar bombas por esse mundo fora na esperança de conquistar o paraíso e a dúzia de virgens lá no céu...
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MANU CHAO "Me Llaman Calle