Rock in Rio: um "estádio da Luz" na Bela Vista. Paulo Gonzo mostrou ser um Senhor, again...
Felizmente que a música é uma arte (a)figurativa e, de uma maneira geral, a-representativa. Isso a tem preservado da desgraça, se atendermos - por exemplo - à prestação de Amy em palco. Em maior grau do que a literatura e as artes plásticas, facto que a tem preservado de ser presa fácil de psicanalistas. Seja como for, é excepcionalmente difícil encontrar uma fórmula musical nova - sobretudo na componente melódica - que projecte uma música no espaço público sobre as milhões de músicas já criadas, e talvez seja isso que faz da música a sua mais misteriosa faceta e uma das mais misteriosas artes. Ou seja, o mistério da música - enquanto tal - refere unicamente o aspecto, na verdade surpreendente, de uma arte que é capaz de dizer as coisas mais belas e de edificar as mais sumptuosas construções servindo-se de uma matéria tão súbtil e imponderável como é o som. Mas ele torna-se pouco simpático quando ele pretende significar qualquer transcendência de ordem esotérica, ou, pior do que isso: inculcar a impensabilidade, a não-racionalidade da música, dando nela o primado à pura inspiração, concebendo-a, enfim, exclusiva e essencialmente como arte do sentimento. Outra das vantagens que a música proporciona é uma dinamia mental, uma arte e um prazer do movimento que nos põe todos os elementos sensoriais a funcionar, e isso não deixa de ser também um desafio para o intelecto - que para sustentar o ritmo terá de alimentar esse complexo de sensações do espírito com traduções visíveis no corpo.
E isto tanto é válido para os allegros de Bach e de Mozart como para as bebedeiras amadoras da srª Amy Winehouse - que parece só cantar bem via Youtube, quando sai de lá não conhece o significado da palavra - sóbria.
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