sexta-feira

O Partido Comunista Português, a greve do lixo... visto pela lupa do Memórias Futuras de JPM

O sublinhado é nosso.
O Partido Comunista Português , in Memórias Futuras de Joaquim Paula de Matos
Esta imagem foi publicada no Macroscópio para servir um texto crítico do Rui Matos à greve decretada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município (STMM) mas “assoprada” pelo PCP dada a influência deste nas estruturas Sindicais.
O Partido Comunista Português tem uma relação com os seus filiados que me faz lembrar a de uma Igreja com os seus fiéis.
Pertence-se a uma religião por uma questão de fé, da mesma forma que se é do PCP porque se acredita no comunismo.
Não importa que a razão e as evidências desmintam a crença porque as crenças são muito importantes, indispensáveis para o nosso equilíbrio emocional e espiritual, que o mesmo é dizer para a nossa sobrevivência e numa situação em que o nosso cérebro tenha de escolher entre a crença e as evidências e a razão opta pela crença e despreza a razão e as evidências.
Estou a pensar nas crenças religiosas mas, retirando um maior grau de intensidade que estas apresentam pelo bónus da vida eterna, não diferem muito da crença numa ideologia política.
Vivi uma parte considerável da minha vida na época em que o PCP era uma organização política clandestina que lutava contra o regime de Salazar, perseguido ferozmente pela PIDE.
Para nós outros, cidadãos simplesmente conhecedores dessa situação, não intervenientes, pouco esclarecidos sobre ideologias políticas, o PCP lutava na clandestinidade para a queda do regime, pela liberdade do povo português, contra a polícia política, a censura e toda a espécie de proibições características do período, longo período, de Salazar e Caetano e, por isso, eram admirados pelos que ansiavam pela liberdade e não podiam acreditar na propaganda do regime de que os "comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço".
Quando se deu a revolução do 25 de Abril foram, muito justamente, retirados das prisões e aclamados como heróis por comunistas e não comunistas que perceberam que a alegria que estavam a viver naquela hora tinha a ver também com aqueles senhores.
É assim, as boas causas entram facilmente nos corações e a liberdade é uma dessas boas e grandes causas.
Aí, não há crenças nem fé.
Na liberdade não se acredita, a liberdade não é uma questão de fé, ela impõe-se porque sem ela não há dignidade, e os portugueses queriam ser pessoas dignas por ser esse o seu direito.
Mas a realidade viria a ser outra e a luta que travaram pela liberdade não era ingénua nem desinteressada. Era a luta por um espaço político em que um outro projecto nos aguardava, mais uma vez, sem liberdade.
É curioso como se luta pela liberdade para se impor um projecto que também ele retira a liberdade.
“Eu quero ser livre para te tirar a liberdade”.
Esta era a mensagem escondida nas cúpulas do PCP e na cabeça do Sr. Álvaro Cunhal que, como o Salazar, era um homem sério, honesto e desprendido de bens materiais.
Em comum tinham também a convicção de que eles é que sabiam o que era bom para o povo português, “o nosso povo”, como continua a dizer o Jerónimo e como dirá o seu sucessor, daqui a 100 anos, se o mundo não acabar antes.
A razão, as evidências, as realidades de um projecto político que aplicado em tantos países do mundo teve como resultado a miséria, as prisões políticas, os assassínios, um rol de ignomínias que ainda hoje acontecem… nada disso é suficiente para abalar a fé dos comunistas do PCP, porque a crença impõe-se à razão por questões de sobrevivência.
O Jerónimo e muitos dos seus camaradas não sobreviveriam sem o seu PCP e aqueles que se conseguiram libertar, poucos, experimentaram as agruras dessa ruptura que deve ter correspondido a uma espécie de renascer.
Perder a fé é uma libertação mas representa um enorme desafio para o nosso cérebro e uma imensa vitória da nossa coragem, inteligência e afirmação.
Nascemos para acreditar e obedecer porque assim foi necessário à nossa sobrevivência nos primórdios da humanidade.
Com uma infância tão prolongada, frágeis e indefesos, tivemos que seguir escrupulosamente as instruções que os nossos pais e os mais velhos nos davam, olhando-nos insistentemente, gritando, provavelmente até, de dedo em riste e os que não obedeceram, os que não acreditaram e não seguiram as instruções, não sobreviveram para chegarem à fase da reprodução.
Assim, abriu-se no nosso cérebro um espaço para a crença que se destinou a garantir que seríamos prudentes e cautelosos face aos inúmeros perigos e ameaças que nos rodeavam mas o espaço da crença que se abriu no nosso cérebro “esqueceu-se” de nos dizer no que devíamos acreditar.
Ainda bem para o PCP que vivemos em democracia que lhes confere a liberdade de serem felizes dentro do seu partido, podendo dizer tudo o que lhes vai na alma e até infiltrarem os Sindicatos para darem luta aos governos, sejam eles quais forem.
Não seria esse o tratamento que nos esperaria se o Jerónimo fosse poder porque ele e o seu Comité Central saberiam bem o que era bom para o povo português e libertar-nos-iam de pensar, o que é uma maçada e dá um enorme trabalhão… eles pensariam por nós.
Protestarem nas manifestações de rua juntamente com os descontentes ou mesmo encabeçando-os, influenciarem as decisões das estruturas Sindicais substituindo-se às organizações dos trabalhadores ou impondo-se a elas, aparecerem o mais possível na televisão como força organizada, unida e coesa, de que os seus Congressos são um exemplo… como dizia o Jerónimo no discurso de encerramento do último: “ Se esperavam surpresas desenganem-se”… como se fosse possível haver surpresas no PCP!
Que surpresas se podem esperar de um partido que obedece a dogmas e esconde atrás de discursos repetitivos e monocórdicos a forma como governaria o país se fosse poder?
Rasgariam a Bíblia por ela não ser conforme à razão? E se assim fosse que fariam depois à ditadura do proletariado e a toda a sua concepção do mundo a preto e branco?
Eu acho que os comunistas do PCP devem pensar exactamente como gostam de pensar, com dogmas, com esquemas rígidos de uma economia pensada à moda do camarada Estaline, que só não decidem tudo de braço no ar porque a Lei dos partidos o proíbe o que, na prática, vai dar ao mesmo, porque as divergências entre eles terão apenas a ver com a colocação das vírgulas e dos pontos finais desde que não alterem o sentido da frase.
O PCP não é um partido político mas uma organização religiosa onde impera o culto aos princípios, a obediência e o alinhamento pelas decisões das cúpulas.
O PCP é uma mistificação porque se proclama o verdadeiro defensor dos interesses dos cidadãos das classes mais frágeis mas continua um admirador de todos os ditadores comunistas que espezinharam, prenderam e assassinaram nos seus países esses mesmos cidadãos.
A falta de coerência arruína qualquer discurso, seja ou não político.
Se o PCP não condena e admira mesmo Fidel de Castro, que prende e assassina cidadãos cubanos que têm a coragem e ousadia de denunciarem as injustiças do seu líder, como nos pretende depois convencer de que é sincero quando manifesta preocupações com o bem estar “do nosso povo”?
Quantos povos existem para o PCP? Todos os povos que foram e são vítimas de ditaduras comunistas não mereciam e merecem o mesmo tipo de cuidados que eles alardeiam para o nosso “bom povo”?
Não, os processos seriam os mesmos e o tratamento igual. O poder nos partidos comunistas ortodoxos é totalitário como o foram todos os que chegaram ao poder.
Eles são os donos da verdade, a bem ou a mal e não vale a pena argumentar com os malefícios do sistema capitalista, ou com a ambição e ganância dos grandes empresários exploradores que não são escrutinados em democracia, porque nos países europeus democratas há liberdade de imprensa, a informação circula e chega a todos e a denúncia é possível, o que não acontecia e não acontece nas ditaduras comunistas.
Quanto à substância da questão, dizer aos senhores do PCP que não existem homens que são bons e honestos, os comunistas do PCP, e os restantes.
Assumisse o PCP o poder no nosso país e revelar-se-ia rapidamente como os homens são todos, potencialmente, o mesmo.
O que de importante há a preservar é a liberdade e o respeito pelo estado de direito para que, todos nós, não venhamos a ser vítimas daquilo porque passaram alguns dos sobreviventes do PCP.
...E para desanuviar a "conversa" ouçamos "Batterfly", de Danyel Gérard - que o Rui me ofereceu.
posted by Joaquim Paula de Matos at 4:59 PM links to this post
Obs: Ora aqui está um texto que, confessadamente, gostaria de ter assinado. É uma viagem ao interior da forma mentis do comunismo e, em particular, do PCP - talvez um dos PCs mais mais retrógrados do mundo, e, que, hoje, devastam - por via duma "pornografia" inqualificável - a forma como certos sindicatos com menos personalidade e mais enfeudados agem e reagem a certas contrariedades ligadas às profissões que representam.
O PCP é um partido que vive de múltiplas manipulações: da manipulação da história, dos afectos, da informação, da mentira organizada, cognitiva, etc.
O PCP cavalga hoje inúmeras ondas: a fenprof, apesar da sua representatividade enquanto sindicato há muito que já extravasou a sua capacidade funcional de operar para fazer acções de agiprop e, desse modo, ser um agente subversor ao serviço politico-ideológico do PCP. Toda a gente o sabe, não é preciso ser doutorado em ciência política para compreender essa "pornografia" e amálgama de funções e enquadramentos manipuladores, onde até alguns sôtores têm blogues cuja única missão é "dar à tecla" e reproduzir os arrotos mais inqualificáveis que alguns componentes de classe debitam na atmosfera, poluindo-a.
A greve dos funcionários de recolha de resíduos sólidos do munícipio (o STMM) não é legítima, porque os seus fundamentos não são sérios e coerentes, trata-se de mais um exemplo da "pornografia política" que o PCP leva a cabo junto de sindicatos - que não passam de estruturas manipuladas dentro da osquestra da grande mentira em que o PCP é o maestro.
O PCP é, como é acima defendido por JPM, uma religião, uma igreja. O objectivo não é argumentar, trocar ideias ou opiniões, mas antes impô-las. Nisso o Louçã do BE - ganha crédito, porque além de ser um homem superiormente inteligente e com uma sólida formação económica, apesar de faccioso e sectário, lá consegue argumentar, ordenar ideias, correlacionar factos e extrair conclusões, ainda que se possa discordar delas, mas, ao menos, argumenta de forma convincente - mesmo tratando-se de um partido-protesto e anti-sistema que nengum projecto de poder e de sociedade tem que vá além do seu umbigo trotskista.
Por isso o PCP está tão preocupado com a ascenção do BE e transformou isso na razão de ser do seu último congresso no Campo Pequeno - que é mais sedutor, tem uma liderança mais apelativa e jovial, e usa Lacoste enquanto Jerónimo corresponde ao perfil do funcionário da Lisnave - que quando fala fica com os cantos da boca repletos de gosma e hoje passaria perfeitamente por um estivador ou um torneiro-mecânico duma oficina de bairro. Raízes, aliás, que ele não rejeita, o que só lhe fica bem, mas isto apenas serve para ressaltar a diferença de estilos e de cultura entre um Louçã que usa Lacoste e um Jerónimo que se veste na feira.
Mas o que talvez seja mais anacrónico no PCP, neste 1º quartel do séc. XXI, é a sua congénita visão para destruir e terraplanar a diferença no pensar e agir das pessoas que integram aquela "religião", instaurando um tipo de relação invulgar entre o manipulador e os manipulados. E aqui a repetição (da cassete que condensa as mesmíssimas mensagens, à força da repetição transformam-se em verdades) criando um sentimento de evidência gerando a multiplicação de estímulos ligados a reacções mentais, físicas que hoje os membros do PCP revelam ao professar aquele "religião". Basta estar atento e reparar na sua conduta... Quem não consegue perceber isso pergunte ao Pacheco Pereira - ele sabe. Sendo certo que a resposta para o marxismo será ambivalente, logo ajustável também para os ex-maoistas...