Um lixo de greve - por Leonel Moura -
o sublinhado é nosso.
O presidente da câmara de um pequeno concelho do interior confidenciou-me recentemente que gostaria muito de reformar um serviço bastante ineficiente, mas não o podia fazer porque este tinha cinco funcionários que se opunham a qualquer mudança.
Se no País são conhecidas as poderosas forças sociais e políticas que combatem o progresso, partidos, sindicatos, corporações, lobbies, nas autarquias bastam alguns funcionários para impedir qualquer transformação positiva.
Esta semana tivemos um exemplo flagrante disso. A greve do lixo em Lisboa foi uma verdadeira nojeira, passe o trocadilho. Na sua origem não esteve nenhum problema de natureza laboral, nenhum conflito de direitos, nenhuma matéria realmente sindical. Não se avista risco de despedimento, nem de agravamento das condições de trabalho.
O comunicado do sindicato é aliás bastante claro sobre as motivações: a greve foi convocada para "demonstrar descontentamento e repúdio relativamente à intenção do presidente da câmara e do seu executivo da entrega à gestão privada de duas zonas da cidade". Ou seja, o Sindicato dos Trabalhadores da Câmara de Lisboa usou a bomba atómica por causa de um mero estudo. O sindicato e os trabalhadores deixaram acumular lixo nas ruas durante uma semana, com todo o transtorno que isso causou aos lisboetas, devido a uma simples hipótese.
Bem sei que não é hábito entre nós, mas julgo que a única maneira de resolver este assunto seria recorrer aos tribunais. A greve foi ilegítima, extemporânea, sem fundamento. Os sindicatos deviam pagar uma indemnização a Lisboa pelos prejuízos causados por esta acção tão despropositada e irresponsável.
Mas a questão é mais profunda. Esta greve é uma demonstração de força que visa impedir quem foi eleito de cumprir o seu mandato. O sindicato quis mostrar quem manda realmente na Câmara e que tem meios para sabotar o funcionamento democrático. E isto é intolerável.
A limpeza, ou melhor a falta dela, é um dos grandes problemas da cidade de Lisboa. A capital do país está imunda, com lixo acumulado por todos os cantos, revelando uma visível incompetência dos serviços. Toda a gente o diz, toda a gente reclama medidas urgentes. Mas estes senhores do sindicato não permitem que se trate do assunto a sério e o nojo prevalece.
O paradoxo desta situação, comum a muitas autarquias, é que os políticos são eleitos pelo povo para fazerem um trabalho que depois é totalmente sabotado pelos próprios funcionários das câmaras. Em Lisboa, pela escala e impacto na população, esta realidade é dramática como se sabe. Pela câmara têm passado vários presidentes de distintos partidos mas todos se mostram incapazes de realizar coisas aparentemente tão simples como limpar a cidade. Esta greve do lixo vem esclarecer o mistério. E vem dar razão a quem pensa que a única saída está na entrega das respectivas tarefas a entidades externas a quem se pode exigir qualidade e obrigar ao cumprimento de contratos. Ou seja, esta greve do lixo, contra uma hipotética gestão privada, é o melhor argumento em favor dessa solução.
Ao se transformarem em agentes do combate político e partidário, já que mais uma vez temos aqui a mão do Partido Comunista, numa lógica de reacção a tudo o que é mudança, os sindicatos estão a desbaratar em alta velocidade o crédito que ainda têm na sociedade. As lutas sindicais estão claramente desfasadas do tempo. Onde se devia exigir modernização, reivindica-se que tudo fique na mesma, onde se devia lutar pela qualificação, defende-se a mediocridade.
Ao seguirem estes dirigentes, pensando que estão a defender os seus interesses, os trabalhadores estão a criar as condições negativas que só podem conduzir à extinção dos seus postos de trabalho. Hoje é praticamente impossível reformar um serviço numa autarquia. Pelo que na cabeça de muitos presidentes da câmara deverá passar muitas vezes o desejo de se verem livres de tais funcionários e entregar os serviços a entidades externas e especializadas. E, bem vistas as coisas, é mesmo para aí que temos de caminhar. Basta pensar que o único lugar limpo de Lisboa é a zona da Parque Expo. Serviço que está entregue a uma entidade privada. Deve ser por isso que o sindicato corre a marcar uma greve contra a possibilidade de termos uma Baixa limpa. Os lisboetas iriam perceber o que está realmente em causa.
Obs: Leonel Moura tem razão em toda a linha: os sindicatos e o PCP assumem um conúbio pornográfico absolutamente lamentável, e o vereador comunista, ruben de Carvalho é hoje mais o representante dos sindicatos na autarquia do que, como devia, o representante dos cidadãos. Deve-se, pois, caminhar para a privatização desses serviços, e se falta de razões houvesse esta greve injustificada acaba por ser a justificação maior para essa nova gestão que urge fazer nos serviços municipais da capital. Uma cidade que não deve estar à mercê das técnicas de sabotagem do pcp - tornando Lisboa imunda e pondo os seus habitantes em risco de doenças e de contaminações decorrentes de manifesta falta de condições de segurança e higiéne na cidade. Ruben de carvalho, o pcp e o sindicato dos trabalhadores municipais de Lisboa são hoje bem o rosto dos sabotadores de Lisboa através duma "política do contentor transbordante".
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