quinta-feira

Sócrates critica oposição e Baptista Bastos acha que Ferreira leite é um "frigorífico".

Manuel de Almeida/Lusa
O primeiro-ministro, José Sócrates, apontou esta segunda-feira o dedo aos líderes da oposição, acusando-os de lançaram apenas críticas e não apresentarem políticas alternativas.
“O que não dá credibilidade à política é o discurso do negativismo, da maldicência, do pessimismo, do ‘bota-abaixo’, e do nada é possível fazer no nosso país. Esse é um discurso medíocre, que nada tem a oferecer ao país e que só convida à desistência e ao conformismo”, afirmou o Chefe de Governo, numa clara alusão ao discurso de rentrée da líder do PSD, Manuela Ferreira Leite.
No encerramento da Universidade de Verão, a presidente dos sociais-democratas fez duras críticas ao Executivo socialista, acusando-o de ter uma “máquina manipuladora” e de ter falhado “perigosamente no âmbito da segurança interna”, entre outras críticas.
“Queremos procurar o que há de mais nobre na política: as melhores ideias, os melhores projectos para servirmos os nossos compatriotas e o país. Queremos humildemente fazer melhor, procurando soluções, que credibilizem a política e dêem confiança ao país”, declarou Sócrates, no final do lançamento da Fundação República, que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
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Baptista Bastos
NÃO HÁ DISCURSOS GRÁTIS , in DN
Baptista-Bastos escritor e jornalista

Arfante de expectativa, a pátria aguardava o discurso de Manuela Ferreira Leite. Não a pátria toda. Contrariando a gravidade que o momento reclamava, o Público, embora pouco propenso à ironia, fez uma manchete com agudo e jocoso sentido: "No discurso da rentrée, parte do PSD foi ver aviões." É um comentário demolidor. Não sei se justo. Lamentavelmente não fui convidado a assistir às instrutivas sessões da Universidade de Verão. Mas, se o título não é justo, lá que parece, parece. Pelo que assisti, nas televisões, a intervenção da presidente do PSD foi uma bocejante chatice.

Além de nada dizer que sobressaltasse as almas, a senhora é desprovida de convicções, de paixão, de fulgor, de compromisso vital, de empatia, de simpatia e de persuasão. Também escutei, nas rádios com "antena aberta", as opiniões de portugueses. Vinte e quatro horas após o sinédrio de Castelo de Vide, as pessoas ainda estremeciam de assombro. Digamos que 98 por cento dos intervenientes reduziram a subnitrato a fúnebre oração. Não creio que todos os radiouvintes discordantes fossem comunistas, como acusou, severo e cruel, um participante, que se confessou admirador de Salazar e de Portas. Este hábito de se etiquetar de comunista todo aquele que desacorde é outra singularidade da nossa escassez de convivência cultural. E resulta na hirsuta confusão que habita na cabeça daquele pobre sujeito.

Se o discurso de Manuela Ferreira Leite foi uma pungente manifestação da astenia por que passa o PSD, a intervenção de Jerónimo de Sousa, na Festa do Avante!, embora excessivamente longa e repetitiva, não deixou de reflectir a imagem de um homem convicto, impulsionado pela razão que lhe assiste, por discutível que seja, marcado pelo fogo de um entusiasmo que tem muito a ver com o desejo, e empolgado pela ideia de um pensamento optimista. Goste-se ou não. Esteja-se ou não de acordo.

Manuela Ferreira Leite é, em todos os aspectos, e com perdão da palavra, um frigorífico. Com outro revés: não possui nenhuma ideia nova, não apresenta nenhum projecto, não expressa nenhuma característica de mudança. O que poderia suscitar um curioso estudo das anti-relações linguísticas e ideológicas entre as duas identidades políticas perdeu-se nessa espécie de crise da razão que percorre a sociedade portuguesa em geral - e que existe entre o insulto soez e a ignorância crassa.

Devo dizer que me não congratulo. O esvaziamento, cada vez mais acentuado, das variantes clássicas debilita as possibilidades do jogo democrático. E o cenário fixo de um partido sem antagonista, perpetuado no poder por inexistência de repertórios opostos, com encenações negociadas consoante as situações - vai corroendo, letalmente, o regime. E atinge todos os partidos. Todos.

Obs: Sócrates entende que a oposição em Portugal, mormente, o PSD - é medíocre e maledicente. Infelizmente, é verdade. O escritor Baptista Bastos, pelo seu lado, acha que Ferreira Leite, além dum bocejo chato - é um frigorífico.

Ora, Portugal sendo um país belo, com um sol e paisagens aprazíveis - combina mal com a frieza do frigorífico e com a maledicência da governanta que ocupa provisóriamente as instalações da Lapa.

No fundo, como temos defendido aqui e junto de amigos, a oposição em Portugal resume-se a uma troika de pólos: o pcp, o be e, claro, ao pasquim da sonae - sobretudo através daquelas manchetes aberrantes, em que a escolha da imagens não acerta com as narrativas, estas não atinam com o sentido estético. Nada bate com nada. Muitos de nós somos até levados a pensar que quem faz aquilo é um bando de loucos que acordou após ter sofrido os efeitos do furacão Gustavo.

Numa palavra: Portugal não tem oposição, o que é mau para o país e para os portugueses - que assim se vê privado de audição e comparação de múltiplas políticas públicas que poderiam servir de contraponto ao poder.

Além da mediocridade e do frigorífico - some-se a vacuidade intelectual e política que há muito demandou este PSD. E parece que é como o Toyota, como se dizia nas décadas de 70/80...