sábado

O Congresso do PCP no Campo Pequeno: a dialéctica do Ódio

Já se conhece que tipo e modelo de sociedade o comunismo internacional (e em Portugal no decurso do PREC) o PCP preconizava. Se o tivéssemos seguido ainda hoje transitaríamos por caminhos de cabras, como na Albânia.
Ouvir Jerónimo de Sousa 5 min. é um desafio à resistência intelectual de qualquer ser humano, por isso não admira que muitos dos assistentes estivessem a dormitar enquanto Jerónimo debitava a ortodoxia do costume e limpava a gosma no canto da boca. A qual se poderia resumir assim: em cada esquina existe um Champallimaud disposto a tramar os trabalhadores e a penalizar o operariado. Por isso, há que abolir a propriedade privada - que é um roubo (como diria o outro) - e dar-lhe uma orientação mais planificada e dirigista para construir o socialismo e, numa fase ulterior, o comunismo que culminaria com a própria destruição do Estado. Depois viriam os anarquistas...
Mas se Jerónimo quer acabar com o Estado - o desemprego aumentaria, e depois muitos dos assalariados que hoje ainda pagam as quotas ao PCP deixariam de o poder fazer, o que seria mau para a tesouraria do partido. Com a agravante de as velhas fontes de financiamento do comunismo internacional há muito terem desaparecido.
Jerónimo dizia que a crise nacional é anterior à crise internacional. É verdade, mas não apresentou uma única solução racional para conduzir ao equilíbrio social sem perda de competitividade económica. Tanto o PCP como o BE - por serem partidos anti-sistema e por saberem nunca chegar ao poder podem-se prometer o paraíso na Terra, pois nunca terão de governar nada - senão as basófias lidas dos seus próprios - que está a aprisionar a classe operária e o mais conhecido da velha cassete comunista. Se pudessem, obviamente, também dependurariam Sócrates numa vara e plantariam o troféu no Campo Pequeno. E depois diziam, num letreiro em letras garrafais, cá está o nosso Duce...
Jerónimo, carvalhas ou Cunhal - é tudo o mesmo registo, a mesma sopa da pedra. Uma sociedade governada por esta gente implodiria em 6 meses, depois então é que, como dizia a pedagoga desastrada do psd, Ferreira Leite, seria necessário a suspensão da democracia por um semestre para adoptar a Ditadura e, desse modo, implementar as reformas que o País necessita. Enfim, mais uma fraude política...
Nenhum revisionismo, nenhuma adaptação à realidade para fazer face aos desafios e dificuldades do novo tempo, toda aquela verborreia de jerónimo conduz ao ódio social, à prequiça mental, ao acicatar de invejas inter-classistas como se a ex-URSS ainda fosse uma realidade, o muro de Berlim ainda estivesse no ar, com Honecker a dar beijinhos a Leonidas Brejnev - ante toda a Europa de Leste vergada à doutrina da soberania limitada - e os trabalhadores empunhando o seu punho fechado dizendo que a revolução segue dentro de momentos para casa de cada um dos Champallimaud que existe em Portugal.

Seja como for, o PCP tem e deve ser respeitado por que representa muitas pessoas, mas talvez não fosse má ideia que começassem a ser realistas e olhar para a história duma forma menos violenta, com menos goulags nos discursos. Que, de caminho, se democratizassem internamente, que se reformassem, que tornassem o PCP num partido que não fosse retrógrado - e tivessem por referência ideológica o pc Norte-Coreano e Cubano - duas vergonhas totalitárias que ainda se socorrem de métodos totalitários - como forma de regulação social.

Pois são estes, precisamente, os regimes que Jerónimo apoia e elogia publicamente, ora isto é o descrédito completo desta gente. Revela até uma estupidez política inqualificável, reveladora de que nem a dinâmica histórica das últimas décadas perceberam.

Numa palavra: Portugal não é a Sibéria, aqui não se elogiam ditadores que são ao mesmo tempo criminosos promovidos a homens de Estado, de que Kim Jong II - representa um ser execrável. Castro, por seu lado, já deve anos à terra, o que nos faz supor que Deus é demasiado misericordioso. Até porque milhares de cubanos só serão livres com a própria morte de Fidel, momento a partir do qual o regime se terá de reformar e democratizar. Por enquanto, o regime está nas mãos do idiota do seu irmão e de mais meia dúzia de militares parasitas do Estado.

Enfim, ouvir Jerónimo é ouvir a cassete velhinha e riscada do PCP, que já passou de mão em mão pelos seus antecessores. Só muda a cor do papel e a capa do discurso. É perceber que o PCP tem uma memória selectiva, escolhe a parte da história que lhe interessa e esquece aquela outra parte que o compromete dos pés à cabeça. É o sectarismo habitual, adensado sem nenhuma renovação ou promessa de democratização interna que poderia fazer a diferença na esquerda em Portugal. E até reforçar as condições de governabilidade em conjunturas altamente complexas como a que vivemos. Mas o PCP quer é sague nas ruas, contestação social na 5 de Outubro é o que mais lhe convém.. Vivem da crise e para crise, quais "vampiros" do sistema político nacional.

A renovação para esta gente passa só por uma coisa com a qual teremos de viver: destruir o capitalismo (tarefa impossível) - que obviamente precisa de ser regulado e humanizado.

O PCP - escolheu o Campo Pequeno para debitar o seu discurso do ódio em Portugal, embora creia que aquela praça de touros tenha uma outra finalidade - cujas raízes e tradições são de respeitar aos amantes da tauromaquia que aqui não se deveriam misturar com as relíquias do partido comunista mais retrógrado do mundo.

Lamentavelmente, Luís Sá partiu cedo, na flôr da idade, mas era ele que representava a esperança e a renovação do PCP em Portugal, por isso lhe deixamos aqui este breve nota de evocação. Que descanse em paz, onde quer que esteja...