terça-feira

O peso do mercado

O mercado foi uma criação do Estado, de resto a emissão de moeda está a seu cargo. Naturalmente, depois o mercado(s) evoluíu e ganhou uma dinâmica própria, a ponto de hoje o próprio sistema internacional (leia-se, o conjunto dos Estados que integra o sistema) não ter (mais) mão nele. Esta autonomia caprichosa dos mercados levou a que o mundo inteiro ficasse prisioneiro dos fluxos financeiros que perpassam pelo mercado global e que, de par com esse outro pilar que é a opinião pública de cada país (e, por maioria de razão, a opinião pública internacional, que é mais do que a soma das opiniões públicas nacionais) - se vira contra a sociedade e o país como um todo.
Ou seja, é aqui que batemos no fundo e percebemos que o mercado é (ou pode ser) um grande inimigo da "sociedade aberta" - quando, à partida, devia libertar as energias da sociedade. E em muitos casos liberta, mas também a aprisiona noutros tantos.
Então, da mesma forma que a opinião pública se tornou rainha no seio de cada país, a opinião pública internacional também se densificou, e a sua vigilância transforma-se em poder-sanção, não por via dos discursos nem das moções, mas mais brutalmente através da desconfiança dos próprios mercados financeiros que rapidamente convertem em desvalorização a moeda e aumentam as taxas de juro - tudo com base numa determinada inquietação colectiva difusa.
Os mercados, vistos como os melhores dos amigos da sociedade, são hoje, em certas circunstâncias a operar em contexto de globalização predatória, os vectores que mais rapidamente atacam as virtudes democráticas. E aqui nem o desactualizado Adam Smith - que era "maneta" (como se tem visto..) nem a sua versão mais sofisticada do séc. XX - F. Hayek - escapam ao paradoxo em que as suas próprias teorias e sistemas de pensamento caíram e estão a ser esmagados pelos acontecimentos ocorridos na economia global neste 1º quartel do séc. XXI.
Ou seja, este é um paradoxo terrível dos tempos - que funciona mais como passivo do que como activo da teoria do mercado liberal que fez carreira durante muito tempo nas sociedades contemporâneas.
Numa palavra: repense-se o mercado.