A Desilusão de Deus - de Richard Dawkins -
"A Desilusão de Deus" de Richard Dawkins (editora Casa das Letras) não é apenas uma brilhante obra de divulgação científica, a obra de Dawkins é também uma oportuna obra política. Numa época, em que o fundamentalismo religioso voltou a ganhar terreno, em particular através da progressão do islamismo no Médio Oriente e da ascensão ao poder nos EUA de uma das variantes mais fanáticas de protestantismo evangélico, Dawkins interpela-nos com toda a oportunidade sobre os perigos deste manifesto retrocesso civilizacional.
Artigo de Rui Curado Silva, investigador no Departamento de Física da Universidade de Coimbra
Dawkins actualiza a reflexão científica sobre a existência de Deus ao longo de dois capítulos sucessivos onde analisa a hipótese e os argumentos para a existência de Deus. A tendência dos humanos para acreditar em entidades transcendentes ou espirituais é desenvolvida do ponto de vista da evolução da nossa espécie num capítulo dedicado às raízes da religião. Dawkins desmonta a ideia que a moral só pode existir associada à religião. Através de múltiplos exemplos, Dawkins recorda-nos que há mais de dois mil anos que as maiores atrocidades da nossa história têm sido perpetradas em nome de uma miríade de deuses. Dawkins analisa o papel dos regimes laicos na pacificação da sociedade, sem deixar de caracterizar devidamente o estalinismo e o nazismo. Recorda-se o papel da formação seminarista de Estaline e a espiritualidade maniqueísta de Hitler, bem como a sua cumplicidade com o Vaticano. A intolerância religiosa é analisada por Dawkins, referindo-se este em particular à hostilidade das religiões do livro à homossexualidade, ao modo de vida das sociedades mais abertas, à ciência e às religiões minoritárias.
Dawkins oferece-nos ainda uma reflexão brilhante dedicada às dificuldades do cidadão comum em compreender os problemas cuja escala o ultrapassa do ponto de vista espacial e temporal. O muito grande ou muito pequeno, o Universo ou um quark não são conceitos intuitivos tendo em conta as nossas dimensões naturais e o alcance do nosso campo de visão. Um tempo de vida média de um positrão inferior ao nanossegundo ou os milhares de milhões anos da vida de uma estrela dificilmente são assimilados pela maioria dos cidadãos. A incompreensão da base científica associada a fenómenos cuja escala nos transcende é uma recorrente fonte de espiritualismo e de sentimentos religiosos.
Outras passagens interessantes desta obra são o desmontar do Desenho Inteligente, a análise ao niilismo militante contra o darwinismo e a ciência moderna, bem como a descrição de variadíssimas passagens insólitas da Bíblia onde se relatam genocídios, homicídios e abuso de mulheres e crianças em nome de Deus. Dawkins relata com humor os evangelhos de conteúdo mais embaraçoso, aqueles que foram estrategicamente deixados fora da Bíblia pelos últimos compiladores das escrituras, em que se descreve Jesus Cristo em criança a abusar dos seus poderes divinos como se fosse um mágico, ora transformando os seus colegas em cabras ora ajudando o seu pai nos trabalhos de carpintaria aumentando miraculosamente as dimensões das peças de madeira."
Obs: Sem ainda ter lido o livro, confesso subscrever o esquema mental e a teoria geral a que Richard Dawkins chega neste domínio. As religiões são sempre nocivas, levadas ao extremo são mesmo um convite e uma alavanca de morte em nome de um projecto político ou de poderio que a história testemunha ao longo dos séculos. Especialmente, após a Idade Moderna, a Idade da razão, mas também a idade em que as nações, as sociedades e os povos deram à luz os maiores crimes contra a humanidade. Gerando a Idade das trevas, o que é o contrasenso à medida que avançamos na civilização. Então, haverá aqui algo de perverso na utilização das religiões para se cumprirem projectos políticos ou de poderio (regional ou global).
Nesta conformidade, sugerimos a Obama e aos principais líderes políticos da Europa que agarrem numas centenas deste livro de Richard Dawkins e o ofereçam aos líderes dos dois lados em conflito no MO: os israelitas e os palestinianos, que desde 1948 lutam por ter um Estado e ainda não conseguiram.
Quanto às crenças.., elas são importantes, desde que não escravizem os homens e os instrumentalizem para pensamentos, actos ou acções contra-natura e anti-civilização - que já foram interiorizados por milhares de operacionais suicidas dispostos a implodirem para contribuírem para aquilo que julgam ser uma causa nobre e justa. Mas não é...
Richard Dawkins-A Raiz de Todo o Mal-A Delusão de Deus 4/5
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