sábado

A filosofia do corvo sobre o efeito (de longevidade) Manoel de Oliveira. Corvo inteligente

Perguntei ao meu corvo o que ele achava da longevidade do cineasta português Manoel de Oliveira, o mais velho realizador activo ainda a fazer filmes no mundo.
Disse algumas coisas interessantes que aqui tentarei descodificar: desde logo, arrancou com uma tirada acerca da fonte da juventude, para alinhar O. Wild e Fausto e referir que a fonte da juventude não passa dum mito tão velho como a humanidade.
A grande diferença, anotou o corvo (que se chama Corvo) - é que aquilo que hoje se designa "velho" encontra cada vez menos as características da velhice. Apesar de encarquilhada a face de Oliveira - tudo o resto (lucidez, linguagem, agilidade - mental e física) estão em boas condições. Um brinco...
Por isso - sustenta o Corvo - o estado da velhice mudou física e mentalmente de face. Ou seja, o nosso sonho actual não é o de continuarmos jovens para sempre, mas o de envelhecermos bem e nos mantermos em forma até muito tarde, como Manoel de Oliveira.
Claro que existem as rugas, que baliza a aparência geral e nos encosta um pouco contra as paredes do tempo, mas as rugas também têm algum encanto e beleza, assim como o cabelo branco, por vezes emprestando um charme acrescido às pessoas, o que depois lhes permite ver satisfeitas algumas vontades sem nada ter de pedir. É isso o charme...
O Corvo acha que não devemos apagar as rugas, elas são o preço que pagamos à vida por cada ano que passa.
Contudo, existe aqui um pequeno "senão", uma desvantagem que importa ser contornada pela própria eternidade do tempo. Esta longevidade de que é exemplo o realizador Manoel de Oliveira só fará sentido se for estendida a todos, e não se fique apenas por certas pessoas. Senão alguém terá de mandar o mundo parar, e sair dessa carruagem...
Por uma razão simples: com quem depois conviverá um homem de 100, 110, 115 ou mesmo 120 anos?! Os amigos seus contemporâneos já terão desaparecido, portanto há que estender e democratizar essa longevidade a todas as pessoas, sob pena de se ficar a falar sózinho com o século. E aí chegará o dia do fim, o dia em que o homem de 120 anos só poderá dialogar com os corvos, o que será manifestamente injusto, inumano... Nisto até o Corvo (que é corvo) concorda.
Esta é uma grande revolução a seguir, a da marcha do tempo em que mesmo para aqueles para quem o tempo é precioso - ele nunca deixa de ser contado, porque, ao fim e ao cabo, vivamos 100 ou 150 anos nos próximos tempos, isso não deixa de representar uma gota no oceano que é a própria linha da eternidade do tempo.
Talvez o grande problema, aduz o Corvo, será saber como acomodar um número com três algarismos no B.I.

Corvo inteligente

Pássaro malandro - a destreza do Corvo