Sócrates critica oposição e Baptista Bastos acha que Ferreira leite é um "frigorífico".
Baptista-Bastos escritor e jornalista
Além de nada dizer que sobressaltasse as almas, a senhora é desprovida de convicções, de paixão, de fulgor, de compromisso vital, de empatia, de simpatia e de persuasão. Também escutei, nas rádios com "antena aberta", as opiniões de portugueses. Vinte e quatro horas após o sinédrio de Castelo de Vide, as pessoas ainda estremeciam de assombro. Digamos que 98 por cento dos intervenientes reduziram a subnitrato a fúnebre oração. Não creio que todos os radiouvintes discordantes fossem comunistas, como acusou, severo e cruel, um participante, que se confessou admirador de Salazar e de Portas. Este hábito de se etiquetar de comunista todo aquele que desacorde é outra singularidade da nossa escassez de convivência cultural. E resulta na hirsuta confusão que habita na cabeça daquele pobre sujeito.
Se o discurso de Manuela Ferreira Leite foi uma pungente manifestação da astenia por que passa o PSD, a intervenção de Jerónimo de Sousa, na Festa do Avante!, embora excessivamente longa e repetitiva, não deixou de reflectir a imagem de um homem convicto, impulsionado pela razão que lhe assiste, por discutível que seja, marcado pelo fogo de um entusiasmo que tem muito a ver com o desejo, e empolgado pela ideia de um pensamento optimista. Goste-se ou não. Esteja-se ou não de acordo.
Manuela Ferreira Leite é, em todos os aspectos, e com perdão da palavra, um frigorífico. Com outro revés: não possui nenhuma ideia nova, não apresenta nenhum projecto, não expressa nenhuma característica de mudança. O que poderia suscitar um curioso estudo das anti-relações linguísticas e ideológicas entre as duas identidades políticas perdeu-se nessa espécie de crise da razão que percorre a sociedade portuguesa em geral - e que existe entre o insulto soez e a ignorância crassa.
Devo dizer que me não congratulo. O esvaziamento, cada vez mais acentuado, das variantes clássicas debilita as possibilidades do jogo democrático. E o cenário fixo de um partido sem antagonista, perpetuado no poder por inexistência de repertórios opostos, com encenações negociadas consoante as situações - vai corroendo, letalmente, o regime. E atinge todos os partidos. Todos.
Obs: Sócrates entende que a oposição em Portugal, mormente, o PSD - é medíocre e maledicente. Infelizmente, é verdade. O escritor Baptista Bastos, pelo seu lado, acha que Ferreira Leite, além dum bocejo chato - é um frigorífico.
Ora, Portugal sendo um país belo, com um sol e paisagens aprazíveis - combina mal com a frieza do frigorífico e com a maledicência da governanta que ocupa provisóriamente as instalações da Lapa.
No fundo, como temos defendido aqui e junto de amigos, a oposição em Portugal resume-se a uma troika de pólos: o pcp, o be e, claro, ao pasquim da sonae - sobretudo através daquelas manchetes aberrantes, em que a escolha da imagens não acerta com as narrativas, estas não atinam com o sentido estético. Nada bate com nada. Muitos de nós somos até levados a pensar que quem faz aquilo é um bando de loucos que acordou após ter sofrido os efeitos do furacão Gustavo.
Numa palavra: Portugal não tem oposição, o que é mau para o país e para os portugueses - que assim se vê privado de audição e comparação de múltiplas políticas públicas que poderiam servir de contraponto ao poder.
Além da mediocridade e do frigorífico - some-se a vacuidade intelectual e política que há muito demandou este PSD. E parece que é como o Toyota, como se dizia nas décadas de 70/80...
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