quarta-feira

Barack Obama ganhou porque tinha de ganhar. Ele é o séc. XXI. É um "Shaper" e um "Adapter"

Obama-Hiraly Clinton
Barack Obama é um "Shaper" e um "Adapter", um arquitecto do pensamento com uma cultura juridica, política e histórica temperada por uma lógica discursiva verdadeiramente excepcionais. Senhor dum intelecto de 1ª água - o resultado só poderia ser uma campanha disciplinada, tolerante e, ao mesmo tempo, inovadora e muito centrada nos pontos essenciais que hoje preocupam a América e o mundo: as questões económicas e sociais.
Mais novo, mais estimulante, portador da mensagem de mudança, com um programa abrangente e favorável às questões económicas e sociais dos mais dsfavorecidos - Obama - que tem um carisma à Martin Luther King - só poderia "limpar" estas eleições na América - de crise moral e povoada de problemas económicos cujo défice foi, em boa parte, causado por guerras no Médio e extremo Oriente que seriam evitáveis. O Iraque e o Afeganistão são um sorvedouro de impostos dos norte-americanos - quando estes, hoje, nem dinheiro têm para pagar as prestações das casas ao banco.
Por outro lado, Obama tem mais vocação para juntar empresas, governos, capital, informação e consumidores de todo o mundo em torno da resolução dos grandes problemas contemporâneos. Ou seja, tem a matriz do funcionamento em rede na cabeça. Sabe criar coligações, sabe criar valor-político podendo, com isso, criar valor-geopolítico que ajudará, no futuro próximo, a América e o mundo a saírem do atoleiro em que mergulharam.
É assim no quadro das Relações Internacionais - com os chamados países-problema: Cuba, Coreia do Norte, Irão, Afeganistão e todo um conjunto de países que olha para os EUA como o alvo a abater por ser a República Imperial que nos últimos 50 anos se apoderaram duma larga fatia do mundo. Ou para o ocupar militarmente e obter aí um crédito geopolítico, ou para o explorar económicamente.
Como Barack Obama reúne estas características (de Shaper e Adapter), mais do que qualquer outro, seria natural que o povo americano reconhecesse essa valia nas urnas dando-lhe a maioria dos votos. Era previsível. Obama, é, pois, um shaper - porque consegue modelar níveis de entendimento entre países, empresas, organizações e pessoas, definindo um quadro de normas para regular essas relações. Relações que nuns casos assentarão na regulação de poder global, noutros caso no lucro das empresas e noutros ainda no plano do respeito e promoção dos direitos humanos, mandando para o caixote-do-lixo da história as práticas mlitaristas e coercivas de W. (que sai da Casa Branca como um "cão" atropelado e esmagado empurrado para a valeta e de quem hoje todos se afastam). A política é assim: quem com ferros mata, com ferros esfola...
Embora em certos casos, porque os terroristas e o crime em larga escala existem, muita coisa se mantenha, ainda que guiada por outros métodos de actuação.
Portanto, Obama é o homem do séc. XXI de que a América e o mundo precisavam. Ele é capaz de moldar os outros e, ao mesmo tempo, adaptar-se aos outros. Assim, todos ficam com a noção de que mandam no mundo, todos ganham e todos ficarão beneficiados e prestigiados nas questões da guerra e da paz e da economia e dos direitos humanos.
Além do mais, o slogan brilhante para campanha - Yes, we can - traduz fielmente a ideia de que Obama quer o poder para o partilhar, para lhe dar o melhor uso possível. Traduz a ideia do superempowered - transferindo para o quadro da responsabilidade social (visto que a sociedade civil na América é poderosa, e esta foi, talvez, a 1ª grande lição de Alexis de Tocqueville) - com base na qual se formarão novos valores, normas e regras que aplicarão um novo standard a este mundo sem fronteiras.
Numa palavra, a autoridade e influência de Obama serão superiores ao seu poder efectivo. Ele tem, doravante, a capacidade de dizer ao mundo que a Sala Oval tem um homem tão inteligente quanto sensível à sua frente. E isso pode implicar ter de conversar com o ditador Castro, sem agenda fixa definida. Pode implicar a aceleração da retirada do Iraque e a pacificação da região através da intervenção de outros players na região. Em vez da América ser o polícia do mundo, ela será mais o "polícia" da economia e da regulação financeira dos mercados que falhou na última década - e que quase conduziu a sociedade americana ao colapso.
Obama ganhou porque representa a antítese desse colapso, além de se afigurar um homem providencial com um carisma tremendo. Veremos, doravante, se a bota bate com a perdigota - e a praxis emergente encaixa com a lógica discursiva que já conhecemos do Homem.
É que bem ou mal, a América não é só dos americanos, ela, por tudo quanto representa, também pertence ao mundo no plano dos valores e das referências.
Obama Music Video-Something About The Man/Yes
Yes We Can - Barack Obama Music Video