segunda-feira

Sócrates: "Não escondo que vivemos tempos difíceis

Sócrates: "Não escondo que vivemos tempos difíceis", in JN

Discurso crítico do presidente da República foi bem recebido pelo primeiro-ministro

ISABEL TEIXEIRA DA MOTA

"Quando a realidade se impõe como uma evidência não há forma de a contornar". Foi o recado de Cavaco Silva à classe política para que "não iluda"os "tempos difíceis". José Sócrates afirmou ter gostado das palavras do presidente da República.

O primeiro-ministro viu no discurso do chefe de Estado nas comemorações oficiais da revolução republicana uma "consonância perfeita" com a actuação do Governo. Sobretudo "o apelo à mobilização dos portugueses" feito por Cavaco.

Sem comentar as referências do presidente aos "tempos difíceis", Sócrates destacou que "as dificuldades do presente se resolvem com acção e ambição e não com o baixar dos braços".

Os dois participaram nas cerimónias de evocação da implantação da República que decorreram, ontem, ao fim da manhã, na Praça do Município, em Lisboa, nas quais o presidente da autarquia, António Costa, discursou.

A começar a mensagem, Cavaco fez um retrato da situação do país: "Muitas famílias têm dificuldade em pagar os empréstimos que contraíram para comprar as suas casas. Há idosos para quem a reforma mal chega para as despesas essenciais. Há jovens que buscam ansiosamente o seu primeiro emprego. Há homens e mulheres que perderam os seus postos de trabalho".

Em seguida, deixou o recado: "O que é vivido pelos cidadãos não pode ser iludido pelos agentes políticos. Quando a realidade se impõe como uma evidência, não há forma de a contornar".

O diagnóstico da situação económica, não sendo novo, foi pessimista: "Portugal tem registado fracos índices de crescimento económico. Afastámo-nos dos níveis de prosperidade e de bem-estar dos nossos parceiros europeus. Ainda não invertemos a insustentável tendência do endividamento externo". Por outro lado, disse, "nascem novas formas de pobreza e exclusão social, e, em paralelo, emergem chocantes disparidades de rendimentos".

Com o primeiro-ministro a ouvir, Cavaco afirmou também que os portugueses "têm o direito a esperar do Estado que faça bem o que lhe compete fazer. Que seja rigoroso e ponderado no uso dos dinheiros públicos e que os impostos sejam justos e razoáveis".

O presidente terá em mente o pacote de volumosos investimentos públicos que o Governo tenciona fazer nos próximos anos, nomeadamente o comboio de alta velocidade e a rede de estradas, e que o PSD tem vindo a contestar.

Por outro lado, Cavaco estará a apelar a uma revisão ponderada dos impostos na discussão do próximo Orçamento do Estado.

Presente na cerimónia, a líder do PSD não quis comentar o discurso de Cavaco. Ao contrário de Manuela Ferreira Leite, o líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, comentou, criticando o tom pouco crítico para a Direita: "O presidente da República não responsabilizou as políticas de direita pela situação que actualmente vivemos".

Em sentido diametralmente oposto, o deputado e dirigente do CDS-PP António Carlos Monteiro sustentou que o chefe de Estado "fez um discurso muito importante, sobretudo no apelo que fez ao realismo". "Não adianta pintar a realidade do país de cor-de-rosa", disse.

Já a deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto considerou que o presidente da República "podia e devia ter ido mais longe nas críticas ao Governo porque estes problemas não estão desligados do Governo".

Obs: O dia da implantação da República é uma ocasião excelente para falar nos problemas que tolhem o País e descalssificam os portugueses. Estamos todos no mesmos barco, ainda que uns consigam remar um pouco melhor do que outros, como em todas as sociedades e em todos os países.
Fiquei convencido de que, doravante, Cavaco irá arregaçar as mangas, o PM irá governar mais e melhor, os empresários passarão a ser menos subsidiodependentes e mais empreendedores gerando riqueza e emprego, os trabalhadores, por seu turno, passarão a ser mais produtivos e competitivos - e a sociedade no seu conjunto será mais oleada na geração de capital-social essencial à modernização e ao desenvolvimento económico do País.
Por esta via até os sindicatos passarão a ser mais responsaveis e menos caciqueiros.
Portugal, afinal, apesar dos problemas, vai no bom sentido. Falta fazer aquilo que se disse ir fazer.