terça-feira

Miguel Cadilhe tem jeito para o teatro

Fizémos em 4 anos aquilo que outros não fizeram... Perdão em 4 meses...
Cadilhe é um senhor, aprendeu a comunicar, é um bom economista, entrou em ruptura com Cavaco quando lhe disse que ele alimentou o "monstro" (da dívida do Estado, claro), integrou o BPN com uma vontade séria de o sanear, mas os buracos eram tantos e tão graves que aquele engano prévio (ao misturar propositadamente 4 anos com 4 meses - por estratégia de comunicação e criar logo alí um expediente de natureza comunicacional) não bastaram.
Depois atirou-se - num estilo diplomático (como convinha nesta fase de vulnerabilidade) a Vitor Constâncio (BdP) e a Teixeira dos Santos (Estado) - considerando a nacionalização (por salvação) do BPN como um acto desproporcionado que afecta a democracia, encarando, portanto, esta questão como um tema eminentemente político.
De facto, é um tema político, infelizmente a gestão (corrupta) de Oliveira e Costa, que deve ser inquirido pela Justiça deste País, foi ruinosa e prefigura graves ilícitos que devem suscitar a atenção das entidades reguladoras e dos tribunais nacionais. O próprio Ricardo Costa e José Gomes Ferreira, na Sic - reafirmaram essa perspectiva, de resto conhecida até pelos porteiros do banco.
Mas Cadilhe tem que perceber uma coisa, apesar de ter alguma razão relativamente à inércia de Vitor Constância (que parece estar no BdP a limar as unhas e a limpar o pó aos móveis da instituição e, claro, a cuidar dos salários dos administradores e da sua choruda reforma) é que se o BPN se converteu numa questão política foi porque a capacidade de gestão instalada nos gabinetes do bpn foi gananciosa e, alegadamente, terá incorrido em ilícitos através de operações financeiras virtuais (e não registadas) e, agora, Cadilhe não conseguiu sanear a instituição que se confrontou com uma cratera de 700 milhões de euros.
Portanto, o sr. Cadilhe deveria deixar-se de tretas, guardar as suas velhas inimizades com Vitor Constâncio, mais parecem dois galos na mesma capoeira (a ver quem daria o melhor governador do BdP, pois sabe-se que Cadilhe também desejaria ser o sr. Governador do BdP) e perceber que ainda bem que existe um Estado democrático com uma noção concreta do bem comum de que falava Aristóteles (que quer Cadilhe quer Constâncio já devem ter ouvido falar) para arrumar a casa, sanear o banco e re-tranquilizar os clientes e o mercado, sob pena de ocorrer um efeito de contágio que seria verdadeiramente pernicioso para o sistema financeiro nacional e para a economia real.
Contudo, ressalta um aspecto: esta nacionalização do Estado sobre o BPN não deve servir para tapar o sol com a peneira. Ou seja, não é pelo facto de o Estado intervir que as entidades competentes se devem retirar. Isso seria mais um favor ao sr. Oliveira e Costa - que não merece o favor de ninguém. Antes pelo contrário... São estas ervas daninhas é que escavacam a democracia e esbulham os cidadãos.
Em suma: Cadilhe tem alguma razão quando critica a inércia e irresponsabilidade do BdP (que deveria ter sido mais pro-activo), mas já não a tem quando se reporta ao Estado - que está em melhores condições de garantir o bem comum, muito superior aos interesses gulosos de meia dúzia de accionistas ávaros.
Portanto, diria ao sr. Cadilhe (só para o corrigir!!!) - que fez aquela gracinha comunicacional (misturando os 4 anos com os 4 meses) para que a sua comunicação tivesse mais impacto na opinião pública, que muita da gestão anterior - cujo responsável máximo é Oliveira e Costa (que anda sempre em movimento, parece um agente duplo ao tempo da Guerra Fria), ex-secretário de Estado dos Assuntos fiscais de Cavaco, é, mais do que um assunto político e de democracia, um problema de tribunais.