António Borges - horizontal. O vice-da-Lapa. O resiliente da história
Quando me perguntam o que sou politicamente respondo: um liberal com preocupações sociais. Parece uma resposta meio cínica e até algo oportunista, mas não é. Ela socorre-se do misto de mercado e do Estado, por vezes mais Estado, quando a conjuntura aconselha, entra mais Estado, noutras vezes, o Estado retrai-se e entra mais mercado. Este mix é eficaz sempre que a coesão social das populações aumenta e os demais indicadores sociais estabilizam numa dada sociedade que assim não conhece clivagens nem dualidades graves. Dito isto, como diz o outro das missas de Domingo, cabe sublinhar que diáriamente assistimos ao fiasco do ultraliberalismo, enquanto sistema ideológico assente no dogma (ou na ilusão!!!) de que o mercado de Adam Smith assegura o óptimo de Vilfredo Pareto, a auto-regulação se impõe sem traumas sociais e il mondo va de si, no melhor dos mundos possíveis. De facto, se é assim na literatura económica neoliberal, as economias reais confrontam-se com outras realidades, feita de tubarões a mastigar bogas, a deslocalização das multinacionais da globalização predatória, com alguns sindicatos a serem mais papistas do que o papa, etc. No fundo, esta crise do subprime veio demonstrar à saciedade que o mercado revelou a sua genética incapacidade de se gerir a si próprio, de controlar as forças que desencadeia, de dominar os desequilíbrios que estimula. Tudo isso junto fabricou o tal capitalismo de casino, profundamente especulativo, improdutivo, virtual, daquele que o Louçã gosta de teorizar, e depois teoriza tanto que as suas palavras acerca desta crise financeira acabam por ter um efeito assassino na economia nacional, posto que empurra as pessoas para o pânico levando-as as irem a correr levantar os seus depósitos para os depositar sabe-se lá onde... Talvez numa conta do BE para ministrar cursos de formação política que sejam menos idiotas e demopopulistas, como o registo em que Louçã tem feito as suas actuações no circo mediático que monta em seu redor. Se o Estado se comportasse como Ferreira leite, a ermita da Lapa que fez os seus votos de castidade, i.é, se ficasse em casa a fazer o tal bacalhau espiritual e a dar a chucha ao netinho, esse mesmo Leviatão - como ensinara Thomas Hobbes no séc. XVII - acabaria por ser o maior dos cobardes, um carrasco das sociedades, pois no momento mais premente seria quando o Estado lavaria as suas mãos como Pilatos. Felizmente, as coisas em Portugal assumiram outro rumo, as populações podem dormir mais descansadas, e o efeito de boomerang sentir-se-á é na cara daqueles teóricos da treta, como António Borges, que tem doutoramentos que não servem para compreender a realidade complexa superveniente, e hoje andam por aí, resilientes, ostentando a sua armadura pseudo-científica e defendendo o indefensável, na expectativa de que a realidade mude, os factos se alterem - só para eles terem razão. Borges, Ferreira leite, Pacheco Pereira e tutti quanti são hoje esses órfãos de mercado neoliberal que os promoveu para depois os cilindrar, mastigar e cuspir pela porta do cavalo das práticas eceonómicas e que a nova teoria da história hoje explica noutros moldes - e cujos alicerces eles ainda não entenderam. E enquanto se mostram resilientes na sua estupidez doutrinal e económica acerca dos contornos do mundo contemporâneo - todos, até os leigos em economia & finanças - (como se diz Marcelo, que na sua missa domingueira até reconheceu saber menos da arte da "gestão de crises" do que Leite - que só sabe de bacalhau espiritual) percebem que o seu papel na vida não é contribuir para matar a crise, mas antes engordá-la. E isto, óbviamente, tendo em conta o bem comum que falava Aristóteles, é inaceitável.
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